A Luz Entre Oceanos conta a história de Tom Sherbourne (Michael Fassbender) e Isabel Graysmark (Alicia Vikander), casal que vive isolado do mundo na pequena ilha de Janus, operando o farol local. Tudo muda, porém, quando um barco chega na praia de Janus trazendo um bebê.
Tom é muito bem apresentado no primeiro ato. A atuação de Fassbender, fria no olhar e fisicamente relutante, aliada às boas ideias do roteiro e da fotografia, constrói um personagem atormentado por seu passado (o protagonista passou 4 anos na Primeira Guerra), com planos gerais que enaltecem o isolamento e falta de esperança do operador do farol. O mesmo carinho não é visto na construção de Isabel, que é infantil em praticamente todas as suas escolhas ao longo do filme, mesmo com a vivida atuação de Vikander, que encaixa perfeitamente com a personalidade de seu marido.
A introdução de Hannah Roennfeldt, a personagem de Rachel Weisz, inicialmente alavanca a narrativa, mas logo a enorme quantidade de viradas no arco dramático da personagem torna o filme bagunçado. Para justificar as mudanças de postura de Hannah, são inseridos alguns flashbacks mostrando lições que a mesma aprendeu com seu falecido marido, dando a impressão que estas cenas só estão lá para justificar os plot twists.
Analisando a parte técnica, A Luz Entre Oceanos encontra mais problemas. A trilha sonora é, inicialmente, muito boa, mas a partir do segundo ato é prejudicada pelos excessos. Ao invés de acompanhar e conduzir as emoções das cenas, passa a trabalhar o drama de forma pouco orgânica, principalmente quando há a trilha base feita orquestralmente e o piano dedilhado por cima. A montagem, que deveria ser responsável por esculpir o tempo da obra, torna-a arrastada e previsível, principalmente quando coloca os flashbacks que explicam as atitudes dos personagens justamente antes deles as tomarem.
A direção de Derek Cianfrance não sai da média, mas apresenta momentos interessantes. Há bonitas metáforas que relacionam a situação emocional de Isabel com seu piano. A construção do relacionamento de Isabel com Lucy também é muito forte e, mesmo não dando razão para as escolhas da personagem, cria um elo materno que enriquece a narrativa.
Mas há também maus momentos. Cianfrance não encontra a sensibilidade necessária para dar um tom emotivo em uma despedida. Em algumas cenas, faz mau uso de planos que, por mostrarem os personagens de longe, não evidenciam o sentimento entre os envolvidos.
Perdendo totalmente o ritmo na segunda metade, A Luz Entre Oceanos ainda funciona como drama graças às excelentes atuações de Fassbender, Vikander e Weisz. Infelizmente, os excessos técnicos e falta de criatividade narrativa impedem que o filme saia do comum.