Plano Aberto

O Lugar Onde Tudo Termina (2012)

O Lugar Onde Tudo Termina The Place Beyond the Pines Derek Cianfrance Ryan Gosling

O diretor e roteirista Derek Cianfrance usa o carma como ferramenta na construção de suas histórias. Já havia demonstrado tal sensibilidade em “Namorados Para Sempre”, quando uma decisão tomada pelo casal protagonista no começo da relação se prova, anos depois, a responsável por seu término. Em “O Lugar Onde Tudo Termina”, o conceito é trabalhado de forma mais explícita e complexa, com ações gerando reações através das vidas e do tempo.

Quando “Handsome” Luke Glanton (Ryan Gosling) termina sua apresentação de moto no “globo da morte” – um belo plano-sequência encerrado num dissolve -, é confrontado pelo passado com a visita de Romina (Eva Mendes). Acaba descobrindo que o caso dos dois no ano anterior gerou um filho. Essa ação gera uma cadeia de reações: Luke decide abandonar o emprego na trupe itinerante para ficar mais próximo do filho, afetando diretamente a relação de Romina com seu novo parceiro Kofi (Mahershala Ali) e colocando-o no caminho de Robin (Ben Mendelsohn), um mecânico solitário com uma ideia para tirá-los da miséria.

Roubar bancos.

Uma análise mais crítica vai concluir que ação e reação movem não apenas toda ficção, mas toda vida no Universo. Uma cadeia de eventos trouxe você para ler um texto que eu decidi escrever como conclusão de outra cadeia de eventos. O ponto, e aí a obra de Cianfrance se diferencia do cinema tido como “convencional”, é que normalmente ninguém dá atenção a essas cadeias de eventos. A associação não é feita naturalmente. Talvez por isso, “O Lugar Onde Tudo Termina” sempre faça a transição entre duas cenas com dissolves, exatamente para mostrar que um acontecimento reflete no outro, que “ainda está acontecendo” ali.

E qual melhor forma de mostrar como o acaso tem um papel determinante nos rumos de uma vida do que contando mais de uma história? As decisões tomadas por Luke mudam completamente o destino do policial Avery (Bradley Cooper), então o filme decide acompanhá-lo mais de perto. Após um roubo a banco, a cena da perseguição abandona Luke e passa a ser filmada na perspectiva de Avery. Luke deixa de ser o protagonista para ser o antagonista numa guinada brusca, mas sutil. Passamos a vê-lo com os olhos do oficial da lei, que também tem uma série de decisões irreversíveis a serem tomadas.

O ângulo anterior, que registra os personagens de “O Lugar Onde Tudo Termina” pelas costas, esconde os seus sentimentos e intenções

Conforme “O Lugar Onde Tudo Termina” avança, o tema do destino ganha espaço e divide o protagonismo até então exclusivo do acaso. Os dois passam a trabalhar juntos, com o acaso “garantindo” que destinos sejam cumpridos. Uma vez que uma decisão inicia uma cadeia de consequências, é inevitável para todos os envolvidos que ela se desenrole até o fim. Isso abre um leque de possibilidades, muito bem exploradas pelo roteiro de Cianfrance e Ben Coccio. O filme tem momentos de drama, afeto, suspense e ação. Coerentemente, a trilha de Mike Patton (ele mesmo, o vocalista do Faith No More) não tem uma linha mestra de intenções. Pode ser acolhedora ou desconfortável. Rica ou minimalista.

Os personagens também são registrados sistematicamente por tomadas laterais, que colocam o público numa posição de mero espectador da ação: é como se o personagem captado pela câmera tivesse sua privacidade invadida por ela

Com uma conclusão que dialoga diretamente com a cena final, “O Lugar Onde Tudo Termina” encerra um arco que passa por personagens que tentaram de todas as formas evitá-lo, mas se viram presos a ele de forma irremediável. Foi o destino, mesmo que por acaso.

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