Lançado em 2013, Inferno, um dos mais recentes livros do escritor Dan Brown que traz as aventuras do historiador Robert Langdon, tinha potencial para ser o melhor filme da franquia iniciada em Código Da Vinci nos cinemas. Além de ter Tom Hanks confortável no papel protagonista, a saga já conhece os caminhos do público e tem Ron Howard com mais liberdade na direção. Isso sem contar as infinitas possibilidades narrativas de brincar com uma história que tem o clássico Inferno de Dante, um dos mais importantes livros da história da humanidade, como referência.
Inicialmente o filme é irregular. Apesar de exibir uma agradável e moderna estética, cheia de cores vibrantes e imagens bizarras que despertam curiosidade no espectador, o ato de abertura é confuso ao tentar colocar o público no ponto de vista do professor Langdon abusando de câmeras tremidas e cortes rápidos, que tornam alguns planos incompreensíveis e incômodos.
A trama demora a ser desenvolvida, usando a clássica muleta narrativa do “personagem com amnésia temporária”, empurra para o fim do segundo ato as revelações de alianças e traições que previsivelmente acontecem ao longo da película. O esforço de Howard em estilizar o filme é em vão por culpa do fraco roteiro de David Koepp, que enche a narrativa de coincidências e obviedades por preguiça de desenvolver personagens e subtramas..
Um dos pontos positivos do filme são os personagens. Apesar de boa parte ser estereotipada, alguns como o bilionário Zobrist (Ben Foster) e o empresário Harry Sims (Irrfan Khan) são interessantes e bem interpretados. A ótima Felicity Jones, porém, é extremamente prejudicada pelo script e não pode fazer muito como a médica Sienna. O principal problema referente aos personagens é a má construção das relações, forçando uma intimidade entre eles que resulta em alguns momentos constrangedoramente clichês (como a cena da ambulância no fim do filme).
Há três grandes decepções no filme. A primeira é a péssima trilha sonora de Hans Zimmer. Outrora genial, o compositor alemão parece ter desaprendido a construir qualquer sentimento que não seja drama intenso. A segunda é o pouco e mau uso de referências à obra original de Dante Alighieri. Tendo como base uma das principais obras literárias da história, limitar a narrativa a um jogo de gato e rato e apenas arranhar superficialmente questões como a superpopulação mundial é muito pouco. A terceira é o mau aproveitamento das inúmeras belas locações usadas pelo filme. É inaceitável que um longa que se passe em cidades como Florença, Veneza e Istambul tenha uma fotografia tão óbvia e sem vida.
Apesar de desperdiçar inúmeras oportunidades de trazer algo novo à saga e não ser fiel à própria estética sugerida pelo filme (que começa com um tom mais sombrio mas logo se torna apenas um Anjos e Demônios repaginado), Inferno não chega a ser um mau filme e tende a agradar os fãs de Dan Brown e os espectadores que buscam apenas um filme despretensioso e engraçado.