Deuses Americanos 1×06 – A Murder of Gods

Deuses Americanos 1×06 – A Murder of Gods

Gustavo Pereira - 5 de junho de 2017

“A Murder of Gods” é precedido por “Lemon Scented You”. Para ler a crítica do quinto episódio de Deuses Americanos, clique aqui.

Imigrantes deixando o México de céu desbotado, se dirigindo para os Estados Unidos do sol radiante (tom convenientemente “sangrento”): tudo orquestrado numa panorâmica elegante. Começamos bem.

Ao longo de cinco críticas, já salientei o primor técnico de Deuses Americanos inúmeras vezes. A forma como cada elemento é disposto, com um propósito específico de acrescentar informação à narrativa, reforçando ou contrastando discursos verbais, nunca é por acaso ou dispensável. Perceber como a série trabalha com rimas temáticas, trabalhando a mesma ideia em diferentes níveis e com abordagens distintas, torna a revelação (e, em certo nível, a ironia) de “A Murder of Gods” ainda mais prazerosa.

“Venha a nós o vosso reino”: chegada à América no melhor estilo americano. Abaixo, a bala Vulcan, fundamental para a conclusão do episódio.

Depois de citado, o “Jesus Mexicano” aparece em Deuses Americanos. Tal como Wednesday disse, chegou aos Estados Unidos da mesma forma que seus fiéis: ilegalmente. Ele é o único Deus baseado em esperança neste episódio. Os outros são baseados no medo. Este sentimento é trabalhado de diferentes maneiras em “A Murder of Gods”, mas sempre como um aglutinador. É o medo dos Novos Deuses que faz Wednesday e Shadow se unirem a Vulcano (Corbin Bernsen), a versão romana do deus das forjas Hefesto. O medo de não ter um propósito na vida une Salim, Mad Sweeney e Laura. E, num aspecto mais amplo, o medo une as pessoas em torno de uma ideologia.

A cultura das armas ianque é uma manifestação de medo, uma resposta para o mundo exterior: uma religião em si

Este também é o primeiro episódio em que a Geografia, tão presente no livro de Neil Gaiman, carrega informações. Enquanto o trio Laura/Sweeney/Salim vai para o Kentucky, “terra do amanhã”, Wednesday e Shadow se dirigem para a Virgínia, palco do fim da Guerra de Independência dos Estados Unidos. Vulcan é uma comunidade não-incorporada do estado, a “matriz” da fé no Velho Deus, que aprendeu a canalizar seus poderes no Novo Mundo e se manter reverenciado com “sacrifícios de sangue”.

Às vezes, Deuses Americanos também é óbvia: Vulcano é associado a um espectro limitado de cores quentes e neutras, representação convencional de uma forja e de sua posição na guerra

É curioso apontar um viés pró-justiça social no discurso de Wednesday, mas o roteiro deixa isso claro, citando ipsis litteris a famosa frase do arcebispo sul-africano Desmond Tutu: “se você é neutro em situações de injustiça, você escolhe o lado do opressor”. O patrão de Shadow vê nesta “luta de classes” entre deuses um meio de alcançar a dignidade que lhes fora tomada pelos novos tempos.

E, se o medo aglutina, também move os temerosos. Desta forma, deuses e mortais seguem em frente na sua jornada, escolhendo acreditar naquilo que mais lhes confortar.

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