Inspirada em uma personagem real e na história de sua vida, o filme do diretor Michael Gracey é uma fantasia baseada no imaginário de quem era P. T. Barnum. O jovem Barnum (Hugh Jackman), filho de um alfaiate que é menosprezado por sua posição social. Apaixonado pela filha de um aristocrata, Carity (Michelle Williams), Barnum promete a ela uma vida de luxo, num futuro não muito distante. Após um certo tempo, eles se casam, mas as promessas não são fáceis de cumprir. Diante do desemprego, ele precisa se reinventar e, assim se transforma n’O Rei do Show.
Aproveitando que, no dia de sua demissão estava de posse de escrituras de navios, Barnum decide aplicar um golpe no banco, usando-as como garantia de um empréstimo. Com esse dinheiro, adquire um museu abandonado, com animais empalhados e réplicas em cera. Seu investimento é um fiasco. Percebendo que aquilo não traria lucros é iluminado por uma ideia de sua fila e percebe que precisa trabalhar com pessoas. Ele escolhe, então “povoar” com pessoas que são menosprezadas pelas sociedade.
Para isso o showman encontra pessoas que se encaixam na descrição de “aberração” ou “anormalidade”: portadores de deformidades físicas, obesos, negros, tudo o que seja entendido como exótico naquele período. A partir da seleção desses componentes para seu espetáculo, a público, passa a frequentar seu estabelecimento o que desperta o ódio da aristocracia. Barnum e seu circo, são o que há de pior e, não deve ser considerado um tipo de arte. Mas, qualquer tipo de publicidade,é boa publicidade e, assim o empresário alavanca a sua carreira.
Intercalando diálogos com cenas cantadas, O Rei do Show se assemelha a musicais modernos como Moulin Rouge e Chicago. Seu visual com muito brilho e cores vibrantes nas ambientações do circo, uma maneira de evidenciar a “exoticidade” daquelas pessoas. Os tons pasteis sugerem delicadeza e felicidade. São usados para destacar a família, sendo mais presentes a medida que os aspectos financeiros dos Barnum progridem. Há também uma “neblina” que aparece em certos momentos nos quais a vida de Barnum não caminha como planejada.
As coreografias afirmam a ideia de um espetáculo de música pop contemporânea com tema circo – inclusive, as canções são “grudentas”. Podemos comparar o filme a um longo videoclipe ou a uma turnê de ídolos com o tema circo. Mais uma vez, Jackman se aventura pela performance musical: o ator parece confiante em suas apresentações, mas ainda é perceptível algo estranho em vê-lo cantando. Estamos acostumados a vê-lo a frente de filmes de ação ou suspense e, mesmo sendo essa sua segunda inserção no gênero musical, ainda não é fácil assimilar o Logan a coreografias elaboradas.
Apesar de confortáveis em suas interpretações, os casais do filme são insossos. Tanto P. T e Charity, quanto Phillip Carlyle (Zack Efron) e Anne Wheeler (Zendaya) não combinam entre si. Entre o casal principal não há a transmissão de empatia. A relação estabelecida entre eles parte do princípio de uma mulher que, por amor, cegamente segue seus cônjuge. Charity aceita todas as falhas do marido de uma maneira tão servil que nos faz apiedar dela. Já Phillip e Anne são como o clichê do “opostos se atraem”. Mesmo em um arco “bonitinho” o desenvolvimento de ambos é rasteiro prejudicando o que poderia ser um romance a justificar o argumento do fim da segregação socioeconômica.
O filme parece falar sobre aceitação dos que são diferentes pela sociedade. Seria a ascensão dos que não são respeitados por não se encaixarem o padrão vigente. Pode ser entendido também sobre como não perder seus valores éticos. Sobre a decadência é o fato de esquecermos que uma origem humilde não nos torna inferior. Ser respeitado não é o mesmo que ter posses e, ter posses não é garantia de bondade. Barnum representa a ascensão econômica seguida da rejeição dos que se encontram nas camadas mais altas. Estes aristocratas não querem alguém que não provém de berço, como eles, transitando em seu meio. Os integrantes do circo representam todos os grupos menosprezados socioculturalmente. Barnum, seu salvador, os tira dos bastidores e os coloca abaixo dos holofotes, para que sejam vistos. Querendo ou não, aquelas pessoas, que ditam as tendências terão que ver o que eles desprezam.
Considerando isso, o filme é contraditório, pois o personagem principal é egoísta, manipulador e usa das pessoas de maneira descartável. Por mais que aparente que ele ajuda aqueles, sempre percebemos seu interesse é o sucesso e, principalmente, o poder, o que o equipara aos que ele repudia. Extraindo a camada de beleza que o musical apresenta, podemos vê-lo manipular os sentimentos da esposa, filhas, funcionários e sócio. O tal respeito inexiste. Infelizmente ele é entendido e perdoado por todos, sempre que erra, criando um círculo vicioso. No fim, Barnum é como intitulam ele durante o filme inteiro, um embuste. A grande farsa criada para enganar aos que desejam ser enganados.
“O Rei do Show” entretém, mas cuidado, pois ele sabe que nós assistimos ao seu show, pois gostamos de ser ludibriados.