“Fita 2, Lado A” é precedido por “Fita 1, Lado B”. Para ler a crítica do segundo episódio, clique aqui.
No terceiro episódio, 13 Reasons Why realmente vai fundo nas consequências do slut-shaming. “As pequenas coisas importam”, Hannah diz em sua terceira razão para ter se matado. E, de forma cada vez menos sutil, expõe um microcosmo de adolescentes mais preocupados com o que este homicídio pode lhes causar do que com a vida perdida.
Ironicamente, Hannah demonstra saber disso e brinca com a situação. Quando caminha pela acidez, seu discurso parece o de Brás Cubas. Esse desapego pelas questões mundanas e a vontade expressa de instaurar o caos criam uma empatia do público para com a personagem com uma melancolia igualmente intensa, pois já sabemos que ela está morta.
“Fita 2, Lado A” toca num ponto nevrálgico da cultura do estupro: as referências masculinas. Um dos personagens responsáveis pelo suicídio de Hannah tem um histórico de violência na infância. Também cresceu vendo a mãe em relacionamentos abusivos. O roteiro ilustra com dinamismo o tema central do episódios ao colocar a teoria do aprendizado social numa aula. Em menos de um minuto, de forma orgânica, entendemos perfeitamente que o preconceito não é inerente ao indivíduo, mas perpetuado e replicado pelo grupo num exemplo prático.
Extrapolando para o mundo real, políticas de igualdade de gênero são rechaçadas porque implicam numa mudança do status quo. Não é de interesse do grupo dominante, masculino, dar voz e dignidade ao grupo dominado, feminino. Dessa forma, a discriminação passa adiante e é perpetuada geração a geração.
Em uma sociedade que permite a objetificação feminina, assédio se torna elogio. Homens imaturos usam mulheres para massagear o ego. Os “eu te amo” não resistem a um “não”, mas a única forma de “vingança” concebida envolve atingir mais mulheres. Em uma conversa com Clay, Hannah deixa clara a diferença entre a forma como homens e mulheres respondem a uma crise de relacionamento. Clay não entende, pois ele também foi criado nesta sociedade que joga mulheres no triturador de carne. Alex comete um ato terrível, mas não é condenado por isso. Este papel cabe à mulher, por “se colocar nesta situação. Quando ele percebe o que fez, se quebra por dentro. Mas é tarde demais para Hannah.
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