Em seu season finale, o terceiro ano de Better Call Saul traz alguns dos momentos mais impactantes da série. Alguns por iluminarem momentos anteriores aos acontecimentos de Breaking Bad que sempre estiveram nebulosos no imaginário dos fãs, outros por terem um impacto emocional que poucas séries podem proporcionar. Em meio a tudo isso, Lanterna é um epílogo das relações de Chuck com seu irmão Jimmy e Howard.
O episódio começa com um flashback da infância dos irmãos McGill. Em uma cabana no quintal de casa, Chuck lê uma história para Jimmy enquanto a câmera se aproxima, ensaiando transformar-se num close-up da dupla até que um brusco movimento a desloca para a lanterna, o objeto central da relação dos irmãos. A mudança no foco do plano não é gratuita e muito menos uma rima visual vazia. A lanterna é, ao fim da temporada, o último elo de Chuck com seu caçula.
A ruína de Chuck já era retratada desde o início da série, mas aqui ela ganha nuances que mostram o reflexo negativo nas outras pessoas de seu convívio. Howard, por exemplo, mostra-se extremamente afetado pelo possível dano financeiro que a rescisão com seu ex-sócio gerará. Ao nos mostrar que o escritório não vai bem e retirar do próprio bolso o dinheiro para pagar McGill, vemos o orgulho ferido de um personagem que, até aquele momento, nunca mostrou alguma fragilidade. No plano que fecha a despedida de Chuck, enquanto o personagem sai da empresa, vemos sua imagem ser tomada pela luz do lado de fora do prédio, como se estivesse sendo fritado, dentro de uma lanterna.
Fugindo da trama principal, tivemos um momento importante no cânone de Breaking Bad, que foi a cena específica em que Hector Salamanca passa mal e, possivelmente, terá suas funções motoras prejudicadas. Na cena, destacam-se dois elementos. O primeiro é a grande atuação de Michael Mando, que praticamente sem diálogos expressa a apreensão de Nacho com o ocorrido. O segundo é a reação dos personagens em volta quando Hector vai ao chão. Os três capangas presentes do mafioso apenas observam sua queda sem reação, como se não prezassem por sua segurança. O único que demonstra algum interesse em salvar sua vida é… Gustavo Fring. E, claro, sem boas intenções. Como dito anteriormente, Gustavo não quer que Hector morra, mas sim que permaneça vivo e tenha um tortuoso fim de vida para ver seu império cair. Em uma curta e impactante cena, o texto de Lanterna fortalece o ódio atraído pela figura de Salamanca assim como o ódio de Fring pelo sujeito.
Durante toda a terceira temporada Better Call Saul desenvolveu os arcos de seus personagens com paciência. Lá no começo da série os problemas eram plantados. Alguns tardaram, como o de Nacho tendo sua vida pessoal invadida por Hector, mas cada episódio foi tratado como uma rodada de um jogo de xadrez e as peças começam a ser removidas do tabuleiro aos poucos. Em cada arco de cada personagem há uma diferente forma de lidar com pressão. Alguns se transformam (como acontece com Jimmy, que aos poucos se torna Saul), alguns aderem à violência (Nacho), alguns se corrompem (Mike em parceria com Gus) e alguns não a suportam (Chuck). Ao fim da temporada, vemos a mais impactante cena da série até aqui fecha uma linda rima visual, com uma lanterna plenamente acesa abrindo o capítulo e fechando não só a temporada, mas o ciclo de Chuck, um perturbado e melancólico personagem.