“Fita 7, Lado A” é precedido por “Fita 6, Lado B”. Para ler a crítica do décimo segundo episódio, clique aqui.
Não sei exatamente se isso é um elemento que deveria constar numa crítica, mas assista a esse episódio no computador. Ou manipule o aplicativo da Netflix da sua TV pelo celular e fique com ele na mão, como um controle remoto. Eu falo sério. Há um momento (aquele momento) em que simplesmente não dá pra assistir sem parar antes, respirar fundo e deixar a vontade de ver como as coisas acabam superar o apelo da mente para simplesmente não ver.
Mas veja. É preciso ver. Só faça com calma.
Em sua última fita, Hannah recapitula os motivos que a fizeram desistir da vida e explica como esquematizou a ordem dos responsáveis. Ela dividiu a existência em quatro níveis: coração, reputação, alegria (o original spirit pode ser melhor traduzido como “energia”, “estado vital”, ou o animus) e alma. A capacidade de amar e reconhecer amor é vital nas interações sociais; a reputação é a projeção do ego freudiano, a parte de nós que trabalhamos para mostrar ao mundo; o animus é o aspecto inconsciente da personalidade, a parte responsável pelas decisões que surpreendem a nós mesmos (como entrar para um grupo de poesia); Finalmente, a alma é a única parte de cada um (se você tem uma religião) que é eterna. Alguém que considera ter a alma quebrada deixa implícita a sua incapacidade de viver uma vida normal. Para sempre.
Neste momento, ela percebe que talvez não precise ser o fim. Mas precisa de ajuda. E este é o ponto, Hannah busca ajuda. O resultado, que já sabemos desde o trailer, mostra que essa ajuda não serviu de nada. O que é fundamental em “Fita 7, Lado A”, assim como nos demais episódios, não é o desfecho, mas o desenvolvimento. É impossível não assistir a 13 Reasons Why sem ouvir os gatilhos disparando na cabeça. “Isso é real”, “já li um relato assim na internet” e “esse cara me lembra alguém”. O melhor e mais merecido elogio que a série pode receber é: quando realmente importa, ela parece um documentário.
A direção foi corajosa em três momentos. Ao colocar os testemunhos dos alunos na perspectiva da câmera amadora dos advogados, reforçou a mensagem de que aqueles relatos não são ficção, mas representação literal da realidade. Ao estender o último pedido de socorro de Hannah, fechando o plano gradativamente, até só restar seu rosto na tela inteira, decidida a “seguir em frente” e “superar” seus problemas, mostrou toda a angústia de uma pessoa que queria um motivo para continuar viva. E, finalmente, por exibir o suicídio sem planos sugestivos, sem música, sem suavizar nada. É uma cena dura, difícil, angustiante, mas vital, porque tirar a própria vida não poderia passar como um ato fácil, uma solução ideal para um problema. Não é.
Infelizmente, a série deixa algumas pontas soltas. Talvez haja uma segunda temporada. É uma pena, porque não há necessidade. Talvez eu tenha que me retratar por dizer isso no ano que vem caso uma continuação seja boa, mas neste momento, vejo os arcos de Hannah e daqueles que participaram de sua vida fechados.
A história foi contada. De forma visceral. Para chocar. Como deveria ser. Assista a todos os episódios aqui. E não seja um porquê.