“Fênix Negra” é a segunda adaptação para o cinema de uma das sagas mais famosas dos X-Men (a primeira foi encaixotada no meio do problemático “O Confronto Final”, de 2006). Simon Kinberg, que escreveu o roteiro de “O Confronto Final”, teve mais uma oportunidade para fazer direito desta vez, agora agregando a função de diretor.
O feito de Kinberg é notável. Sua segunda tentativa consegue ser pior do que a primeira.
Nada disso tem a ver com a fidelidade em relação ao material original. As mudanças no filme eram inevitáveis e até esperadas. Mas, além dos temas mal desenvolvidos e das ideias soltas no meio da história, “Fênix Negra” é um filme desequilibrado no ritmo, que falha na sua missão mais importante: fazer o espectador se importar com a protagonista.
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Isso se deve, em grande parte, à ideia de que universos cinematográficos se bastam e, portanto, personagens já estão “prontos”. Isso talvez se aplique às produções da Marvel, onde os personagens de fato têm coerência interna. Mas a Fox, que em duas décadas e dez filmes ficou marcada por uma grande bagunça cronológica, não pode apostar nisso. Até porque a participação de Jean Grey (Sophie Turner) em “Apocalipse” é pequena e ela não é o foco daquela história.
Dessa forma, o pequeno prólogo no qual vemos o acidente de carro que coloca a pequena Jean no caminho de Xavier (James McAvoy) não é o bastante para criar este vínculo emocional do público com a personagem que mais tarde será a grande ameaça do filme. Os 17 anos que desenvolvem esta relação (o acidente acontece em 1975, mas a trama propriamente dita de “Fênix Negra” se passa em 1992) acontecem fora da tela. Temos de “aceitar” que Jean acolheu a escola como um lar, Xavier como um pai e os X-Men como uma família. É muito. Quando seus poderes se manifestam e ela se sente traída por Xavier, essa traição não tem força dramática.
Um bom exemplo dessa fraqueza dramática são as motivações que o roteiro de Kinberg encontra para justificar decisões de certos personagens. Quando uma figura muito importante do universo dos X-Men morre (não direi quem, fiquem tranquilos), a história vira um festival de “se não quer fazer isso por mim, faça por essa pessoa”, “não é isso que essa pessoa gostaria”, etc. O filme se vê obrigado a tomar “atalhos” porque, como se o retorno dos principais atores da franquia não fosse o bastante, introduz a raça alienígena D’Bari como antagonista. É de lá que vem Vuk (Jessica Chastain), uma das vilãs mais desinteressantes de 2019.
Visualmente, “Fênix Negra” não encanta nem um pouco. Carregado de efeitos digitais, com cenas de ação cheias de cortes e nenhuma criatividade no desenvolvimento de lutas – por que um militar descarregando um fuzil num D’Bari é ineficaz, mas Magneto (Michael Fassbender) resolve o problema jogando uma chapa de aço? O filme não tem nenhuma profundidade temática (apenas a pretensão de ter) e não entretém com lutas entre alienígenas e mutantes. O que sobra, então?
Exatamente, quase nada. Principalmente, a certeza de que uma grande geração de atores sai da franquia com apenas um, no máximo dois bons filmes. Bom para a Marvel, que poderá escalar um novo elenco sem problemas. Este não deixará saudade.