GLOW é muito parecida com Orange is the New Black. Roteirista da série original Netflix mais assistida pelos assinantes, Carly Mensch estrutura a saga de mulheres se aventurando no mundo do wrestling de forma análoga à de Piper Chapman e suas companheiras no presídio de Litchfield. E é bom que se diga: GLOW funciona melhor.
É inegável que o sucesso de uma foi o “fiador” da outra. Além de Mensch, que assina como co-criadora juntamente com Liz Flahive, Jenji Kohan – criadora de Orange – é creditada como produtora executiva e roteirista de um dos episódios de GLOW. Além do protagonismo feminino, a interação entre as personagens se dá num regime de “internato”. Mas, em vez de um presídio, as moças ficam reclusas em um hotel.
Digo que GLOW funciona melhor porque o ambiente lhe permite: por mais que Orange is the New Black tenha se tornado um fenômeno além de qualquer nicho, uma penitenciária sempre será um lugar mais pesado do que um hotel. E detentas são, por definição, mais sombrias do que lutadoras de wrestling. Por mais que tente criar um universo paralelo, onde aquelas personagens possam operar sob regras próprias, é difícil esquecer de onde elas estão, principalmente após ler o excelente livro de Piper Kerman. Até por isso, para mim, o drama sempre funcionou melhor do que a comédia em Orange. GLOW se permite um equilíbrio mais harmônico, sem que ela perca a carga dramática. Simplesmente funciona melhor.
Conforme dito na crítica do episódio “Piloto” (leia aqui), o programa de luta-livre se torna mais do que realmente é, uma grande objetificação feminina para deleite masculino em uma sociedade machista, para representar a emancipação destas mulheres marginalizadas. Em determinado ponto, Debbie (Betty Gilpin) diz que é em GLOW o único momento em que ela usa o seu corpo para si e não para o marido, ou mesmo para o filho. Sua relação com Ruth (Alison Brie, perfeita numa atuação contida) poderia escorregar para o pastelão, mas vemos a tensão entre as duas e a nuvem que impede a retomada da antiga amizade. Numa decisão clichê, mas habilmente aplicada, uma depende da outra para alcançar o sucesso naquela que é a última chance para fazerem algo minimamente relevante em suas vidas.
GLOW acaba por ser uma produção convencional no formalismo: fora as “sequências-clipe”, quando um personagem faz algo empolgante ao som de uma música oitentista, nada é digno de nota. Os enquadramentos são convencionais, assim como as transições e o uso de cores, um pouco “lavadas” para parecerem de outra época. O foco está nas pessoas e nas relações. E é admirável que consiga alternar tons de forma tão natural. Seja na atriz cansada de ser rejeitada nas audições, no diretor fracassado tentando financiar seu “grande” filme ou na filha de lutadores buscando seu próprio lugar ao sol. Tudo soa ridículo, até que você assiste e percebe que é tudo, menos ridículo. Em alguns momentos, é ate genial.
Assista a todos os episódios clicando aqui.