Oráculo, de Melissa Dullius e Gustavo Jahn, é um filme tão experimental quanto o longa da dupla de cineastas que está na Netflix, Muito Romântico. Se na obra de 2016, Dullius e Jahn estudam os sentimentos de um relacionamento em crise de forma mais direta e, imageticamente, mais dramática, Oráculo, por sua vez, traz uma proposta muito mais contemplativa também para falar de pessoas em crise. O filme se constrói sobre um punhado de cenas que, juntas, somam sessenta minutos. Um senhor caminhando por uma ponte, uma menina tocando violão na cama para superar um amor em vão, rapazes deitados em uma pedra na praia… Todos os indivíduos de Oráculo passam por alguma crise – seja ela expressa ou não por palavras – e estão naquele momento de pura reflexão e angústia. Um momento que sucede a dor e precede a reação. São, portanto, figuras que estão em seus próprios limbos mentais.
A ideia de retratar essas figuras comuns em momentos de introspecção é interessante, mas o experimentalismo de Dullius e Jahn não traz muita força em suas imagens. É um filme que fala essencialmente pelo que vemos, já que não há muitas falas ou sons que não os da natureza, nos deixando a contemplação do ambiente e dos corpos para desenvolver a narrativa. São imagens, porém, que sugerem algo, mas que não arrebatam, não cativam. As cenas não parecem capazes de provocar quaisquer sentimentos pelo fato de meramente arranharem a superfície das questões de cada personagem sem procurar algo além disso.
A montagem também não contribui tanto, já que a decupagem tem pouco a oferecer em termos dramáticos e narrativos, é apenas uma organização de planos de pessoas em situações de melancolia mas que jamais conseguem fazer com que essa melancolia transborde da tela e alcance o espectador. É difícil, portanto, encontrar qualquer recurso cinematográfico que consiga nos aproximar daquelas pessoas. É claro que o cinema experimental traz consigo outras possibilidades imageticas, artísticas e narrativas, mas o minimalismo cinematográfico de Oráculo é tão grande que a obra sequer alcança o experimental, fica apenas no experimento por si.
O experimento de justaposição de imagens, de registro de luto e dor, é um esforço válido, mas que a partir do momento que se mostra incapaz de provocar qualquer sensação a partir disso, soa estéril. Por mais que aqui e ali hajam momentos inspirados em que o mero encadeamento de eventos sugira um estudo da relação humana com o tempo e as cicatrizes geradas por traumas, tudo fica um tanto quanto vago demais, até para um filme experimental. Ter boas ideias e sugerir qualquer estudo mais filosófico sobre eventos e situações cotidianas é interessante, mas há de se lapidar tais ideias dentro da própria narrativa – seja para provocar uma ideia, uma reflexão, ou meramente para comover pela força da imagem. No caso de Oráculo, tudo parece ficar no meio do caminho.