A série espanhola “La Casa de Papel” conquistou os espectadores brasileiros, como comentamos na crítica sobre a primeira temporada. Recapitulando, a história contada é sobre um grupo de assaltantes, que invadem a casa da moeda em Madrí, na tentativa de executar um plano perfeito. São nove integrantes que usam como codinome nomes de cidades. Eles foram reunidos por um homem misterioso que se intitula O Professor (Álvaro Morte). Cada um possui personalidades e histórias diferentes, mas têm em comum a vida dedicada a algum tipo de crime.
A primeira temporada se encerra com Berlim (Pedro Alonso) e O Professor em frente a lareira cantando “Bella Ciao”, canção popular italiana, conhecida por se tornar um hino da resistência contra o Fascismo durante a Segunda Guerra. Esse momento reafirma, se somada ao que ficamos sabendo sobre o pai d’O Professor, que a invasão não é apenas um crime comum, mas um ato pensado como um ataque ao Estado Espanhol.
A detetive encarregada do caso, Raquel Murillo (Itziar Ituño) encontra a casa de campo que serviu de quartel general do bando. Diante de várias provas que incriminam os assaltantes, ela percebe que ali está o meio que precisa para findar com a ação. Nesse momento, está acompanhada de seu affair, o próprio Professor. Ele se envolveu com ela para acompanhar as investigações de perto e evitar que algo frustre seus planos.
A série usa de flashbacks para explicar cada ação ocorrida nos locais em que a trama passa. Ao mostrar a casa de campo sendo “escaneada” pela equipe de investigação, acompanhamos a lembrança de cada passo dado pelo Professor. Ali são plantadas provas, um espaço para falar sobre sua vida e entender quais os caminhos que estão sendo seguidos. A narração feita por Tókio (Úrsula Corberó) acentua a sensação de onipresença que o espectador tem, ao poder acompanhar os vários tempos narrativos.
Berlim (Pedro Alonso) e Tókio sempre “batem de frente” por questões de liderança. Em meio às muitas discussões entre os colegas, acontece uma conversa sobre as relações de poder no ambiente. Berlim está se relacionando com uma das reféns, assim como Denver (Jaime Lorente). Aqui, temos duas personalidade antagônicas nessas situações abusivas. Enquanto Berlin assume que o medo de sua “companheira” foi algo que o atraiu – reforçando seu mau-caratismo -, Denver sequer sabe o que é Síndrome de Estocolmo. Ele acha que sua relação com a bancária Monica Gaztambide (Esther Acebo) é fruto de um amor súbito.
“La Casa de Papel” apresenta em suas personagens masculinas várias representações dos domínios de homens sobre mulheres em relações de opressão. Na primeira, ao sabermos da vida pessoal de Raquel Murillo, descobrimos que ela sofria abusos do ex-marido. A relação de Monica com seu chefe (de quem ela é a amante e está esperando um filho), no primeiro episódio, é demarcada como uma opressão feita por meio do poder no ambiente de trabalho. Ela passa a depender afetivamente de Denver. Naquela situação delicada – refém, grávida e ameaçada de morte – a mulher se apega a quem lhe deu carinho. Em oposição, Berlim manipula uma adolescente em situação emocional instável.
A série, que possui tom bem novelesco – uma reclamação de vários espectadores -, peca pelo exagero de algumas atuações e situações forçadas para ganhar o coração do público. O ator Álvaro Morte interpreta sua personagem com exagero nas sequencias em que quer demonstrar preocupação. Os olhos “esbugalhados”, a cabeça que se move de um lado pro outro e as mãos inquietas são gestos repetitivos. Em compensação, a frieza nos olhos de Berlim, seu riso irônico e a aparência sociopata, fazem dele a personagem mais atraente, mesmo sendo amoral.
A reedição dos episódios, pela Netflix, para apresentar a série ao público brasileiro permite que se encerrem em “ganchos” pro próximo capítulo. Sempre demarcando algum fato importante para alguma personagem.
Entre baixas e “n” reviravoltas, sua conclusão está dentro do que é esperado, à medida em que a história se desdobra. Resoluções fáceis são contantes nessa segunda parte de maneira que, ao fim, tudo se encaixe de maneira perfeita. O resultado é mais que previsível e até insosso. Os casais, os mortos, as resoluções: tudo está dado desde o início, não há surpresas.
“La Casa de Papel” é recomendada para quem gosta de filmes sobre estratégias de assalto, crimes perfeitos e que não se importam com uma pitada de dramas dignos de Douglas Sirk. Aguardemos para saber como as coisas se desenvolverão na próxima temporada.
Assista à série aqui .