Plano Aberto

Game of Thrones 8×01 – Winterfell

Após dois anos de espera, finalmente a oitava e última temporada de “Game of Thrones” está entre nós. Em seu episódio de retorno, “Winterfell”, a série baseada na obra de George R. R. Martin retorna fortalecendo algumas ideias sugeridas nas temporadas anteriores, mas também revivendo momentos marcantes das temporadas anteriores – a conclusão do 8×01 é a continuidade de um ciclo iniciado no 1×01, por exemplo – e trazendo até novas nuances políticas para enriquecer a disputa por poder que dá nome à série.

O capítulo foca principalmente em Winterfell, cidade que está sob o comando de Sansa Stark. Chegam na cidade Daenerys Targeryan, Jon Snow e o exército liderado pela dupla – além, claro, os coadjuvantes de luxo, como Tyrion e Varys. É interessante que, diferente da expectativa de boa parte do público, “Winterfell” não volte simplesmente direcionando o foco de todos os personagens para a única coisa que importa: a batalha contra o Rei da Noite. Enquanto Cersei possui planos ainda desconhecidos para lidar com a situação, a chegada de Daenerys a Winterfell desperta uma rivalidade entre ela e Sansa que tende a gerar conflitos interessantes na série.

Ambas as personagens disputam o apoio de Jon Snow. Enquanto Sansa foi criada como irmã de Jon e vê nele um porto seguro, Daenerys aos poucos se envolve emocionalmente com Snow – e está prestes a descobrir que ele também é um Targeryan. O mais interessante do conflito, porém, não são suas pretensões dramáticas ou românticas, mas sim o fato de que esse entrave mostra como a disputa por poder (o mote principal da série) mantém-se viva em praticamente todos os núcleos da narrativa. Curiosamente, um dos principais personagens da série, Tyrion, parece ter se afastado das disputas políticas e se tornou um mero observador na última temporada, postura que aqui é mantida e que, possivelmente, sinaliza uma queda brusca em seu arco.

É simbólico que “Winterfell” seja ambientado na cidade do título, pois é um capítulo bastante interessado em reconectar os remanescentes da casa Stark às suas origens e, além disso, definir novos olhares para as relações entre os personagens e seus inimigos. A visita de Jon – o protagonista – ao santuário dos Stark, por exemplo, mostra como há um movimento da série para resgatar os valores que norteavam a saga em suas primeiras temporadas. Em um momento onde todos brigam por poder, “Game of Thrones” parece sinalizar que há um núcleo forte que não agirá baseado apenas no desejo pelo poder, e sim por suas crenças morais, legado deixado justamente por Ned Stark.

Pelo fato de centrar-se mais nos núcleos dos “bonzinhos”,  é possível que “Winterfell” trabalhe de forma para desviar a atenção do público dos vilões – o Rei da Noite e seu exército pouco participam do episódio, assim como Cersei –, algo que nos deixa ainda em dúvida quanto aos futuros planos desses personagens. O interessante é que, mesmo que não vejamos esses personagens agindo, o fato de o capítulo ter em seu encerramento um ato de intimidação do Rei da Noite é um fator de peso para pensarmos que as intrigas menores ambientadas em Winterfell acabarão sendo apenas uma forma de atrasar os protagonistas enquanto o principal antagonista move suas forças em sua direção.

Se, em suas primeiras seis temporadas, “Game of Thrones” surpreendia o público com diversas viradas e mortes surpreendentes, no sétimo ano, a série foi muito criticada por se assemelhar a uma fanfic. Muitas teorias dos fãs foram comprovadas e muitos relacionamentos amorosos tornaram-se o centro narrativo de vários capítulos. Apesar de “Winterfell” sugerir que a oitava e última temporada não abdicará desses momentos mais românticos, o fato de seu encerramento ser a execução de um plano do antagonista em movimento contra os protagonistas dá a pista de que o seriado ainda tem potencial para surpreender. Não seria de se espantar, por exemplo, que os vilões aproveitassem as disputas por poder internas entre Stark e Targeryan para ganhar território e atacar primeiro.

Parece faltar, porém, um estrategista na trama. O principal de toda a série, Mindinho, morreu no ano anterior. Além dele, restam Tyrion e Varys, mas ambos ocupam posições muito passivas e menores desde a sétima temporada. Isso reflete diretamente na rainha que essa dupla de personagens defende: Daenerys, personagem que parece mais afastada de seus conselheiros mais inteligentes e inclinada a fazer decisões políticas e estratégicas precipitadas antes mesmo de assumir o trono. A personagem desenvolveu uma arrogância que, pelo histórico da série, não traz bons frutos. Sua impetuosidade, prepotência e irredutibilidade podem ser sinais de que a série virá a nos surpreender de novo ao puxar o tapete da rainha dos dragões.

Há pouco a se comentar sobre “Winterfell” além das referências aos primórdios da série, justamente por ser um episódio focado no mapeamento dos núcleos e na apresentação dos novos conflitos. O que podemos vislumbrar, porém, são os possíveis caminhos que a série trilhará: irá “Game of Thrones” honrar seu legado e punir personagens indecisos, fracos ou extremamente prepotentes, como Daenerys, Jon e Sansa, ou seguirá a curva agridoce adquirida no sétimo ano e transformará a trama política televisiva mais interessante da década em uma fantasia infantojuvenil melosa? Aguardemos.

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