Quando Islands começa e vemos o protagonista, Joshua (Rogelio Balagtas), um filipino de cinquenta anos que ainda vive com seus pais idosos, pode-se achar que a narrativa adotará uma abordagem com viés cômico. Afinal, a sequência inicial causa um choque de estranheza, com aquele tipo de humor gerado pelo constrangimento alheio, ao vermos um homem daquela idade sendo servido pela mãe no prato. Não só isso, como ela também prepara sua marmita para o trabalho e ajuda-lhe a vestir seu casaco. Não é preciso de muitos minutos para que o roteiro apresente seu ponto de virada: o súbito falecimento da mãe do protagonista, cabendo a ele, que já era bastante dependente dela, também cuidar de seu pai, cada vez mais debilitado pela idade. Porém, o longa canadense de Martin Edralin está menos para uma comédia pautada na excentricidade de um homem de meia idade, como o blockbuster hollywoodiano de Judd Apatow, O Virgem de 40 Anos, e está mais para uma certa filiação com um cinema art house europeu, como Amor, de Michael Haneke.
Essa associação se dá tanto pela estética da mise-en-scène, quanto pelas situações geradas pelo roteiro. Não há dúvidas que Edralin opta por criar um universo frio e apático, seja nos personagens ou no modo de filmar, a partir de uma câmera sempre estática e com muitos planos gerais dentro daquela casa, diversas vezes trabalhando a questão do ritmo e do tempo. Igualmente como Amor, o que se vê são muitas situações que potencializam o drama da velhice, transformando pequenos atos, como o simples tirar de roupas para o banho, em esforços prolongados e dificultosos.
No entanto, há uma grande diferença entre as duas obras. Existe um um elemento presente em Haneke, mas faltoso em Islands. Naquele, apesar da frieza do universo, seus personagens não são frios. Pelo contrário, eles são humanos, com passado, apaixonáveis e com seus próprios erros. Ora, sabemos quem eles são. Aqui, falta esse elemento essencial. Ainda que se entenda a possível intenção da falta de profundidade do protagonista como reflexo de sua timidez (como se não fosse possível abri-lo nem para o público), na prática, o não entendimento de quem ele é, gera um afastamento emocional da audiência — o que não significa que o certo seria a “identificação”, pois nenhum filme precisa que o público se veja no protagonista —, que jamais vê motivações suficientes para se importar tanto com o que está acontecendo.
Fora isso, não parece haver exatamente uma progressão na sequência de cenas em que se vê Joshua ajudando seu pai — mais uma vez, diferente de Amor, pois, neste, conforme a trama avança, a morte chega cada vez mais perto —, mas um ciclo de repetições que vão apenas batendo na tecla o quão difícil está sendo a vida do protagonista nesta tentativa de se tornar independente e cuidar do pai. De fato, há de admitir que a narrativa ganha um fôlego extra com a entrada da prima, pois, com a possibilidade de interagir com alguém, o protagonista se torna alguém mais simpático e passamos a conhecê-lo um pouco melhor. Além disso, os diálogos entre os dois passam a tratar mais frontalmente a temática sociopolítica e cultural da imigração filipina, que antes parecia um subtexto enterrado demais para se fazer notar no meio do drama familiar do luto. Infelizmente, a mudança parece ser uma introdução um tanto quanto tardia para salvar Islands de suas próprias armadilhas.