“Fita 3, Lado A” é precedido por “Fita 2, Lado B”. Para ler a crítica do quarto episódio, clique aqui.
Qual é o limite entre a autopreservação e a covardia? Sabendo como uma pessoa se sente, somos capazes de ficar inertes, desde que não nos atinja? Courtney (Michele Selene Ang) tinha o direito de canalizar o ódio amorfo do colégio em Hannah para se proteger?
Alguns problemas de roteiro, insinuados no episódio anterior, se acentuam aqui. As situações são críveis, mas a forma como são desenvolvidas dá a “Fita 3, Lado A” um tom de novela. Quando Tyler vai falar com o conselheiro da escola, as questões levantadas (o descaso da instituição com os alunos, as realidades paralelas compartilhadas pelos dois lados e a total ignorância dos adultos em relação ao que os jovens fazem) são colocadas quase literalmente nos diálogos, que se tornam praticamente expositivos. Desnecessário.
O mesmo vale para o conflito criado pela profissão da mãe de Clay e sua repentina participação no desfecho legal do caso. É um indicativo de que ela e o filho precisarão se conectar novamente para que a verdade venha à tona e a justiça seja feita. Mais uma vez, um conflito um tanto quanto novelesco e desnecessário. A tensão de uma jovem suicida expondo às pessoas que a conheceram sua parcela de culpa já é mais do que o suficiente.
Tony começa a se esgotar na função narrativa que ocupa. É um personagem mal resolvido, que orbita entre o mentor clássico da jornada do herói e o portador de uma verdade oculta. Está em todos os lugares, sabe tudo o que é feito por todos. Perde um pouco da humanidade. Dylan Minnette, por outro lado, se destaca como o melhor ator da série, com as camadas de dramaticidade da situação em que seu personagem se envolveu afetando sua atuação. Na mesma medida, Brandon Flynn e Alisha Boe não se mostram capazes de acompanhar o ritmo e seus personagens se mostram previsíveis na forma como reagem a novidades. Mas isso não é culpa exclusiva deles: o roteiro claramente “segura” um pouco o andamento da série, para que ela cumpra a meta de episódios.
Positivamente, a cena do Baile de Inverno tem uma filmagem interessante, de câmera na mão, acompanhando os passos de dança desajeitados de Clay. A música (“The Night We Met”, de Lord Horun) também incrementa a importância daquele momento, onde ele finalmente passou a gostar de Hannah, mas foi incapaz de ser proativo e protegê-la dos ataques que sofreu.
Isso se reflete na sua incapacidade de tomar banho. Em um nível simbólico, o banho representa a limpeza da alma de impurezas passadas e o recomeço, limpo, de um novo dia. Ao cortar o ciclo e permanecer sujo, Clay indica que não consegue seguir em frente, o que é comprovado pela forma como seu personagem reage ao túmulo sem lápide de Hannah.
A série chega a um momento de virada em relação ao que foi apresentado até “Fita 3, Lado A”. Os próximos episódios podem transformar tudo em algo brilhante ou numa triste oportunidade perdida.
Para ler a crítica do sexto episódio, “Fita 3, Lado B”, clique aqui. Para assistir a todos os episódios, clique aqui.