Em Busca de Vingança acompanha duas histórias resultantes de um mesmo incidente: a colisão de duas aeronaves que resultou na morte de mais de duzentas pessoas. Roman (Arnold Schwarzenegger) é um homem incapaz de superar a perda gerada pelo acidente, enquanto Jacob (Scoot McNairy) é o orientador de vôo que, por sua displicência, tornou-se responsável pela tragédia. Conforme vemos Roman tentando fazer a justiça funcionar e encontrar alguma paz, observamos Jacob tentar seguir sua vida e esquecer o erro que culminou no desastre.
A fim de guiar sua narrativa até o conflito entre Roman e Jacob, o filme se divide em capítulos. Nos dois primeiros, acompanhamos a introdução dos personagens em suas rotinas até o dia do acidente. Dali em diante, vemos os eventos resultantes da tragédia. É interessante a escolha do roteiro e da direção em não criar vilões: tanto Roman quanto Jacob têm sua humanidade trabalhada, tanto pela relação de carinho que ambos têm com os colegas de trabalho quanto pela figura de pais corujas e apaixonados que o script estabelece para os dois. Com isso, o conflito entre os personagens não é visto nem sob o escopo do personagem de Schwarzenegger, nem pelo de McNairy, permitindo que o público tenha em mãos um filme que retrata uma tragédia em várias camadas sem nunca criar “bruxas”.
A fotografia e a trilha sonora dão o tom mórbido à trama. Com muitos momentos que se limitam a acompanhar Roman lidando com a tragédia, Em Busca de Vingança abusa (no bom sentido) de uma paleta de cores fria, com luzes esbranquiçadas que, acompanhadas pelas vestimentas de cores neutras do personagem, estabelecem a atmosfera sem vida que tomou conta da vida dele. Com Jacob não é diferente, mas, nele, há um trato maior do roteiro a fim de desenvolver sua relação com sua família, que ajuda a dar mais conflitos para o personagem e acabam humanizando-o até mais que a Roman. Nisso, porém, surge um desequilíbrio, que poderia facilmente ser corrigido se houvesse algum familiar próximo a Roman para ajudar a desenvolver sua melancolia.
Para retratar o impacto da perda em Roman, a direção do filme traz boas ideias. A distorção e abafamento das vozes ao redor do personagem quando ele recebe a notícia do acidente funcionam para representar seu abatimento. Há ainda uma alteração na profundidade de campo, deixando todo o cenário e demais personagens desfocados como se, naquele momento, Roman não estivesse mais lá. Todos esses elementos ainda são engrandecidos pelo eficiente uso de slow motion, que ajuda o espectador a perceber as nuances de atuação de Schwarzenegger e adentar em seu psicológico. O mesmo não pode ser dito, porém, da forma como o filme trabalha a gradual perda de sanidade de Jacob. Com saídas de roteiro muito pedestres e sem nenhum trabalho visual para estabelecer a mudança na psique do personagem, tudo ocorre de maneira expositiva e gritante para que o público compreenda que o personagem está afetado.
Em Busca de Vingança é um drama eficiente sobre como seus personagens lidam com o trauma. Trazendo atuações esforçadas e uma direção que utiliza as ferramentas cinematográficas de forma coerente, a obra só não se destaca por conta da incapacidade de aprofundar os dilemas de seus personagens e de extrair alguma dramaticidade do clímax. A montagem, que primeiramente mostra-se interessante para organizar o longa episodicamente, se enrola e torna o ato final confuso pela falta de delimitação temporal e pela forma abrupta e óbvia como conclui os arcos de seus personagens. Do momento mais doce ao mais urgente, a mesma cadência de cortes se mantém, bem como a intensidade das atuações e os relacionamentos entre os personagens, fazendo com que o filme tenha um ritmo cansativo.