Tanna

Tanna

Matheus Fiore - 11 de fevereiro de 2017

Ambientado em uma ilha isolada do pacífico habitada por um conjunto de pequenas tribos, Tanna, o candidato da Austrália ao Oscar de melhor filme estrangeiro, conta a história real do amor impossível entre Dain e Wawa. Nativos de uma das tribos locais, Yakel, a dupla vê as chances de se tornarem um casal cada vez mais distantes graças ao tratado de paz entre os líderes das pequenas comunidades, que obriga Wawa a se casar com outro rapaz.

A narrativa começa sem foco na dupla Wawa e Dain, nos introduzindo personagens de três diferentes gerações da tribo e aproveitando cada um deles para ambientar seu espectador no pequeno universo indígena no qual a obra acontece. Aqui surge um pequeno problema do roteiro, quando o texto do filme não desenvolve tanto a personalidade daquela tribo, optando apenas por enaltecer as semelhanças do povo nativo com a sociedade ocidental, a fim de desnecessariamente forçar empatia.

Aliada a estas escolhas do script, a montagem excessivamente linear torna a primeira parte do filme documental demais, quase como um diário dos Yakel. A direção de Martin Butler e Bentley Dean também demora a encontrar seu caminho. Nessa primeira metade de Tanna, a obra força o uso de plano e contra-plano para estabelecer os diálogos. O problema é que, por não haver atores profissionais aqui, apenas amadores e verdadeiros nativos, não há destaque nas atuações, o que torna os close-ups e primeiros planos focados nos rostos dos personagens uma escolha fraca na linguagem e que pouco agrega no drama.

Para a sorte da obra (e do espectador), todos estes pequenos problemas desaparecem quando a trama passa a focar em Dain e Wawa. Acompanhando a busca dos personagens por seu espaço no mundo, a obra é extremamente feliz ao por a cultura dos Yakel em conflito com a das tribos vizinhas, escancarando a impossibilidade de adaptação que os nativos de Yakel encontrariam ao tentar se mudar. Aqui, a falta de técnica de atuação da dupla acaba funcionando e torna o relacionamento deles extremamente sensível e puro, destacando a simplicidade da troca de olhares dos personagens e pequenos gestos de amor.

Apesar de inicialmente apenas destacar os rostos dos nativos, aos poucos a fotografia passa a fazer melhor uso das estonteantes paisagens de Tanna, com destaque para as fortíssimas cenas situadas no vulcão. Este, aliás, é bem mais que uma paisagem bonita, mas uma belíssima ferramenta da narrativa que abre todos os seus arcos e também os fecha. É lá que os principais conflitos de Tanna têm seu começo e seu fim. É necessário destacar, inclusive, a intensidade da trilha sonora nas cenas ao redor do vulcão, bem diferente do tom minimalista que permeia os outros momentos da obra.

A fotografia e direção intimistas, quase documentais, aliados à simplicidade e ternura de toda a técnica e atuações do filme resultam em uma narrativa muito humana, inocente e doce. Um filme que atrai o público para o cerne daquela pequena sociedade, como um ímã, e nos faz ter carinho por todos os habitantes da pequena tribo Yakel. Como resultado, mesmo as más escolhas de alguns dos indígenas não dão à eles um caráter maligno, soando apenas como escolhas instintivas de seres que nasceram e cresceram em um mundo totalmente paralelo ao nosso.

Mas é na força do amor que Tanna encontra seu trunfo. Se a direção da dupla australiana Butler e Dean desliza ao dar escala à sua história, acerta ao deixar a candura e sinceridade latentes nos olhares e sorrisos dos personagens falarem por si. É, afinal, um filme sobre o amor que transcende, que muda, que revoluciona e que transforma. Como a lava que se solidifica e forma novo terreno, o amor de Dain e Wawa é capaz de dar a sua tribo um novo caminho e ainda passar aos anciãos uma mensagem de progresso e paixão. Uma história que extrapola a pequena ilha de Tanna e serve como uma lição para todos nós.

 

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