Guia de publicações da série especial sobre a obra de J.R.R. Tolkien:
Húrin teve uma vida de frustrações e um fim trágico. Agora, analisaremos a trajetória de outro membro de sua família.
Tuor é filho de Huor, sobrinho de Húrin e, consequentemente, primo de Túrin. Seu arco se desenvolve paralelamente ao de Túrin, com sua jornada ao reino de Gondolin e a conversa com o rei Turgon descritas em Contos Inacabados e a consequente Queda de Gondolin presentes no Silmarillion. A história dos primos é semelhante nos temas, mas diferente nas resoluções, como um espelho. Tudo o que se repete, acontece ao contrário.
O destino de Tuor foi definido por Ulmo e não Morgoth. Enquanto Túrin odiava os deuses que, segundo ele, lhe viraram as costas, Tuor seguia sem questionar seus desígnios, mesmo quando não os entendia plenamente. Ele chega aos portões de Gondolin sem a menor ideia do que dizer, mas confiante de que será iluminado pela inspiração no momento adequado. Enquanto Túrin abomina, Tuor tem satisfação em ser um objeto da vontade de forças superiores.
Também não há, por parte de Gondolin, questionamento nenhum a respeito da veracidade do que Tuor diz, pois Ulmo havia avisado a Turgon que alguém como ele chegaria para ajudá-lo e traria instruções que ele deveria seguir para salvar seu povo.
A importância que Ulmo tem para os personagens deste arco fica clara nos dois trechos abaixo citados:
– Ergue-te, Tuor, filho de Huor! – disse Ulmo. – Não temas minha ira embora eu muito tenha te chamado sem ser escutado (…).
– Mas qual é minha meta, Senhor? – perguntou Tuor.
– Aquilo que teu coração sempre buscou – respondeu Ulmo -: encontrar Turgon e contemplar a cidade oculta. Pois estás assim armado para seres meu mensageiro, nas próprias armas que outrora decretei para ti.
Contos Inacabados. De Tuor e sua chegada a Gondolin, p. 18
– Agora não é necessária mais nenhuma prova – disse Erthelion por fim -, e mesmo o nome que afirma ter, como filho de Huor, importa menos que a clara verdade de que ele vem do próprio Ulmo.
Idem, p. 48
Chegando ao reino secreto, Tuor teve de passar pela série de portões que garantiam a segurança do reino. E nenhuma escolha foi arbitrária.
Todo um sistema inexpugnável de proteção que se provou inútil frente à vontade dos deuses. Quando Fëanor cometeu o Fraticídio de Alqualondë, condenou a obra dos noldor ao desaparecimento. Nargothrond já havia caído pelo orgulho de Túrin e Doriath, pela imprudência do rei Thingol. Tivesse menos apego às criações de suas próprias mãos, Turgon saberia que Gondolin não resistiria para sempre. Nada resiste para sempre. E esta decisão que não respeita uma ordem direta de Ulmo (assim como Túrin ignorara sua ordem e condenara Nargothrond) se provou decisiva.
(…) Turgon fora dominado pelo orgulho, e Gondolin se tornara bela como uma lembrança da Tirion élfica. E Turgon ainda confiava no segredo de sua localização, bem como em sua força inexpugnável, muito embora um Vala as negasse. Além disso, depois da Nirnaeth Arnoediad, o povo daquela cidade desejara nunca mais se intrometer nas desgraças de elfos e homens de fora nem voltar ao oeste passando por perigos e pavores. Cercados atrás de colinas encantadas e sem trilhas, eles não permitiam a entrada a ninguém, mesmo que estivesse fugindo de Morgoth, perseguido pelo ódio. E as notícias das terras lá fora chegavam a eles sem impacto, distantes e eles não lhes davam grande atenção. Os espiões de Angband procuravam por eles em vão; e sua morada era como um rumor e um segredo que ninguém conseguia desvendar.
O Silmarillion. De Tuor e da queda de Gondolin, p. 306
A traição de Maeglin, apesar de anunciada desde a sua concepção, não pode ser considerada como mais do que a forma pela qual a maldição de Mandos se manifestou. O destino de Gondolin há muito já estava definido. O que Turgon perdeu foi a chance de salvar seus súditos.
Mas dessa tragédia nasceu a esperança para os Filhos de Ilúvatar e a chance de um recomeço para Arda. E foi graças a uma Silmaril, responsável por desencaminhar os noldor, que um emissário pôde parlar com os Valar em nome de elfos e homens contra Morgoth. Curta a página do Plano Aberto no Facebook para ser avisado das novas publicações!