Todo mundo tem um momento na vida em que precisa levar uma criança ao cinema. Um irmão, um primo, um “mini cunhado” ou todos juntos. Às vezes, chegamos cedo demais a um compromisso e precisamos fazer hora no shopping. É quando precisamos assistir a um filme sem o direito de escolher que torcemos para encontrar algo que, no mínimo, nos entretenha. Monster Trucks, co-produção da Paramount com a Nickelodeon, oferece exatamente isso: um entretenimento honesto, despretensioso e agradável.
Tenha em mente isso: é um filme para crianças. Assista desprendido da necessidade pela lógica física e biológica e definitivamente não procure nenhuma grande mensagem filosófica. Esperar por algo nesse sentido seria decepcionante. E não é a isso que o diretor Chris Wedge (Joe e as baratas, A era do gelo) se propõe.
No interior da Dakota do Norte, a empresa Terravex Energy está prestes a perfurar um imenso poço de petróleo, quando o CEO Reece Tenneson (Rob Lowe) é alertado de que, acima do petróleo, há água. Isso é um indicativo da possibilidade de um ecossistema nas profundezas da terra. Ignorando os indícios, ele manda que a perfuração prossiga e acaba libertando três estranhas criaturas.
Esse aspecto do filme é interessante por um motivo que irei desenvolver ao longo desta crítica.
Dois deles acabam capturados, mas o terceiro monstrinho foge. É de interesse da Terravex que o caso seja abafado, ou a área pode se tornar santuário ambiental, não podendo o poço ser perfurado. Começa, então, a caçada, liderada por Burke (Holt McCallany).
Neste momento, somos apresentados a Tripp (Lucas Till), um rapaz com o originalíssimo sonho de ter um carro e sair da cidade pequena que o oprime. Como ele não pode comprar um, está em processo de montagem do seu próprio monster truck (aquela pick-up com suspensão e rodas imensas) com peças do desmanche onde trabalha (o patrão é ninguém menos que Danny Glover). Ele está no último ano do colégio, mas não vai bem em Biologia. Brecha oportuna para que o roteiro nos apresente Meredith (Jane Levy), nerd que ajuda Tripp a estudar e tem um interesse amoroso nele, embora seja constantemente esnobada.
Não é preciso ser um Xeroque Rolmes para saber que Tripp vai encontrar o monstrinho, não é?
Com algumas gambiarras de pseudomecânica, o “monster truck” é criado, sendo Creech (o nome que Tripp dá à criatura) o motor do veículo. Daí resultam as principais cenas de ação, exibidas no trailer. Desconsidere fatores científicos, como a impossibilidade de uma forma de vida habituada a uma pressão quase 700 vezes maior do que a atmosférica habitar tranquilamente a superfície. Crianças não ligam para isso. A verdadeira faceta de realidade em Monster Trucks é exatamente onde ele parece mais caricato: a Terravex Energy. Não é incomum que cidades pequenas sejam sustentadas pelos impostos de grandes companhias, que acabam se tornando “donas” do espaço público. O descaso com o meio-ambiente em prol do lucro é uma realidade crua do capitalismo selvagem (sem trocadilhos) e o mundo está cheio de magnatas como Reece.
Como pontos positivos do filme, é possível citar o som. Tanto a edição quando a mixagem criam cenários com textura. Vale a pena assistir em uma sala com som surround. O mesmo não pode ser dito sobre o 3D. É praticamente nulo. Também se destacam a direção de arte, que desenvolveu criaturas visualmente encantadoras, a boa química entre Till e Levy em tela e o timing de humor do roteiro. É um humor com o estilo clássico das séries da Nickelodeon. Se for sua praia, não se decepcionará.
Em uma época em que atrocidades como Transformers se levam tão a sério como se fossem volumes da Saga do Anel, um filme desprovido de qualquer intenção além de proporcionar boas risadas é muito bem-vindo.