“Fita 1, Lado B” é precedido por “Fita 1, Lado A”. Para ler a crítica do primeiro episódio, clique aqui.
A morte assombra os vivos. O suicídio, como um “bônus”, também confunde. Os motivos para alguém tirar a própria vida nunca são claros para quem permanece. Para os pais, é a certeza de que algo está lhes escapando. O controle que a mãe de Clay (Amy Hargreaves) tenta exercer sobre ele, que descobrimos ter um histórico médico de depressão, é uma “maternidade intensiva”. A sensação de que uma morte próxima foi um aviso de que o próprio filho está em perigo, mas que ela será melhor. Seu filho não vai se matar porque ela é uma boa mãe. É um espetáculo do ser humano transformar a tragédia alheia em palco para estrelar as próprias pequenezas.
Para o suicida, entretanto, o processo dialético beira o óbvio. Hannah sabe porque se matou e sabe porque suas fitas não serão ignoradas. “Fita 1, Lado B” trata desta dinâmica “complicada” na qual uma pessoa aceita ouvir como contribuiu para a morte de alguém para poder descobrir quem são os outros iguais a ela.
Neste lado da fita, Hannah fala sobre Jessica (Alisha Boe) e Alex (Miles Heizer), seus dois melhores amigos na escola, e como essa relação azedou. Seu relato guarda informações ocultas nos subtextos. Sem dar spoilers, Hannah foi usada. E percebeu que a amizade entre ela, Jessica e Alex não poderia durar porque ela não era boa o bastante para manter dois amigos como eles por muito tempo. Como ela diz, de algumas mulheres “as pessoas gostam de gostar”. De outras, espalham boatos.
Existem dois momentos inconvenientemente familiares neste episódio. No primeiro, Bryce Walker (Justin Prentice) é homenageado como capitão da escola. É citado como “inspiração para todo o time (de basquete), amigo de todos, um valentão e um líder nato” e é aplaudido por um auditório lotado. Foi Bryce quem pegou o celular de Justin e vazou a foto de Hannah para o colégio inteiro. Neste momento, lembro de Woody Allen, que estuprou a filha adotiva Dylan Farrow, lançando um filme a cada cinco anos. Ou de Casey Affleck, com dois processos por assédio de sexual nas costas, ganhando o Oscar de Melhor Ator.
No outro, a mãe de Hannah tenta recolher provas de que a filha se matou por sofrer bullying. Mas o pai (Brian d’Arcy James), já demonstra sinais de que não quer ir adiante. “Podemos descobrir algo que não queremos”, ele diz. Porque, mesmo um pai acaba vendo a filha como uma vadia em potencial. Neste momento, Hannah morre mais uma vez.
“Fita 1, Lado B” não tem o impacto do primeiro episódio, mas se aprofunda na história. Mesmo com a locução de Hannah perdendo um pouco do viço, dá a entender que há algo de – ainda mais – podre neste suicídio. Esperemos que Clay ouça de uma vez.
Para ler a crítica do terceiro episódio, “Fita 2, Lado A”, clique aqui. Para assistir a todos os episódios, clique aqui.