Plano Aberto

Better Than Us – 1ª temporada

Diferente da maioria das séries do gênero, “Better Than Us” é uma ficção científica com algo a oferecer. Bebendo de fontes clássicas como Isaac Asimov, Philip K. Dick e Stanley Kubrick, a produção russa consegue projetar um futuro de tecnologia factível e calcada nas relações humanas. Mais importante, sem ceder à pasteurização globalizada: “Better Than Us” é uma série russa com particularidades russas compondo a trama.

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À primeira vista, “Better Than Us” soa como uma imitação de “Eu, Robô”, filme de 2004 protagonizado por Will Smith: um robô comete um assassinato e vira alvo de uma investigação da polícia, enquanto a empresa responsável por ele tenta desaparecer com as provas do crime. Mas se o filme de Alex Proyas foca no aspecto detetivesco da história, “Better Than Us” está preocupada com as pessoas deste mundo hi-tech. Em como a tecnologia se insere num país como a Rússia, de religião cristã ortodoxa e politicamente fechada, quase uma autocracia fundamentalista.

Os primeiros episódios da série são muito bons para desenhar este panorama. Em um programa de TV ao estilo “Casos de Família”, é colocado em debate se transar com um robô sexual pode ser considerado traição. Victor Toropov (Aleksandr Ustyugov), presidente da CRONOS, defende que o sexo com robôs inibe a “sordidez” da prostituição. O grupo terrorista “Liquidantes” prega a destruição dos robôs, principalmente porque eles tiram os empregos das pessoas. E o governo russo planeja impor uma Reforma Previdenciária que obrigue as pessoas a se aposentar mais cedo, exatamente para substituir a mão-de-obra humana por robôs que não tiram férias ou se organizam em sindicatos.

O protagonista Gregory Safronov (Kirill Kyaro) está tentando viver à margem de toda essa discussão político-filosófica quando descobre que a ex-esposa Alla (Olga Lomonosova) planejava se mudar para a Austrália com os seus filhos. Tentando manter Sonya (Vita Kornienko) e Egor (Eldar Kalimulin) perto de si, o caminho de Gregory encontra o de Arisa (Paulina Andreeva), o robô-assassino de última geração que a CRONOS deseja produzir em massa para substituir os humanos quando a reforma de previdência for aprovada.

Capaz de identificar e compreender emoções humanas, o propósito de Arisa é cuidar de sua “família”. O grande tema de “Better Than Us” é exatamente esse: todos os personagens têm famílias disfuncionais em alguma medida. Safronov não é exatamente um modelo de pai. Toropov é um péssimo marido. O detetive Borisovich (Kirill Polukhin) sequer tem uma família. Essa sobreposição de conflitos, aliada à devoção inabalada de Arisa para manter sua família segura, desperta a empatia do público pelo robô. Sem ignorar os excelentes trabalhos de Paulina Andreeva e do departamento de maquiagem, capazes de tornar a atriz num robô crível.

Infelizmente, após uma primeira metade empolgante, “Better Than Us” perde fôlego. Além de não explorar a fundo elementos da história, como os Liquidantes e o governo, ou de subtramas ricas como a “kubrickiana” história de luto e depressão da esposa de Toropov Svetlana (Irina Tarannik), algumas reviravoltas no roteiro são tão desnecessárias quanto sem sentido. A série tem conteúdo para os 16 episódios da temporada, mas parece ter sido escrita para apenas 10. Isso faz a história andar em círculos e ficar inchada.

Mesmo se perdendo na conclusão e criando ganchos desnecessários para uma nova temporada, “Better Than Us” oferece um vislumbre de um tema tão conhecido por nós sendo abordado com uma ótica completamente distinta, no estilo e nos valores. Só por isso, a série já merece uma chance. Assista a todos os episódios clicando aqui.

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