“Fita 4, Lado B” é precedido por “Fita 4, Lado A”. Para ler a crítica do sétimo episódio, clique aqui.
Todos os problemas de Hannah são reais, sérios e podem provocar a consequência definitiva que pôs um fim à sua vida. Porém, até aqui eles eram frutos de relações abusivas de diferentes tipos: boatos, assédios, explorações etc.
O tema de “Fita 4, Lado B” é, além de institucionalizado, visto como algo positivo na sociedade. O oitavo episódio de 13 Reasons Why aborda como a pressão colocada nos ombros da juventude ao término do ensino médio pode ser excessiva. “Eles falam para sonharmos grande, depois nos dizem por 12 anos onde sentar, quando falar, quando ir ao banheiro… e aí exigem que tomemos a decisão mais importante de nossas vidas”.
A cena da abertura, quando estudantes são avaliados como automóveis num saldão por profissionais encarregados de incentivar ou acabar com os seus “grandes sonhos”, oprime pela familiaridade. O Brasil tem um modelo educacional diferente do americano, mas aqui também certas portas abrem e outras, não. A ideia de um mundo baseado na meritocracia é ótima na teoria, mas ignora a falta de padrão nas escolas, nos currículos e nas pessoas. Principalmente nas pessoas, que acabam perdendo a humanidade e transformadas em estatística no processo.
A busca por um propósito é fundamental para dar sentido à existência. Correntes filosóficas e religiões são baseadas na busca pelo propósito: seja amando ao próximo como a ti mesmo, vivendo um dia de cada vez ou descobrindo a própria essência imaterial das coisas, só permanece no mundo quem sabe o que está fazendo. Hannah busca no grupo de poesia uma forma de expressão segura. A citação ex nihilo nihil fit, do pré-socrático Parménides, significa “nada surge do nada”. A derivação consequente deste pensamento é que nada some do nada. Colocar os sentimentos no papel é uma forma de, simultaneamente, revelar uma porção de si que estava oculta, mas já existia, e de garantir que ela nunca desapareça. Todos buscam uma forma de vida eterna, mesmo os suicidas.
Ryan (Tommy Dorfman) pode ter feito o que fez por motivações nobres ou egoístas. A própria Hannah não pode afirmar, embora estivesse convicta de sua conclusão. O que “Fita 4, Lado B” passa é que os porquês não são mais importantes do que as consequências. E a publicação da poesia de forma anônima reforça a insinuação inicial de que o sistema transforma pessoas reais em estatística. Também fica cada vez mais claro que nada foi feito por completo desinteresse das partes, escola e alunos. Omissão também mata.
Negativamente, o “Clube dos Seis” liderado por Justin esgotou sua credibilidade. Está evidente que eles tomarão uma medida drástica para se protegerem, mas isso não será feito até o final da temporada, o que esvazia o sentido das suas participações até lá. Felizmente, isso não tira o brilho do episódio, que termina de forma muito elegante, com a câmera em zoom out dando “privacidade” à mãe de Hannah, que tem acesso a uma informação até aqui desconhecida sobre a filha.
Para ler a crítica do nono episódio, “Fita 5, Lado A”, clique aqui. Para assistir a todos os episódios, clique aqui.