Better Than Us – 1ª temporada

Better Than Us – 1ª temporada

Série russa combina premissas de clássicos da ficção científica

Gustavo Pereira - 18 de agosto de 2019

Diferente da maioria das séries do gênero, “Better Than Us” é uma ficção científica com algo a oferecer. Bebendo de fontes clássicas como Isaac Asimov, Philip K. Dick e Stanley Kubrick, a produção russa consegue projetar um futuro de tecnologia factível e calcada nas relações humanas. Mais importante, sem ceder à pasteurização globalizada: “Better Than Us” é uma série russa com particularidades russas compondo a trama.

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À primeira vista, “Better Than Us” soa como uma imitação de “Eu, Robô”, filme de 2004 protagonizado por Will Smith: um robô comete um assassinato e vira alvo de uma investigação da polícia, enquanto a empresa responsável por ele tenta desaparecer com as provas do crime. Mas se o filme de Alex Proyas foca no aspecto detetivesco da história, “Better Than Us” está preocupada com as pessoas deste mundo hi-tech. Em como a tecnologia se insere num país como a Rússia, de religião cristã ortodoxa e politicamente fechada, quase uma autocracia fundamentalista.

Better Than Us série russa Netflix

Os primeiros episódios da série são muito bons para desenhar este panorama. Em um programa de TV ao estilo “Casos de Família”, é colocado em debate se transar com um robô sexual pode ser considerado traição. Victor Toropov (Aleksandr Ustyugov), presidente da CRONOS, defende que o sexo com robôs inibe a “sordidez” da prostituição. O grupo terrorista “Liquidantes” prega a destruição dos robôs, principalmente porque eles tiram os empregos das pessoas. E o governo russo planeja impor uma Reforma Previdenciária que obrigue as pessoas a se aposentar mais cedo, exatamente para substituir a mão-de-obra humana por robôs que não tiram férias ou se organizam em sindicatos.

O protagonista Gregory Safronov (Kirill Kyaro) está tentando viver à margem de toda essa discussão político-filosófica quando descobre que a ex-esposa Alla (Olga Lomonosova) planejava se mudar para a Austrália com os seus filhos. Tentando manter Sonya (Vita Kornienko) e Egor (Eldar Kalimulin) perto de si, o caminho de Gregory encontra o de Arisa (Paulina Andreeva), o robô-assassino de última geração que a CRONOS deseja produzir em massa para substituir os humanos quando a reforma de previdência for aprovada.

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Capaz de identificar e compreender emoções humanas, o propósito de Arisa é cuidar de sua “família”. O grande tema de “Better Than Us” é exatamente esse: todos os personagens têm famílias disfuncionais em alguma medida. Safronov não é exatamente um modelo de pai. Toropov é um péssimo marido. O detetive Borisovich (Kirill Polukhin) sequer tem uma família. Essa sobreposição de conflitos, aliada à devoção inabalada de Arisa para manter sua família segura, desperta a empatia do público pelo robô. Sem ignorar os excelentes trabalhos de Paulina Andreeva e do departamento de maquiagem, capazes de tornar a atriz num robô crível.

Infelizmente, após uma primeira metade empolgante, “Better Than Us” perde fôlego. Além de não explorar a fundo elementos da história, como os Liquidantes e o governo, ou de subtramas ricas como a “kubrickiana” história de luto e depressão da esposa de Toropov Svetlana (Irina Tarannik), algumas reviravoltas no roteiro são tão desnecessárias quanto sem sentido. A série tem conteúdo para os 16 episódios da temporada, mas parece ter sido escrita para apenas 10. Isso faz a história andar em círculos e ficar inchada.

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Mesmo se perdendo na conclusão e criando ganchos desnecessários para uma nova temporada, “Better Than Us” oferece um vislumbre de um tema tão conhecido por nós sendo abordado com uma ótica completamente distinta, no estilo e nos valores. Só por isso, a série já merece uma chance. Assista a todos os episódios clicando aqui.

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