20º FESTCURTASBH – Mostra Cinema Negro: Genocídio

20º FESTCURTASBH – Mostra Cinema Negro: Genocídio

Yasmine Evaristo - 23 de agosto de 2018

A segunda sessão da Mostra Cinema Negro, que compôs o 20º FESTCURTASBH, vista pela equipe do Plano Aberto foi a do programa “Genocídio”. Os curtas escolhidos abordaram algumas das diversas faces do genocídio da população negra. Do documentário sobre um fato à ficção sobre o sucateamento da educação pública, temos a oportunidade de entender as várias facetas da violência provocada pelo racismo.

Jonas Só Mais Um Jeferson De 20º FESTCURTASBH

Fonte: 20º FESTCURTASBH

Jonas, Só Mais Um (2008)

Direção: Jeferson De
Rio de Janeiro, 13 min

“Jonas, Só Mais Um” é um documentário que dá voz aos familiares do jornaleiro Jonas Eduardo Santos de Souza, que em 2016 foi barrado na porta de um banco no centro do Rio de Janeiro e executado pelo segurança. A sequência de depoimentos se inicia com o ator Caio Blat, que na época da gravação era patrão do pai de Jonas, e continua com os relato dos pais e irmãos do jovem assassinado.

Os relatos clamam por justiça e apontam as incoerências da investigação desde o momento em que aconteceu o crime – um dos irmãos conta que o corpo foi deslocado – até todo o processo que primeiramente inocentou o segurança, mas depois foi reaberto. Além das questões relacionadas ao caso em si, há também falas sobre a manutenção do racismo na sociedade brasileira.

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Dona Sônia Pediu uma Arma Para Seu Vizinho Alcides Gabriel Martins 20º FESTCURTASBH

Fonte: 20º FESTCURTASBH

Dona Sônia Pediu uma Arma Para Seu Vizinho Alcides (2011)

Direção: Gabriel Martins
Minas Gerais, 18 min

Dona Sônia é uma mulher silenciosa. Introspectiva, lava vasilhas enquanto um personagem entra em cena e conversa com ela. Ele é ignorado até o momento que afirma saber “onde ele está”. Nesse ponto esse homem quebra a quarta parede e conta ao espectador que Sônia tem uma história triste de vida: seu filho foi assassinado na sua frente por um jovem que lhe cobrava uma dívida. O personagem masculino ressalta que ela lava as vasilhas na pia como maneira de não pensar naquilo. A cada pia esvaziada, ela pensa na situação; a cada pia cheia, ela se permite esquecer a morte do filho.

O curta possui muitos elementos  gráficos, como marcas de tempo agindo na materialidade da película – simulando um filme antigo e envelhecido -, cores saturadas, enquadramentos centralizados e ambientes ornamentados. Há, dentro do filme, uma espécie de making off, no qual a personagem em cena “não interpreta”, mas sim lê o roteiro do que ela deveria estar interpretando.

Com essas escolhas, o filme satura a tela de informações visuais, em contraponto àquela senhora vivendo sua mudez. Essa ausência de sons é quebrada ao fim do curta, com o canto de hino/música “Quando Jesus Estendeu Sua Mão Para Mim”, que funciona no contexto como um pedido de redenção e como extrema unção.

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Chico Irmãos Carvalho 20º FESTCURTASBH

Fonte: 20º FESTCURTASBH

Chico (2016)

Direção: Irmãos Carvalho
Rio de Janeiro. 25 min

Na distopia “Chico”, ambientada em 2029, o governo possui uma medida de proteção: todos os jovens que tenham características que venham a potencializar seu ingresso ao crime são recolhidos. Em uma matéria jornalística exibida na TV, na sala de serralheria em que a mãe de Chico trabalha, somos informados desse fato. Os argumento usados pelas vozes que emanam do aparelho usam termos como”medida de segurança”, “cidadão de bem” e “jovens das camadas mais baixas”.

Em um Estado que afirma a discriminação por meio da redução da maioridade penal, as personagens do curta lutam pela sobrevivência. As demais “correrias”, no sobe-e-desce das escadarias da favela, ao som do funk “Bomba explode na cabeça”, do MC Dodô, se assemelham à ideia que temos das fugas dos africanos escravizados das senzalas, em busca de proteção e liberdade.

Em seu final, há, nas escolhas da mãe de Chico, um grande simbolismo de como a busca pelo fim da dor do genocídio acaba na maior parte das vezes sendo feita por meio de acordos de aceitação dos que nos massacram física e culturalmente.

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Preto Elton de Almeida 20º FESTCURTASBH

Fonte: 20º FESTCURTASBH

Preto (2015)

Direção: Elton de Almeida
São Paulo. 22 min

Em busca de sua identidade, um jovem ilustrador, filho adotivo de um casal branco, cria uma história em quadrinhos que dialoga com o “não lugar” que ele ocupa. A cada tentativa de entender quem ele é, ele se depara com a repetição de argumentos do racismo institucional, como idealizações do corpo do homem negro ou manutenção dos padrões de beleza que excluem ou colocam negros como exóticos.

O jovem se dedica à criação de um quadrinho que se mescla a sua realidade. Na narrativa de sua HQ há elementos da violência institucional que permite o extermínio daqueles que vivem à margem da sociedade e da cosmogonia africana.

O protagonista de “Preto”, inicialmente sem identidade, ao fim do curta se mostra como alguém que conseguiu encontrar suas raízes.

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Número e Série Jéssica Queiroz 20º FESTCURTASBH

Fonte: 20º FESTCURTASBH

Número e Série (2015)

Direção: Jéssica Queiroz
São Paulo. 15 min

No cotidiano da vida escolar, um grupo de crianças desenvolve um plano para entrar em uma sala. Ela sempre está trancada, e a única pessoa que a acessa é o disciplinário da escola. Em meio às artimanhas infantis para matar aula, um grupo de amigos se forma, compartilhando da mesma vontade: a de ter acesso ao conhecimento.

Em um filme leve e divertido, Jéssica Queiroz nos leva à reflexão sobre a morte simbólica do conhecimento. O sucateamento da educação pública de base é o foco de “Número e Série”. Ao som de um rock-maracatu, em câmera lenta, a fuga das crianças libertando seus “amigos” coroa toda a diversão daqueles que estão fazendo história naquela escola.

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