Plano Aberto

Jigsaw: Jogos Mortais

Jigsaw

De volta aos cinemas, na franquia de sucesso da primeira década dos anos 2000, o assassino em série Jigsaw captura novas vítimas que precisam lutar pela sua sobrevivência. A rotina da polícia do universo “Jogos Mortais” tem ação constante. O novo filme começa com uma perseguição a um criminoso, que foge para o telhado de um prédio a procura de um controle remoto. Segundo ele, é necessário apertar aquele botão e decidir se quem morre é ele ou outras cinco pessoas.

Após balearem o rapaz, os detetives que participaram da ação, Halloran (Callum Keith Rennie) e Keith Hunt (Clé Bennett) investigam os motivos que levaram o foragido a falar sobre essas pessoas que correm risco de morte. Enquanto isso, um corpo “enforcado” aparece pendurado em um parque da cidade. O cadáver é direcionado aos cuidados do legista Logan Nelson (Matt Passmore) e sua auxiliar Eleanor Bonneville (Hannah Emily Anderson). Ao realizarem a autópsia encontram um pen drive, contendo uma gravação de áudio, com a voz que não se ouvia há uma década. Seguindo a ideia de seus antecessores, a semente da dúvida “Jigsaw está vivo” é plantada.

Os filmes da série narram a história de John Kramer/Jigsaw (Tobin Bell), um homem de meia idade, atormentado pelo câncer e por perdas na vida que fazem com que ele perca a fé na humanidade. Após uma tentativa de suicídio mal sucedida ele decide ensinar as pessoas lições de valorização a vida. Dono de uma mente perturbada, idealiza as coisas de maneira equivocada e acaba transformando um ideal de fé em banho de sangue.

Neste novo capítulo, ainda é por meio dos jogos  que as vítimas são obrigadas a repensarem na valorização que elas dão a sua vida e a vida alheia. Os escolhidos, nesse caso, são pessoas que omitem suas más ações. Especificamente que não assumem a sua culpa por atitudes que condenaram terceiros a morte. É pedido à eles a verdade. Que cada um confesse um ato de maldade. Mas pessoas não lidam bem com seus erros e optam por lutar da sua maneira em vez de seguirem as regras impostas.

Enquanto isso, a polícia averígua todas as possibilidades de provar que John Kramer morreu. Considerando sua garganta cortada ao fim de “Jogos Mortais 3” (Saw 3, 2006) e seu corpo autopsiado em “Jogos Mortais 4” (Saw 4, 2007), isso seria impossível, mas não é o que transparece. Provas concretas de sua existência são apresentadas. Nesse ponto, a dúvida sobre quem comete os crimes é afirmada.

Com o passar dos anos e o desenrolar do universos, a autoria de “Assassino do Quebra Cabeça” foi alterada várias vezes. No segundo filme descobrimos que uma das vítimas de Jigsaw, se tornou sua aprendiz. Assim, alguns crimes são responsabilidade de Amanda Young (Shawnee Smith). Porém, ao fim do quarto, um novo pupilo aparece: o detetive Hoffman (Costas Mandylor). Além deles, há o apoio da viúva de John, Jill Tuck (Bettsy Russell) atuando ao lado do detetive no sexto filme. Ao fim do sétimo, há revelação de que o único sobrevivente do primeiro “Jogos Mortais” (Saw, 2004), Dr. Gordon (Cary Elwes), também compunha o grupo de assistentes de Jigsaw.

Com quem estamos lidando? John ? Amanda? Hoffman? O culpado pelas vítimas é o assassino original ou seus discípulos/comparsas? Agora, dez anos após o crime, pode ser que exista um imitador, usando daquela ideia para executar pessoas que ele culpa por algo.

Com isso, acontece algo que é para mim o melhor dessa série: a maneira como eles tratam o tempo. Os roteiros permitem delimitar o acontecimento dos fatos de uma maneira que, no ir e vir da história, se entenda como alguns fatos são paralelos e/ou posteriores. No novo filme, eles repetem essa tática, o que mantém o espectador, entretido à atmosfera de suspense.

Visualmente esse filme é agradável.  No que diz respeito a seus aspectos de iluminação, a alternância entre os ambientes escuros e fechados é coerente. Sem excessos de fumaças, sombras ou luzes “agudas” como se uma lâmpada estivesse em seu rosto, impedindo a sua visão. No que diz respeito as mutilações, superaram aquele sangue rosa Amém! dos volumes 6 e 7. Mas, ainda falta sangue. O friozinho na barriga que os primeiros filmes me davam se perdeu. Aquele gore nojento que foi aumentando com os anos não foi utilizado. Isso torna o filme “limpo” demais.

As armadilhas usadas para atormentar as vítimas são novas versões das que vimos nos longas anteriores -injetáveis, correntes no pescoço ou nos pés, lâminas afiadas e serras giratórias. E, falando em armadilhas, inseriram na história um motivo para que os instrumentos de tortura, dos outros crimes sejam exibidos.

Infelizmente, o filme não acrescenta nada de importante à trama. Ele funciona isolado dos outros. Quem não conhece a série não terá problema nenhum ao assisti-loe entender a história.  Mesmo sendo fraco e apenas divertido, ele consegue ser superior ao último (“Jogos Mortais 3D”, 2010). Provoca ânsia em algumas cenas de mutilação, mais pela ansiedade que pelo visual. O que ele faz de melhor é matar a saudade da frieza do rosto de John Kramer, a face que diz o quanto não sabemos valorizar a dádiva da vida.

O conhecido plot ao fim da história é bem… bem razoável. Situações em aberto do filme anterior, sequer são abordadas (onde está o Dr. Gordon?). Seria isso uma deixa para mais um filme? Se for, mais uma vez um estúdio deve se dar mal. Essa série já deveria ter acabado, por volta de 2008. Se isso tivesse acontecido, talvez “Jigsaw: Jogos Mortais”, poderia ser concebido como o grande retorno de um dos  serial killers mais enigmáticos do cinema atual.

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