Esquadrão Suicida é, sem dúvidas, um dos projetos mais ousados baseados em quadrinhos. Não só pelo absurdo orçamento de quase 200 milhões de dólares, mas por tentar organizar uma trama protagonizada exclusivamente por vilões. Infelizmente, o que poderia ser um filme diferente, criativo e divertido, acaba sendo uma das piores obras do século.
O primeiro ato é uma aula de o que não se deve fazer em um filme. A apresentação dos membros do esquadrão é pífia. Recorrendo a humor barato, efeitos especiais e trilha sonora apelativa, funciona apenas para introduzir o tom da película. A péssima montagem torna essa primeira parte gigantesca e vaga, pois apesar das cenas apresentarem o background dos “vilões”, nenhuma delas os desenvolve.
A edição do filme é pavorosa, repetidamente cortando planos antes da ação ou dos diálogos serem concluídos. Igualmente ruim é a direção. Em inúmeros momentos é difícil compreender o que acontece em tela pelo excesso de movimento durante a ação. O diretor David Ayer se esforça para fazer um trabalho estilizado e moderno, mas entrega apenas cenas confusas, tremidas e esqueciveis.
A trilha sonora é, provavelmente, o ponto baixo do filme. Em alguns momentos opta por usar canções consagradas de Queen, Rolling Stones, White Stripes, Kanye West, Eminem e até AC/DC para compor as cenas, mas nenhuma delas serve à narrativa. Pior ainda são as composições de Steven Price, que não apresenta nenhuma sutileza e trata todo dialogo como clímax, além de insistir em dramatizar cenas sem conflito algum.
As atuações, no geral, não estão tão ruins, com exceção da bizarra Magia de Cara Delavigne, mas são prejudicadas pela direção e pelo paupérrimo roteiro. A Arlequina de Margot Robbie está excessivamente caricata, tentando a todo momento provar ser a personagem mais maluca e engraçada possível, assim como o Coringa de Jared Leto. A excelente Viola Davis funciona no piloto automático como Amanda Waller, com total falta de carisma. Por outro lado, Will Smith como Pistoleiro e Joel Kinnaman como Rick Flag até se esforçam para entregar trabalhos decentes, mas se vêem acorrentados pela falta de direção e pelo script ruim.
O roteiro de Esquadrão Suicida, além de furado (a cena da Arlequina no helicóptero é injustificável e o time é formado para resolver um problema que só existe porque… o time foi formado) não consegue desenvolver nenhum de seus protagonistas. O único personagem que possui um arco dramático é El Diablo e, com exceção do mexicano, todos os “vilões” carecem de motivação. Além disso, o script insiste em retratar os personagens como os mais perversos e perigosos possíveis, mas, ao mesmo tempo, tenta mostrar que todos, no fundo, são bonzinhos, resultando em uma enorme incoerência narrativa.
Outro aspecto mal utilizado é a fotografia. Com enquadramentos estáticos que lembram o formato de programas de televisão, às vezes inclusive não conseguem encaixar toda a equipe na tela. Por outro lado, os figurinos do filme foram bem adaptados e passam um tom realista sem descaracterizar muito os personagens.
O que poderia salvar o filme é o humor, visto que Esquadrão Suicida passou por algumas refilmagens meses antes do lançamento, visando tornar o filme mais “divertido”. As piadas, porém, não são bem encaixadas nem divertidas. Em contrapartida, servem para mostrar uma boa química entre o elenco, que está bem à vontade em cena.
Esquadrão Suicida é um dos filmes mais fracos dos últimos anos e falha em expandir o universo DC Comics no cinema. Além de tecnicamente frágil, seu plot é clichê e desinteressante, apresentando uma vilã sem presença, carisma ou imponência. O terceiro ato prejudica ainda mais o longa, com uma cena entupida de computação grafica e incoerências narrativas. Se a Warner se preocupasse menos em comprar direitos de músicas consagradas e mais em contratar bons roteiristas, talvez pudéssemos ter um filme de maior qualidade. Não foi dessa vez que a DC encontrou seu Guardiões da Galáxia.