Desde o dia em que foi anunciada como sede dos jogos olímpicos de 2016, a cidade do Rio de Janeiro foi palco de inúmeras manifestações contra a realização do evento. O motivo era claro: como pode uma cidade com enormes e críticos problemas de saneamento básico, desigualdade social, saúde pública, educação e mobilidade urbana, investir bilhões em um evento esportivo esdrúxulo? De 2009 pra cá, então, várias formas de protesto aconteceram. Desde figuras da mídia criticando a situação caótica da cidade (e do estado) à manifestações organizadas pela população. Nesses momentos de crise, poucas coisas retratam tão bem uma situação quanto a arte, e é aí que entra Olympia 2016, o novo projeto do diretor Rodrigo Mac Niven.
O filme mescla um documentário sobre a corrupção sistêmica do país com a narrativa da ficcional cidade de Olympia, onde seus cidadãos têm suas “asas cortadas” pelos líderes políticos e um grupo busca chegar ao fundo dos escândalos de corrupção que permeiam os contratos olímpicos. Apesar de imaginária, a cidade, seus cidadãos e suas situações são baseadas em pessoas e casos reais.
A separação das duas linhas do filme é feita simples e claramente. Com exceção de um trecho, o documentário é totalmente em preto & branco, enquanto a história ficcional é colorida e faz questão de, a todo momento, mencionar um fato, mas sem seu nome original, fazendo uso de alguma clara referência.
O documentário entrevista desde jornalistas esportivos a advogados, professores e poetas. Os depoimentos têm o claro objetivo de mostrar como a corrupção não é exclusividade dos políticos do Brasil, pois está intrínseca em toda a sociedade. A parte mais interessante dessa faceta de Olympia é quando entrevistam moradores da Vila Autódromo, comunidade que fica entre o complexo olímpico e a Cidade do Rock. Lá há uma pressão intensa das autoridades para destruir as casas da região, pois estas supostamente “desvalorizam” o terreno.
A história ficcional é alternada com o documentário com muita competência, principalmente devido à boa e ágil montagem do filme. A estilizada direção faz bom uso de planos detalhe para esculpir sentimentos e sensações dos personagens, além de ter êxito ao construir um tom de suspense quando necessário. Por outro lado, por não ter o tempo necessário para desenvolver os personagens, essa trama acaba não sendo desenvolvida adequadamente e deixa alguns personagens “soltos” na narrativa. Além disso, a trilha sonora é irregular. Em alguns momentos é competente, mas as vezes é exagerada ao tentar intensificar um já notório drama ou melancolia presentes em cena.
Olympia é um projeto ousado, honesto e necessário, sendo até agora a melhor obra a respeito das Olimpíadas Rio 2016. O filme corretamente não faz questão de mostrar os poucos benefícios do evento e joga na cara do espectador a dura realidade, seja por meio de metáforas na trama fictícia ou pelos bons depoimentos na parte documental.