Texto sobre “Inferno no Colégio Interno: Volume 1”, primeiro episódio da segunda temporada de “Desventuras em Série”. A crítica da temporada completa está aqui.
A primeira metade de “Inferno no Colégio Interno” é como voltar a uma antiga casa de férias. “Desventuras em Série” não teve uma primeira temporada exatamente brilhante (leia a crítica aqui), mas tinha um diferencial em relação à maioria das séries de televisão dos últimos tempos: identidade visual. Isso permanece. Felizmente, não se resume a isso. No primeiro episódio da segunda temporada, houve uma melhora.
As dedicatórias de cada episódio a Beatrice Baudelaire, sempre melancolicamente apaixonadas, instantaneamente criam um sentimento soturno para os eventos que seguem. A constante quebra de expectativa, representada nos antagonismos entre Lemony Snicket (Patrick Warburton) e Arthur Poe (K. Todd Freeman), ao mesmo tempo revela a gravidade da situação dos órfãos Baudelaire e garante uma gag cômica recorrente, mas eficiente, graças à edição “seca”, de cortes abruptos entre um personagem e outro. Merecem elogios também os diálogos do roteirista Daniel Handler (o autor da série de livros), perfeitos para estabelecer este contraste. A série tem peso dramático no conteúdo, mas é uma comédia na forma. É uma aplicação de almanaque do humor negro.
O que torna esta “volta pra casa” melhor do que a partida não é nenhum senso de nostalgia. Na segunda temporada, “Desventuras” está mais consciente do público que atinge e se sente mais à vontade com o mundo construído nos primeiros oito episódios. Se o roteiro é “plano”, sem reviravoltas inesperadas (para as regras internas daquela realidade), e focado basicamente em construir bons diálogos, demais aspectos técnicos tornam “Inferno no Colégio Interno” não apenas um episódio esteticamente bonito, mas narrativamente funcional.
A Fotografia do episódio trabalha para tornar a Escola Preparatória Prufrock num ambiente opressivo e sem vida no uso das cores e, agorafóbico na escolha dos planos. Existe um padrão visual tão marcante que fica fácil para o Figurino apresentar as discrepâncias, os elementos estranhos que devem chamar a atenção do público, como a já insuportável Carmelita Spats (Kitana Turnbull) e a bibliotecária Olivia Caliban (Sara Rue).
Se Neil Patrick Harris segue imitando a atuação que Jim Carrey entregou no já longínquo 2004, ao menos ele transmite uma grande entrega ao papel. Ele segue sem ser o vilão ideal, pois não desperta nenhuma emoção intensa por suas ações. Num paradoxo digno de “Desventuras”, o ponto baixo de “Inferno no Colégio Interno” é seu protagonista.
Mas é uma série que merece a atenção de todos que estiverem navegando pela Netflix. Todos os episódios estão aqui.