“Fita 3, Lado B” é precedido por “Fita 3, Lado A”. Para ler a crítica do quinto episódio, clique aqui.
O que o movimento feminista quer dizer com “a sociedade protege os estupradores”? O sexto episódio de 13 Reasons Why dá uma demonstração prática. Seja por solidariedade, vergonha ou medo de expor os próprios delitos, abusadores nunca são punidos. Simplesmente porque outros abusadores serão responsáveis por julgá-los.
Marcus, presidente do Conselho de Honra da escola, aluno com notas irretocáveis e prestes a conseguir uma bolsa de estudos, está nas fitas de Hannah. E só fez por merecer pela certeza da impunidade. Após os vazamentos feitos por Justin e Tyler e a fofoca de Courtney, a reputação de Hannah está arruinada no colégio. Ela se tornou uma “mulher de segunda categoria”, que “merece” ser tratada como tal.
Outro citado nas fitas, Alex se envolve numa briga. O colégio, mais preocupado em se livrar de outra acusação de bullying no melhor estilo “isso não é problema meu”, coloca o Conselho de Honra para julgar o caso. A saída com uma simples advertência de Alex é simbólica. Há algumas críticas, falei de Woody Allen, notório estuprador que continua lançando seus filmes com elencos estelares. Alex foi o “Woody Allen do dia”, aquele cujo comportamento nós preferimos ignorar, pois o contrário nos obrigaria a olhar para nós mesmos.
“Fita 3, Lado B” trabalha muito bem com a ideia de que pessoas podem dividir espaços sem realmente se conectar. A fotografia, já elogiada pela troca na paleta de cores entre passado e presente, acerta novamente nos planos abertos que separam os personagens. Seja no trabalho ou no seu encontro, Hannah está cercada de gente e sozinha.
No julgamento, todos estão afastados: os responsáveis pela escola observam quase como se a realidade diante deles fosse um programa de TV e o teto “achata” as pessoas
A ideia é reforçada na forma como os pais desconhecem a vida dos próprios filhos: a mãe de Justin só se preocupa com os próprios problemas, o pai de Alex o elogia por sua coragem e o de Jessica apaga a luz do quarto da filha apenas para que ela ligue o abajur no momento em que ele fecha a porta (brilhante). A mãe de Clay também tem uma participação importante no episódio, prometendo não se envolver no imbróglio envolvendo o suicídio de Hannah, caso a verdade prejudique o filho.
A tamanho da rede de proteção a abusadores ainda não foi descoberto, mas é grande.
Para ler a crítica do sétimo episódio, “Fita 4, Lado A”, clique aqui. Para assistir a todos os episódios, clique aqui.