Plano Aberto

Flaked – 1ª temporada

Nem só de sucessos vive a Netflix. Se por um lado temos House Of Cards, Better Call Saul, Demolidor, Jessica Jones e Orange Is The New Black, por outro temos os fracassos de The Ranch e Flaked. A segunda, a qual será analisada aqui, foi idealizada e estrelada pelo excelente Will Arnet, responsável pelo ótimo Gob, de Arrested Development. Apesar de melhor que The Ranch, é também um fracasso desde a concepção do roteiro.

A série acompanha Chip, que, dez anos depois de se envolver em um acidente de carro que resultou na morte de uma pessoa, tenta reconstruir sua vida em Venice, distrito no oeste de Los Angeles. Chip agora é o padrinho de um grupo de Alcoólicos Anônimos e administra um pequeno comércio na cidade.

Se em Arrested Development Arnet se destaca pelo humor físico, com muitas gesticulações e caretas, além de bem acompanhado por um inteligentíssimo roteiro, em Flaked o ator tenta um caminho diferente, imprimindo uma atuação séria e pesada. E até o faz com competência, o problema é o roteiro não acompanhar esta escolha.

O maior defeito de Flaked é não ter um foco definido. Apesar de se vender como uma comédia, a série tem um primeiro episódio extremamente dramático, mostrando um protagonista deprimido e assombrado por seu passado. Os coadjuvantes são os responsáveis por tentar dar humor ao programa, mas com exceção de Cooler, o amigo “porra-louca” de Chip que pouco aparece, todos falham miseravelmente por serem sérios demais.

Perto do meio da temporada, o espectador pode se pegar mais interessado em subtramas de coadjuvantes do que na história principal. O arco dramático de Chip começa interessante, mas se encerra sem nenhum diálogo sobre já na primeira metade da série. Dennis, que deveria ser um dos alívios cômicos, se mostra um personagem tão perturbado e infantil quanto Chip, e incapaz de emocionar ou provocar qualquer risada. E London, a terceira principal, é um personagem extremamente previsível e vazia, e nem os roteiristas souberam explicar suas reais motivações.

O humor que deveria ser o carro chefe é o ponto fraco da série. Praticamente não há piadas, e as que existem são muito fracas. O drama é o ponto forte, mas mesmo assim é subaproveitado. A questão de Chip e seu alcoolismo poderiam facilmente ser o ponto central de uma série dramática, mas não chegam nem na metade da temporada.

O que poderia salvar (pelo menos para parte do público) é o romance, mas esse também é porcamente retratado. Praticamente a única cena romantica da série é uma das que abre o último episódio. Este, aliás, é o episódio que concentra todos os bons acontecimentos e viradas de Flaked. Se a série abraçasse mais o tom dramático e espalhasse os acontecimentos do último pelos episódios anteriores, para poder focar em desenvolve-los, talvez a Netflix tivesse em suas mãos uma série dramática “assistível”.

Também ruim é a trilha sonora. Desconexa, não consegue achar um tom dramático nem cômico, e em certos momentos parece até debochar da falta de qualidade da produção. Tão ruim quanto é a direção, que não ajuda a desenvolver personagens, trama, e passa a impressão de ter apenas um assistente segurando uma câmera.

Flaked é uma série que até apresenta boas ideias, mas não executa nenhuma com qualidade. Provavelmente o primeiro grande fracasso da Netflix, a série não deve receber uma segunda temporada. É um verdadeiro desafio chegar ao último episódio, mesmo só existindo oito. Que Will Arnet possa retornar em Arrested Development com dignidade e voltar a fazer o que faz melhor: humor. O de verdade.

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