Os melhores álbuns de 2018

Os melhores álbuns de 2018

Álbuns escolhidos pelos críticos do Plano Aberto

Redação - 25 de dezembro de 2018

Ouvimos música pra tudo: malhar, estudar, dançar, paquerar, transar… o que pouca gente ainda faz é ouvir música apenas por ouvir. “Não dá tempo”, você deve estar pensando enquanto lê isso. Mas e para os melhores álbuns do ano, será que dá tempo?

Os críticos Mario Martins, Yasmine Evaristo, Nathan Amaral e Matheus Fiore encontraram tempo e ouviram bastante música esse ano. A lista a seguir está em ordem meramente alfabética. Se você sente no coração que ficou faltando alguma coisa, dê um alô nos comentários!

Deus é Mulher – Elza Soares

A faixa inicial de Deus é Mulher traz os dizeres “minha voz uso pra dizer o que se cala”. Elza Soares aproximou-se de um público mais jovem e politizado desde que assumiu uma estética mais alternativa, que pode ser observada desde o lançamento de A Mulher do Fim do Mundo em 2015, na qual a militância ganha um tom mais explícito e atual, somado a instrumentais mais experimentais. O som se aproxima com o de bandas urbanas contemporâneas como o Metá Metá.

Na obra lançada esse ano mantém-se a qualidade, o padrão e as diversas sensações que Elza continua conseguindo carregar com sua voz. Há faixas dedicadas para a ascensão do neo fascismo, escola sem partido, a liberdade sexual da mulher, uma metáfora entre hienas e políticos e sem falar no título do álbum, que afronta a visão religiosa da figura masculina como entidade suprema.

 

Prequelle – Ghost

Não se sabe até quando vão subestimar o Ghost, mas o álbum Prequelle só fortalece o argumento de que a banda conquista mais espaço no gênero do metal. Talvez o fato da voz de Tobias Forge ter uma sonoridade mais melódica do que agressiva tenha distanciado o grupo sueco de outros artistas do atual cenário, mas aqui ela cumpre a função de ponte entre esse metal lúdico que eles vem construindo.

Parecendo enriquecer mais o seu instrumental -que sempre se mostrou ser brilhante- o Ghost aqui demonstra um interesse em conquistar um espaço mais imaginativo, quase visual com o seu som. À medida que o uso de órgãos nos remetem para a questão sacra presente no conteúdo visual da banda, o repertório de instrumentos cresce e, junto com ele, as possibilidades sonoras. Prequelle consegue soar experimental, autêntico, bruto e medieval.

 

Bluesman – Baco Exu do Blues  

Com a voz dos oprimidos, no lugar de gaitas e guitarras, o rapper Baco Exú do Blues lançou Bluesman álbum no qual ele exalta a cultura afro-descendente, mas também aponta as dores sofridas por essa parcela da população.

O baiano Diogo Moncorvo canta, em 9 faixas, a dor das pessoas comuns – negros, mulheres e gays, como ele mesmo cita – em sua jornada cotidiana. É um álbum sobre saúde mental e tudo que pode abalá-la. Faixas como “Me Desculpa Jay Z” permitem que o ouvinte pare e pense na necessidade do autoconhecimento e do autocuidado em tempos tão violentos e desgastantes.

Baco consegue em 30 minutos dar uma aula sobre a história da resiliência das minorias.

 

Negro Swan – Blood Orange

“Sua pele é uma bandeira que brilha para todos nós.”

O sexto álbum do projeto de Devonté Hynes brilha em um ano onde R&B, rap e trap se consolidaram como o puro mainstream da música e da cultura pop. O ouvinte, em uma sessão despreocupada e sem a atenção devida aos pequenos detalhes que constroem a estrutura sônica do disco pode achar esse um sucessor fraco para Freetown Sound (2016) esse é um disco mais suave, que em momentos nos lembra de Daniel Caesar à Prince.

Ao se concentrar, não somente no que é sonoro mas no que é dito, há uma recompensa inexplicável: Negro Swan é um monumento sobre sexualidade, gênero e cor. É uma junção celestial das retóricas de To Pimp a Butterfly No Shape: o poder artístico, sentimental e emocional de cada recorte humano que toca. O voo do Cisne Negro de Devonté Hynes é a pura beleza da subversão.

 

Ok Ok Ok – Gilberto Gil

Em Ok Ok Ok, Gilberto Gil consegue soar introspectivo, ao mesmo tempo que rebusca todos os sentimentos cantados para a realidade. A beleza das letras precisa ser destacada aqui, desde já recomendando a apreciação das faixas “Jacintho”e “Lia e Deia”. O álbum carrega um peso existencial, de modo que nos faz atribuir desde uma leitura a vida pessoal do compositor até questões mais amplas da sociedade, atribuindo um teor reflexivo para a obra.

Participações especiais como as de Yamandu Costa, que ganhou uma música com seu nome e de João Donato enriquecem de forma espontânea o álbum. Um de forma literária, o outro de forma sonora, seja com as cordas ou com as palavras, Gil ainda consegue, após mais de cinco décadas de carreira, fazer um lançamento empolgante, bem produzido e marcante. Para relaxar, pensar, apreciar e se inspirar, Ok Ok Ok é um trabalho sereno.

 

Oxnard – Anderson Paak

A essa altura, já não é surpresa para ninguém que acompanha as tendências da música que Anderson Paak é um dos artistas mais versáteis do cenário mundial. O raper, produtor e multiinstrumentista americano alcançou grande sucesso com seu álbum anterior, Malibu, que lhe rendeu um Grammy de artista revelação.

Agora, com Oxnard, Paak mantém sua variação de gêneros e conceitos em um álbum ainda mais maduro e diversificado. Faixas como “The Chase” deixam nítido o poder de amarrar tantas variações em canções curtas e diretas, trazendo em uma música de apenas três minutos, elementos de funk, rap, soul, rock progressivo e jazz. O grande diferencial de Paak, porém, não é apenas essa diversificação, e sim a capacidade de manter sua personalidade em todas essas faixas, mesmo as que trazem participações de artistas grandiosos, como Kendrick Lamar.

 

Peace – Graveyard

Após um curto hiato, os suecos do Graveyard estão de volta com seu quinto e mais direto álbum, Peace. A banda já vinha sinalizando uma mudança para um som mais cru e focado no stoner desde seu trabalho anterior, Innocence & Decadence. Dessa vez, porém, essa transição é ainda mais direta, visto que o blues, elemento que foi muito presente do primeiro ao quarto disco, aqui praticamente inexiste.

Para quem procura pelo som mais saudosista com gostinho de anos 70 de trabalhos como o Hisingen Blues, certamente Peace vai decepcionar. Em uma ouvida mais atenta, porém, é nítido um amadurecimento da banda. O som mais direto, mais baseado em riffs potentes e uma melodia mais harmônica com o conjunto total, é um sucesso. Mesmo que afastado das próprias raízes blueseiras, o Graveyard consegue, mais uma vez, entregar um belo trabalho.

 

 

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