Amor Paris Cinema agrada a dois segmentos de espectadores. Tanto o público médio pela comédia auto-indulgente com ótimo ritmo quanto os realizadores de cinema, pela proposta metalinguística de fazer um filme sobre o processo criativo. O segundo filme de Arnaud Viard trata exatamente de como a realidade interfere na ficção e obstáculos podem se tornar em oportunidades.
O grande senão é que o filme praticamente copia o formato de outro. Em Adaptação, Spike Jonze conduz a audiência por dentro dos insights e do desamarrar de nós que permeiam o processo de contar uma história. Em Amor Paris Cinema, Viard trabalha prioritariamente com a dificuldade de uma figura marcada por um papel em se reinventar. Colocados lado a lado, a obra de Jonze não é condescendente com as tentativas fracassadas; Viard se coloca num altar de imunidade, usando sua própria autocrítica como um escudo contra contestações externas. Se o próprio se retrata como um “velho broxa”, o que mais podemos dizer?
Isso não significa que o filme seja uma perda de tempo. O timing cômico de Viard é precioso, algo que aparece no primeiro plano de Amor Paris Cinema, quando o protagonista (ele mesmo) compara os fracassos da vida a uma prisão de ventre. “As coisas dão errado até darem certo”, quando o enquadramento abre e vemos que seu monólogo foi feito sentado na privada. Também percebemos quais eventos na vida do realizador foram realmente marcantes, como a mudança de tom narrativo quando o filme trata de sua mãe. O quarto de hospital onde ele vai visitá-la tem paredes de um azul sólido, que ao mesmo tempo transmitem serenidade e melancolia. O humor, quando não eliminado, assume uma função de apoio em lugar do constante protagonismo no restante do filme.
Mas é difícil não ler Amor Paris Cinema como a vida na perspectiva de um “agente da passiva”, alguém que chega aos lugares por obra do acaso: o divórcio, as aulas de teatro, o roteiro final de seu filme… as mulheres que se envolvem com ele mostram uma proatividade contrastante com o protagonista. Chloé (Irène Jacob) por não querer um relacionamento que considera incompleto, Gabrielle (Louise Coldefy) por não querer uma carreira que considera incompleta. Arnaud parece satisfeito com tudo pela metade, apenas administrando os problemas imediatos, algo sintetizado na sua questão financeira.
Ao se colocar como matéria-prima para humilhação, Arnaud Viard provoca risos de admiração pelo desprendimento. Mas, quando analisado por outros aspectos, Amor Paris Cinema não tem muito mais do que se orgulhar. Seu maior mérito é esconder a falta de substância tão bem.