Histórias e Rimas: O Filme

Histórias e Rimas: O Filme

Documento passivo sobre a história do rap no Brasil

Claudio Gabriel - 23 de junho de 2021

Existem diversas formas e maneiras, além de tempos, para buscar contar a história da rima no nosso país. Poderia ser retomando a relação folclórica que existiu com o desenvolvimento do rap e hip-hop americano. Ou até mesmo buscando olhar do desenvolvimento nacional do gênero e as implicações sociais todas que saíram a partir disso. Mas o cineasta Rodrigo Gianetto buscou uma perspectiva mais contemporânea para realizar o documentário “Histórias e Rimas”. Através de gravações que foram de 2009 e 2019, ele busca, em entrevistas com artistas, tentar olhar as diversas facetas, personalidades e personalidades que formam o que seria o rap nacional.

De certa maneira, é um projeto ousado. E até se torna bem curioso como o filme assume realmente essa pompa própria nas entrevistas para a própria narrativa. Desse jeito, não faltam cenas que mostram o poder dos rappers com quem se está falando (por exemplo, quando eles são paparicados ou reconhecidos na rua) até mesmo uma busca mais estilística desse conceito (com câmera lenta para carros andando ou ao buscar um close de uma música sendo cantada quase por completo). Esses elementos geram uma certa forma que a obra vai se produzir, se entender como cinema, que causa um sentido interessante dentro do telespectador. É como se houvesse uma aura prévia que colocasse a pessoa dentro de um universo a ser trabalhado.

O grande problema é como essa ideia gera uma frieza no desenvolvimento da história. Assim, com diversas entrevistas bem marcantes, que vão a nomes consagrados, como Racionais e Black Alien, até quem veio mais recente, como no caso de Karol Conká, Emicida e Projota. Essa busca por observar como as variadas gerações observam o crescimento e idealização do rap nacional é curioso, mas se transforma em extremamente distante. É como se, apesar dos personagens abraçarem o conceito do documentário, a própria direção nunca tivesse muito interesse nisso. Desse jeito, são tantas entrevistas de diferentes óticas em menos de 1h30, que tudo se torna meio enfadonho.

Apesar disso, é nas sutilezas que Gianetto consegue transformar “Histórias e Rimas” em algo um pouco maior. São nos momentos que busca contar alguma história específica, como na composição de “Jesus Chorou”, dos Racionais, ou na forma que a música negra está relacionada com a construção do rap. Do mesmo jeito, quando o filme realmente busca acompanhar esses personagens e não ser uma mera ferramenta de perguntas (a parte que seguimos o trajeto de Marcelo D2 no Rio de Janeiro é curiosa nesse sentido), é quando ele cresce. Ao buscar esse lado recente, contemporâneo, que formaliza o rap sobre o que ele é e pode ser no Brasil, idealiza um longa com muito mais possibilidades.

O grande enfoque em buscar sempre a correlação entre passado e futuro até soa instigante inicialmente, mas vai se transformando em até bastante enfadonho. Chega a parecer, em certos momentos, que o documentário parece não ter uma verdadeira vontade de ir além disso, de buscar ousar em alguma outra camada para contar sua história. Em diversas possibilidades de brincar com essas linhas entrelaçadas do íntimo dos artistas para um lado macro, o filme se limita, em muitas ocasiões, ou em um, ou em outro. Falta uma certa substância de buscar assumir uma espécie de crescimento do gênero musical, buscar olhar profundamente para como os personagens estão verdadeiramente interligado na história e vida do movimento. Talvez o lado da temporalidade na produção tenha afetado nisso.

Mas é impossível não destacar o elemento de “rua” que transforma “Histórias e Rimas” em algo mais poderoso. É uma demonstração mais clara da relevância do movimento e desses cantores e artistas para a importância do rap como um fenômeno no país. Ao tratar essas personalidades como não apenas humanas, mas também reconhecidas, capazes de construir algo que afete as pessoas, Rodrigo Gianetto talvez consiga o ponto central de uma história que apenas cresce e se desenvolve, a cada novo dia, a música no país.

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