Boa parte dos filmes de boxe partem de um protagonista brutamontes que, durante a decupagem das obras, revela-se um sujeito sentimental, sensível e até melancólico. Podemos ver isso desde filmes dos anos 60, como Réquiem Para um Lutador, até nos mais aclamados, como a saga Rocky e Touro Indomável. Nas décadas mais recentes, então, o cinema buscou referenciar o subgênero, com filmes como O Vencedor e, mais recentemente, Punhos de Sangue. O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki tenta fazer o caminho oposto, explorando não um lutador, mas um homem simples e romântico que, por casualidades da vida, tornou-se um boxeador.
Baseado na história real do boxeador finlandês Olli, O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki acompanha a preparação do pugilista para seu primeiro grande desafio: o embate com o americano campeão mundial Davey Moore. Sendo de origem humilde, o protagonista, oriundo do interior de seu país, viaja para a capital para treinar para o evento. Na viagem, leva sua namorada, Raija, e precisa administrar seu relacionamento com sua vida profissional.
Fazendo sua obra emular um documentário, o diretor finlandês Juho Kuosmanen constrói muitas cenas com câmera na mão, sempre atrás do protagonista e transitando entre as cenas com cortes secos. Aí, porém, entra o primeiro problema do filme: enquanto simula tal abordagem, Kuosmanen – que também assina o roteiro – acrescenta à história personagens que também fazem um documentário dentro da trama, explorando o processo de preparação para a luta do personagem principal. Tal elemento tem a função de mostrar a falta de privacidade e pressão exercida sobre o pugilista. Porém, não só não vemos essa pressão refletida em Olli, como as cenas da gravação de tal documentário enfraquecem o método de filmagem documental do diretor, que sobrecarrega o filme inserindo o elemento na narrativa e na história.
Ainda na construção da estética do filme, destaca-se a belíssima fotografia em preto e branco, que nos ajuda a transportar para o período da luta, o começo da década de 60. E a luta, aliás, começa o filme como o grande evento da vida de Olli, mas, ao longo da projeção, vemos suas questões pessoais crescerem e ganharem mais espaço. A partir do meio do filme, então, O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki deixa de tornar-se um “documentário” sobre o pugilista finlandês, passando a focar em sua paixão por Raija. É interessante notar, por exemplo, como a cena em que ele vai à joalheria com sua namorada ganha mais destaque do que a própria luta, quando o protagonista parece desinteressado e deslocado – algo bem retratado por meio da manutenção de planos distantes, que nunca ousam entrar no ringue.
Considerando o roteiro, Kuosmanen entrega um filme irregular. Por um lado, a relação pista-recompensa é eficiente, retratando o protagonista sendo questionado duas vezes sobre um dos elementos de sua preparação até que, no fim do segundo ato, tal elemento ganha significação no andamento da trama. Por outro, não há desenvolvimento suficiente na relação de Olli e Raija para que possamos torcer e temer pelo casal. Há belas cenas deles se divertindo, brincando, andando de bicicleta, mas não há diálogos que sustentem tal relação, que parece nunca sair da superficialidade.
Sendo uma obra muito mais intimista e leve do que habitualmente se espera de um filme sobre pugilistas, O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki é feliz em conduzir sua trama por um caminho diferente, mais puro e sensível, mostrando que nem sempre a glória profissional é o ápice da vida humana. A falta de drama, porém, tem seu preço. Por não se alongar nos conflitos entre seus personagens, a obra acaba flertando com a monotonia, sendo uma biografia que não emociona, mesmo tendo na simplicidade, seu charme.