Em “Operação Red Sparrow” a bailarina Dominika Egorova (Jennifer Lawrence) se vê obrigada a repensar sua maneira de sustentar a família, após uma acidente de trabalho. Sua mãe, Nina (Joely Richardson) é portadora de uma doença que afeta suas funções motoras o que produz altos gastos. Diante dessa situação ela é recrutada por seu tio, Vanya (Matthias Schoenaerts), para servir à agência de serviço secreto Russa. Levada a uma escola secreta, é treinada como uma “pardal”. Assim, Dominika transforma seu corpo em uma arma de sedução e destruição, para combater as ações estrangeiras em seu país.
Ao ser vendido como filme de suspense/ação (chequem o trailer) as expectativas criadas são diferentes do que nos é dado. O thriller erótico de espionagem, que retoma o combate silencioso da Guerra Fria, é recheado de nudez, tortura psicológica e, agressões físicas. Um drama pessoal, ambientado em uma Rússia moderna, com características dos tradicionais filmes de espiões da KGB. A personagem, inicialmente tratada como alguém que é desumanizada e moldada de acordo com a vontade do Estado Russo, perde sua força com o desenvolver da narrativa. Após o tratamento brutal se torna um ser distanciado de sentimentos (com exceção dos que envolvem sua mãe).
Após seu treinamento, frio, agressivo ela parece estar sempre a beira de um ataque violento. Em principio, até é dado um certo direcionamento pra essa instabilidade emocional da moça, mas esse elemento, é esquecido. A ausência desse aprofundamento prejudica a consistência da personagem, deixando-a “perdida” no desenvolvimento do filme. A tentativa de imprimir em Dominika a ideia de girl power se perde. Ela não é como Lorraine Broughton (Charlize Theron) em Atômica (2017) que possui diversas posturas, de acordo com a situação que enfrenta e uma sensualidade natural. Egorova, se torna unidimensional. Sua frieza transpõe o ambiente fílmico e atinge o espectador, fazendo com que não exista empatia por ela e suas causas. Parece que a personagem entrou em um estado catatônico do qual só é tirada ao ser torturada – a cena mais expressiva de Lawrence.
Contratada para seduzir e arrancar informações de um agente da inteligência norte americana Nate Nash (Joel Edgerton). Egorova muda de visual e assume o perfil de loira fatal. Munida do que aprendeu na Escola de Sparrows, se aproxima dele na tentativa de seduzi-lo. A química do casal é tão funcional quanto a de Angelina Jolie e Johnny Depp em “O Turista”. Ela inexiste, o que torna impossível acreditar que ele está sendo enganado ou convencido, por ela, de qualquer ação. Os dois juntos são desinteressantes, fazendo com que a possibilidade de comprá-los como um casal seja impossível.
O uso excessivo da nudez da atriz, que em certos momentos sequer são necessários a trama, constrangem. A gratuidade da exposição do corpo de Jennifer, transforma o filme em um meio de exibicionismo, no qual sua bela silhueta só funciona sozinha, já que as cenas de sexo são ora insípidas, ora violentas. Em um roteiro que inicialmente, parece dizer que aquela mulher se vingará de toda sua dor, é convertido em ações presumíveis e sem encanto. Toda a oportunidade de desenvolver uma narrativa de vingança, afirmando sua instabilidade emocional diante das adversidades é descartado. Somado a um roteiro frágil por sua incapacidade de ter plots interessantes, a metragem excessiva desgasta a paciência do espectador. A introdução é longa demais, demora a aproximar os agentes, atrasando assim o foco da história.
Os atores Matthias Schoenaerts e Jeremy Irons são como adereços em personagens mal aproveitados. Joel também não tem o destaque merecido, com cara de prisão de ventre parecendo sempre insatisfeito com sua função de agente secreto. Assim, “Operação Red Sparrow” é rico visualmente, com belas cenas nos primeiros minutos, da apresentação de balé de Dominika. Porém, nenhum desses aspectos de beleza o sustenta. Seu produto final foi como embrulhar em uma caixa ornamentada um parafuso enferrujado. Decepcionante.