Como lidar com a vida? Questionamentos como esse surgem na cabeça de todos a qualquer instante, em uma espécie de problemática da humanidade. Independente de quem somos, estamos conectados com a necessidade em buscar algo, em, simplesmente, não morrermos esquecidos. Essas perguntas então aparecem especialmente dentro da produção da arte, necessitada em entender a relação dos humanos com o mundo e buscar respostas impossíveis. A Estrada da Vida, como o título do filme de Frederico Fellini, anda muito mais turva, na realidade, do que reta. E é nessa concepção de mundo que o filme Viagem Fantasma, de Stephen Broomer, se apresenta.
Broomer, na realidade, apresenta-se como uma espécie de reciclador da vida. Em seu filme nos deparamos sempre com duas imagens sobrepostas: a de um carro andando em uma estrada e os filmes caseiros do cineasta Ellwood F. Hoffmann, sempre mostrando sua família. Essas epopeias de felicidade, a qual sempre retratamos com as câmeras atualmente, apresentam-se na criação de Ellwood sobre o cotidiano. Stephen entende isso e transporta essa realidade na busca de um entendimento sobre o tempo vivido. Existe uma conurbação imagética muito forte atrelada a existência humana, contudo colocada em uma espécie de conexão para com a audiência.
Nesse sentido, é uma espécie de caminho para a reflexão. Quase uma ioga sentimental, que é buscado pelas imagens em movimento. Apesar disso, é importante deixar como existe um caráter existencialista, como dito anteriormente. Esse caminho na estrada tem, claramente, um fim. E quando vamos chegar ele? O que faremos? Parecem ser os debates que Viagem Fantasma busca colocar na cabeça do telespectador a todo instante. Será que os momentos são realmente efemérides, ou ficarão marcados no tempo?
A ideia fantasmagórica fica ainda mais clara para que a narrativa se encaixe. Afinal, fantasmas são seres de um tempo passado, mortos na concepção do presente. Broomer observa as imagens como fantasmas da vida também, especialmente nessa retratação de um cotidiano que nunca mais existiu. A felicidade, se esvai, assim como a tristeza. Da mesma maneira que road movies olham para a passagem de um determinado período de tempo dos personagens retratados, aqui existe uma concepção bem mais profunda de um tempo completo. Até por isso, a tentativa de poder deixar essa expressão dos planos mais livre que de amarras, já que a câmera parece se deslocar em um espaço quase do impossível. Em uma comparação um tanto quanto exagerada, se Cidadão Kane, de Orson Welles, imaginava o impossível de uma câmera para seu tempo, esse longa retratado no texto parece querer mais que a câmera seja decorativa na viagem do público.
De fato, não somos senhores do tempo. Estamos em constante contato com os fantasmas da existência e do cotidiano. Ao olharmos imagens do celular, ou as que ficaram presas no computador em algum determinado momento, elas parecem olhar para outro mundo, uma realidade anterior – quase cientificamente. Stephen Broomer, em busca de uma reflexão pessoal, leva a quem assiste suas imagens pensar em suas próprias reflexões. “A Viagem Fantasma” é, assim, literalmente uma estrada sobre a vida. Mas, acima de tudo, uma estrada sobre a própria consciência.