Independence Day: O Ressurgimento

Independence Day: O Ressurgimento

Matheus Fiore - 24 de junho de 2016

Vinte anos após o filme que elevou sua carreira de patamar, o diretor alemão Roland Emmerich volta para co-produzir, co-escrever e dirigir a continuação de Independence Day. Trazendo com ele boa parte do elenco do filme de 1996, o diretor agora conta com um orçamento  abissalmente maior (165 milhões de dólares contra os 75 do original) e tinha tudo para entregar um dos maiores blockbusters do ano, mas não consegue mais do que um filme fraco.

A história se passa vinte anos depois dos acontecimentos do primeiro. A humanidade agora desfruta de uma longa paz e, com ajuda da engenharia alienígena, alcança muitos avanços em vários  campos tecnológicos, como por exemplo a estação lunar habitada por alguns dos mocinhos do filme.

O filme até começa bem, situando o espectador na  história e apresentando os personagens. O problema começa quando estes precisam ser desenvolvidos. O roteiro erra coisas básicas como desenvolvimento de arcos (todo personagem deveria começar o filme num ponto A e terminar num ponto B). Nenhum deles (nem o protagonista Jake, vivido pelo limitado Liam Hemsworth) amadurece algo no filme. Aliás, a humanidade inteira parece não ter aprendido nada com os acontecimentos de 1996. Mesmo quase tendo sido obliterada pela invasão alienígena, cometem os mesmíssimos erros (que passam do limite da burrice e se tornam incoerentes).

Além da total ausência de profundidade em qualquer um deles, os personagens não têm seu tempo de tela cadenciado devidamente. Alguns dos veteranos do original (que aqui são coadjuvantes) ganham muito mais destaque do que o trio principal. Certas figuras são apresentadas como “heróis” da humanidade, mas mal possuem dez minutos de tela.

Esta superficialidade acaba tirando todo o impacto das cenas de ação. Roland Emmerich faz, novamente, o que sabe fazer melhor: criar destruição em grande escala. Assim como em Independence Day, O Dia Depois de Amanhã, 2012 e Godzilla, o alemão consegue criar boas sequências e torná-las divertidas mas não cansativas (ao contrário do colega de profissão Michael Bay). Há bons momentos, principalmente quando a nave alienígena chega na Terra.

O roteiro, porém, consegue atrapalhar até as boas cenas do filme. Quando não há desenvolvimento, não há como se comover com a morte de um personagem. Há peso visual, mas não narrativo. Além disso, o excesso de coincidências e incoerências (figuras surgem sem explicação e tomam atitudes inexplicáveis) torna a trama forçada e mal amarrada.

Outro fator que prejudica o filme é a má fotografia, que força tons azulados para tentar dar uma ideia de modernidade tecnológica (principalmente dentro das naves e estações). Este excesso acaba impedindo que a iluminação anil tenha efeito narrativo em outros momentos.

Apesar de mal editado, o filme tem uma competente montagem que não deixa as enormes cenas de ação serem cansativas e nem as cenas de diálogo serem monótonas (apenas expositivas demais, mas, novamente, por culpa do roteiro).  Os 120 minutos de Independence Day: O Ressurgimento não são tão sentidos, o que dá a sensação de que o filme poderia ter dez minutos a mais para dar mais personalidade aos personagens.

A trilha sonora funciona corretamente, com exceção de dois momentos onde emula Star Wars e Batman Vs Superman. Como não há muitos momentos dramáticos, ela não tem espaço para acompanhar as emoções. Aliás, todos os momentos que deveriam ser dedicados ao desenvolvimento dos personagens são transformados em alívio cômico. Infelizmente as piadas são todas banais e já foram usadas exaustivamente em dezenas de outros filmes. O longa acaba não tendo peso, e nos impede de temer pela vida dos heróis, por não conseguirmos nos identificar com eles.

Todos estes momentos de drama e conflito são comprimidos no primeiro ato do filme, deixando o meio e o clímax juntamente dedicados somente à ação. Os estereotipados personagens, com seus frágeis romances e piadas excessivas dão um tom “anos 90” ao filme, o que não é necessariamente ruim, mas em Independence Day: O Ressurgimento é um fracasso.

O final ainda deixa um gancho para uma possível terceira parte que até é promissor, mas que fugiria muito da proposta dos dois primeiros. Mesmo sendo um dos filmes “pipoca” mais clichês do seu tempo, Independence Day: O Ressurgimento pode vir a divertir o público com suas piadas e sequências de ação, mas não deixa de ser um imenso desperdício de oportunidade de trazer algo novo ao gênero. O ponto alto do longa acaba sendo a nostalgia de ver um filme noventista com visual anos 2000. No fim das contas, esta continuação acaba sendo mais um remake de um dos grandes blockbusters do fim do século passado do que uma segunda parte.

 

Topo ▲