O sucesso de Breaking Bad reverbera na televisão já há algum tempo. Sua estrutura narrativa e qualidade de produção influenciaram intensamente um bom número de programas de alto nível, como Westworld e House Of Cards. Na sétima arte, porém, vê-se pouco esta influência. O longa italiano Paro Quando Quero, portanto, pode ser visto como um dos primeiros a trazer tal influência para os cinemas.
Mas diferente da televisão, aqui o legado de Breaking Bad é visto na sinopse da obra. Na história, um professor passa por dificuldades financeiras até decidir fabricar um novo tipo de droga para tirá-lo da pobreza. Diferente do que vê-se na série da AMC, porém, aqui o personagem não demonstra o menor receio de enriquecer ilicitamente.
Mas engana-se quem pensa que isto é demérito da obra. Paro Quando Quero, diferente do que a sinopse pode sugerir, é uma comédia (e bem decente). A fim de dar um tom mais lúdico e descompromissado com a realidade, o filme já inicia-se com escolhas estéticas que tiram qualquer seriedade da película. Além da exageradamente saturada fotografia, a obra insere parte de seus créditos iniciais em um letreiro localizado na farmácia onde um grupo realiza um assalto, criando esta aura cartunesca que tira o peso das atitudes absurdas que virão a ser tomadas pelos personagens.
O maior mérito de Para Quando Quero é ter consciência dos absurdos de seu roteiro e, por isso, não levar-se a sério. As escolhas dos personagens são infantilizadas e pouco aprofundadas pelo texto, opção bem observável ao notarmos que o protagonista não segue os conselhos que ele dá a seus sócios de crime. Estas situações, aliás, acabam rendendo as discussões entre os personagens que são o ápice do humor do filme.
No meio da leveza que tenta tornar a comédia despretensiosa, porém, há erros que prejudicam o desenvolvimento do personagem. O protagonista, por exemplo, demonstra ser exigente com a qualidade da droga que fabricará, mas em certo ponto do processo tenta convencer um de seus sócios a usar um produto mais simples em seu composto, escolha totalmente contraditória se levarmos em conta o que é construído no primeiro ato.
Há de se destacar, no meio do humor solto do filme, duas boas sacadas da obra. A primeira é quando o protagonista tem a ideia de começar seu criminoso negócio, quando o uso do slow motion, além de destacar o personagem do ambiente, facilita que a narrativa dê seu salto para a próxima fase sem a necessidade de diálogos óbvios. A segunda é em uma cena na qual um dos personagens experimenta a droga do protagonista pela primeira vez, quando a edição e a mixagem de som imprimem o humor ao momento sem nenhum amparo de outro elemento técnico do filme, intensificando a música da festa que ocorre na cena e levando-a até o personagem.
Infelizmente, a pressa para chegar ao fim prejudica o andamento do filme. Há um salto temporal desnecessário que leva a trama à ser complementada por desinteressantes diálogos de alguns personagens, que tentam dar um tom de filme de assalto totalmente discrepante. Toda a metragem de Paro Quando Quiser é preenchida por um humor teatral, calcado no absurdo e nos divertidos diálogos entre seus personagens, e tentar transformar tal tom em um “heist movie” mais sério impede que o clímax seja o grande alívio cômico do filme.
Com erros e acertos, Paro Quando Quero diverte por sua irreverência e perspicácia da direção para aproveitar as situações absurdas para construir seu humor. O exagerado uso dos tons verdes até funciona para, como dito, construir a aura lúdica proposta, mas sua presença por toda a metragem mostra-se desnecessária ao não exercer nenhuma função narrativa adicional. O resultado é uma comédia leve, despretensiosa mas que não sai da zona de conforto.