O natural da quebrada estoura em Enterrado no Quintal. O filme é conto de vingança dirigido por Diego Bauer, que faz uma participação singela no curta, numa cena aparentemente banal, mas que sintetiza os 15 minutos de correria e tensão que percorrem o curta. Na cena, nossa protagonista chega ao seu destino: casa de seu padrasto que violentava sua mãe. E agora ela tende a cumprir sua vingança. A arma na cintura de Isabela, e o estilete mostrado por Diego, ambos corpos paralisados pelo olhar um do outro numa rua cuja profundidade é repleta de casas lado a lado, do proposto periférico. O personagem de Diego não é nosso alvo, adianto. Mas a tensão do espaço causada pelos olhares dos dois, é que é. A distância da câmara e os definidos planos direcionados nos olhares e nas armas, nos remete ao faroeste. Tudo preenchido pelo digital em contraste com o cenário natural e direto.
A tônica do curta é essa, de alusões de gênero, percorrendo cenários cuja imagem vem como um estrondo poético pelo que se conta ou gritante pelo som que atropela. São situações que controlam a cena, junto da correria da carona que pegamos na moto de Isabela. O sol da tarde ilumina cada ato, enquanto o espaço escuro e fechado intensifica a relação dos personagens , ora entregando-se ao drama, ora à ação mais concentrada e catártica possível, tensionada pela emoção e remexida pela trilha.
Dentro de pequenos espaços, vemos uma jornada vingativa pelo conto enquanto a cena entrega embates de tensão que mexem com a imagem. Esta sendo posicionada pela câmera na mão. Uma handcam que não cansa. Desce e sobe as ruas e também tem o desejo de confiar nos espaços da jornada.
Diego filma o que é particular do conto ficcional dentro de um espaço que entrega a naturalidade absurda do dia a dia. Não há nenhum esconderijo aqui que nos faça tirar da vista o espaço periférico, ao mesmo tempo que somos o tempo todo carregados para outra dimensão. O controle imagético e sonoro nos desmonta e cria uma euforia carregada de tensão que resulta na experiência de Enterrado no Quintal. Um curta que começa com zoons em fotografias de arquivo, se desenrola em uma narração em primeira pessoa sobre a missão prestes a realizar, e seus embates seguintes calcados na distância e na raiva. Não sobra espaço nem para nós, nem para Isabela respirar, apenas após o fim de sua jornada, aliviados pelo disparo e pela conclusão do dia.