13 Reasons Why é, desde o seu primeiro quadro, uma série incômoda. Dois motivos se destacam para justificar esta inquietação: Hannah (Katherine Langford) está morta e não precisava estar. O suicídio, tema sério e muitas vezes negligenciado por ser inadvertidamente associado a algum tipo de fraqueza ou covardia, atinge cada vez mais jovens. Já em 2013, apontava-se que apenas no Brasil o número de jovens suicidas aumentou em 30% nos últimos 25 anos. O assunto é tabu, mas não falar sobre um problema não o faz sumir. O que leva alguém no começo da vida a decidir pôr um fim a tudo?
Hannah contou os motivos dela, mas não de uma forma convencional. Gravado em fitas cassete (se você tem menos de 20 anos, procure no Google como elas são), Hannah narra o que – e o mais importante, quem – tirou suas perspectivas de uma vida feliz e a empurraram para o suicídio.
Seguindo a melhor estrutura de um thriller psicológico, Clay (Dylan Minnette) recebe um pacote em casa com as sete fitas, tendo que ouvir todas para descobrir onde está a sua “contribuição” para o suicídio de Hannah e como passar o pacote para a próxima pessoa nesta corrente macabra. Caso as regras não sejam cumpridas, uma cópia destas fitas será vazada publicamente, expondo todos os responsáveis.
Perceba que usei aspas na palavra “contribuição”, pois nenhum dos envolvidos quis de fato provocar a morte de Hannah, mas não em “responsáveis”, pois esta não é uma figura de linguagem. Por mais que não houvesse intenção, cada um dos envolvidos foi responsável por seu suicídio. 13 Reasons Why não relativiza culpa para deixar o espectador na zona de conforto. Ele busca que nos sintamos culpados. Este é precisamente seu maior acerto.
A fotografia de Andrij Parekh exibe sutilezas delicadas. Quando no passado, com as memórias de Hannah na tela, a paleta é mais quente, viva; quando no presente, as cores são frias. É como se trocassem as estações do ano, mesmo Hannah estando viva há apenas uma semana. A montagem também usa gatilhos inteligentes para unir as linhas do tempo: um olhar para uma cadeira vazia, uma chamada no celular etc.
O diretor Tom McCarthy aposta em uma combinação de planos abertos e fechados, que marcam o isolamento de Clay e realçam sua confusão com a ideia de que contribuiu para um suicídio. Quando ele descobre que está sendo observado, a câmera se torna instável. O uso dos cortes também ajuda no dinamismo de cada cena.
Já neste episódio, 13 Reasons Why toca numa ferida purulenta da sociedade pós-moderna: o slut-shaming. Procure na internet “jovem que teve fotos vazadas se suicida”. São inúmeros casos. E esta série fala diretamente para os homens: respeitem as mulheres. Não é difícil, principalmente quando se pensa o que pode acontecer como consequência.
No último ato do episódio, um Clay perturbado olha para os rostos de seus colegas de escola sem saber em quem confiar. Na trilha, a canção de Vance Joy diz que “essa bagunça é sua”. Sublime.
Com uma produção primorosa, 13 Reasons Why coloca luz num assunto delicado que tira quase um milhão de vidas por ano no mundo. E para quem está passando por situação parecida, buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem. O Centro de Valorização da Vida atende 24h por dia. Não desista de si mesmo.
Para ler a crítica do segundo episódio, “Fita 1, Lado B”, clique aqui. Para assistir a todos os episódios, clique aqui.