Harold Soyinka (David Oyelowo) é o típico trabalhador desesperado que está prestes a se dar mal. Funcionário de uma gigante farmacêutica, o protagonista do filme está se afundando em dívidas contraídas por sua esposa, ao passo que recebe, de seu contador, uma terrível notícia: a empresa onde trabalha está prestes a se fundir com uma concorrente, e seu departamento sofrerá grandes cortes, que provavelmente incluirão a demissão de Soyinka. A situação fica ainda mais estranha quando seus chefes, Richard Fusk e Elaine Markinson (respectivamente: Joel Edgerton e Charlize Theron), decidem acompanhá-lo numa viagem de negócios para o México que, inicialmente, o personagem faria sozinho.
Em “Gringo: Vivo ou Morto”, porém, essa premissa pouco diz sobre o que o filme é de fato. Ao chegar ao México, os personagens entram em uma espiral de eventos aleatórios, e a narrativa administra três núcleos dramáticos: Harold, que acaba correndo risco de vida após se tornar alvo de um grande traficante; Richard e Elaine, que tentam efetuar a fusão da empresa e limpar os vestígios de crimes da companhia; Miles e Sunny, um casal que viaja para o México para que o Miles possa traficar uma fórmula.
“Gingo” traz personagens bem estereotipados, o que não é necessariamente ruim, já que se trata de uma comédia, o que permite que estes arquétipos sejam satirizados. É interessante, porém, notar como alguns dos estereótipos funcionam como alegorias para satirizar uma sociedade. Richard Fusk, por exemplo, é um chefe arrogante, egoísta e prepotente. Ele tem, em seu escritório, uma coleção de fotografias suas em vários lugares do mundo. Todas, porém, trazem o homem sozinho, o que denota seu individualismo. Richard também é um sujeito ganancioso, algo perceptível não só por seu desejo por enriquecer cada vez mais – o que, ironicamente, parece levá-lo direto para a falência -, como também pela forma como trata as mulheres. Richard é um sujeito machista e conquistador. Tem um affair com Elaine, e também com outras mulheres, o que demonstra sua vontade de dominar tudo que vê pela frente.
Já o protagonista, Harold, é o típico trabalhador de classe média que foi engolido pela América pós-crise de 2008. Seu arco é justamente o da busca por liberdade. Mesmo sob o risco iminente de morte por estar sendo perseguido por traficantes, Harold não deseja regressar aos Estados Unidos, justamente por saber da dificuldade da vida que lá o aguarda.
Todas as analogias possíveis nas relações empresárias, porém, são apenas abstrações temáticas pouco aprofundadas. “Gringo” quer mesmo é ser uma comédia de humor negro calcada no absurdo e no inesperado. As tramas continuam de forma paralela, enquanto o elenco se encontra em situações cada vez mais complexas e inusitadas. Toda essa complexidade estrutural, porém, parece ser apenas um gimmick para maquiar a falta de conteúdo da obra.
Em sua estética, “Gringo” encontra algumas de suas melhores ideias. A repetição do uso de planos abertos com fotografia azulada nas cenas do escritório de Richard e do lar de Harold são uma maneira eficiente de estabelecer o desconforto e a falta de afeto que o protagonista tem pelos dois ambientes. Já a montagem de Luke Doolan, David Rennie & Tatiana S. Riegel não tem a mesma felicidade: encontrando enorme dificuldade em alternar três núcleos paralelos, a montagem do longa faz com que haja enormes blocos do filme sem que personagens importantes dêem as caras.
O sucesso de “Gringo” seria possível caso a obra realmente abraçasse o absurdo, mas há sempre um pé no realismo, tanto nas atitudes dos personagens, quanto nas escolhas do roteiro. Como resultado, “Gringo” é um filme que, perdido entre ser uma comédia de humor negro, um drama complexo e uma história de libertação, fica no meio do caminho das três alternativas, o que resulta em uma obra fraca por não desenvolver nenhuma das ideias e desinteressante por não conseguir relacionar essas ideias com competência.