“Fita 5, Lado A” é precedido por “Fita 4, Lado B”. Para ler a crítica do oitavo episódio, clique aqui.
Chegando ao seu momento da verdade, 13 Reasons Why trata de temas cada vez mais pesados e complexos. “Fita 5, Lado A”, mais do que uma acusação, é uma mea culpa. Hannah, que até aqui cobrou de seus colegas uma postura diferente que poderia ter salvado sua vida, admite também ter estado do outro lado e fracassado.
Em consonância a isso, a fita não é endereçada ao autor do malfeito, mas ao “cúmplice” de Hannah na omissão. Justin é citado pela segunda vez, uma solução do roteiro para passar a mensagem de que não fazer nada pode ser tão desastroso quanto fazer algo errado. Ambos testemunharam um estupro mas, por incapacidade ou medo, permaneceram em silêncio. “Proteção”.
O episódio constrói sua narrativa no questionamento sobre o conceito de proteção. A quem estamos protegendo quando denunciamos um estupro? Uma mentira pode proteger a vítima? Falar a verdade é uma forma de nos proteger? É possível proteger alguém numa situação como essa? E, finalmente, quem deve decidir o que é certo?
Hannah está tentando recomeçar a vida após as férias de verão. Clay também, à sua própria maneira. Ambos vão a uma festa na casa de Jessica com muita bebida e nenhum controle. Pela primeira vez em muito tempo, Hannah não se sente invisível. É lá que o estupro acontece. A cena, forte, é representada por duas câmeras subjetivas: uma na perspectiva da vítima e outra na de Hannah. O uso da lente desfocada, representando o estado de semiconsciência da mulher estuprada reforça sua falta de controle. Já a visão de Hannah, por trás da porta de um armário, a coloca ao mesmo tempo próxima e distante. Por mais que ela quisesse fazer algo, ela não seria capaz de impedir o que aconteceu.
Contudo, como já trabalhado em episódios anteriores, os resultados interessam mais do que as intenções. A culpa a consome e se torna um dos motivos para o suicídio. Mas Justin é responsabilizado por ela, pois ele também sabia do estupro e nada fez para impedir o estuprador. Mais uma vez, a rede de proteção, que às vezes funciona colocando medo em seus membros. O mais rotineiro ainda é responsabilizando a vítima. “Mas como responsabilizar uma pessoa por algo que aconteceu quando ela estava desacordada?” Este é o mundo do qual Hannah desistiu. Um mundo em que ela tentou viver de uma forma diferente, mas o seu entorno permaneceu o mesmo. O nosso mundo.
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