Conferência

Conferência

No meio do caminho entre drama pessoal e trauma coletivo

Júlia Pulvirenti - 16 de outubro de 2021

Alguns filmes podem ficar conhecidos, de forma pejorativa, como “filmes de festival”. Sem desmerecer os festivais, é claro, mas esse tipo de produção possui algumas peculiaridades que ajudam a caracterizar desta maneira: a busca constante pelo impacto, narrativa mais arrastada e uma fotografia considerada “bonita”. Acredito que este seja o caso de Conferência, de Ivan Tverdovskiy.

A obra é baseada em uma tragédia real, ocorrida em outubro de 2002, que ficou conhecida como “Crise dos reféns do teatro de Dubrovka”. O ato terrorista contou com 42 chechenos armados, 850 reféns e, ao menos, 170 pessoas mortas. No filme, acompanhamos a realização de um memorial para as vítimas do atentado, 17 anos depois. Já no primeiro plano, o espectador é colocado no teatro onde tudo aconteceu. Há apenas cadeiras vazias e uma pessoa limpando a sujeira. Com isso, temos a ideia de algo que está esquecido, que ninguém liga mais. Essa ideia guia os 129 minutos da obra, mas se perde em meio a um drama pessoal e uma espécie de redenção da protagonista.

O filme demora a se desenvolver e insiste na estética de festival, falada anteriormente. Há vários momentos com enquadramentos estranhos, em que as pessoas estão pela metade, que não parecem se justificar pela linguagem. A fotografia extremamente nítida e fria não colabora para a identificação/empatia com os personagens. A sensação é de artificialidade, algo forçado demais.

Boa parte da narrativa se passa dentro do teatro, durante a reunião dos reféns. E é simplesmente muito cansativo assistir à essa sequência. Ainda que os diálogos sejam tristes e os testemunhos impactantes, não há nada além do texto que reforce esse impacto emocional. A mise-en-scène causa distanciamento o tempo inteiro. Mesmo que a intenção do diretor seja escancarar essa indiferença das pessoas em geral com quem estava na tragédia, a experiência acaba sendo ruim. Além disso, existe uma questão familiar a ser resolvida entre três personagens, que fica completamente deslocada do arco principal do filme.

É triste que um filme que fale justamente sobre a importância de não esquecer apareça de uma forma tão esquecível.


Este texto faz parte da nossa cobertura para a 10ª edição do Olhar de Cinema.
Para conferir nossas outras críticas, clique aqui.
Topo ▲