Ir ao cinema é uma experiência mágica. A sala climatizada, o escurinho, a poltrona confortável, a tela gigante… mas nada disso aguenta um filme ruim. Nossa redação bateu cabeça e quase saiu no tapa, mas conseguiu montar uma lista com os principais filmes decepcionantes do ano.
Para chegar ao crème de la crème das bombas de 2017, Matheus, Gustavo, Ana, Yasmine e Mario selecionaram dez filmes cada. O primeiro colocado recebeu 10 pontos, o segundo recebeu 9 e assim por diante. Os cinco filmes com mais pontos formam metade da lista; na outra metade, uma “menção desonrosa” de cada editor.
Fiquem agora com os vencedores do Dinheiro no Lixo 2017.
Presente nesta lista inglória por voto individual, Silêncio foi considerado pelo Matheus como o filme de 2017. Só esse conflito de opiniões já torna o longa de Martin Scorsese uma boa pedida para os últimos dias do ano.
Contra a saga dos padres jesuítas portugueses no Japão do Período Edo, empilham-se problemas. Uma narrativa que se diz lenta, quanto na verdade é arrastada; um protagonista sem nenhum carisma (até quando tentarão viabilizar Andrew Garfield como ator dramático?); uma visão distorcida e um tanto quanto depreciativa dos japoneses; malabarismos históricos para transformar imperialismo cultural em “missão divina”; metáforas interessantes que se perdem numa trama tão linear quanto monótona; uma conclusão tão embotada quanto o restante de um dos principais filmes decepcionantes do ano. Uma verdadeira agonia com quase três horas de duração.
Se de fato quem morre descansa em paz, deveriam ter assassinado qualquer ideia de retomar a saga de Jogos Mortais. O que poderia ser pior do que isso? A maneira como foi feito. Após o extremo sucesso nos anos 2000, trazendo um senso de pessoas com busca em justiça com as próprias mãos e torturas brilhantemente arquitetadas, esses “Jogos” todos contraíram o grande câncer de continuações cinematográficas demasiadas: 0 de não oferecer nada novo.
A atuação do elenco merece duras críticas, porque já passou da hora de menosprezar tanto os filmes de terror. A prova disso é um deles estar em nossa lista de melhores do ano. É possível aliar montagem, direção e roteiro corretos em filmes de qualquer gênero, e nenhum deles foi sequer lembrado, que dirá usado aqui. Vale pela nostalgia da obra que um dia enalteceu o nome do ótimo James Wan, mas não o tempo ou o dinheiro do público.
É com pesar que digo que 2017 não foi o ano de Michal Fassbender. Após Assassin’s Creed e Alien: Covenant, dois filmes frágeis, ele encerrou o ano protagonizando a adaptação do romance homônimo de Jø Nesbo. Nada nesse filme se encaixa. Das personagens insossas à história que se assemelha a um episódio de Linha Direta, na neve. Até o assassino é apático. Um elenco de encher os olhos, mas que me provocou vergonha alheia. Charlotte Gainsburg fazendo caras sem sentido, Clöe Sevigny como ponta da ponta e Rebecca Fergusson… ah não, dessa eu não tive pena não. Se já acho ela com cara de paisagem, nesse filme ela esteve de parabéns!, caiu como uma luva.
Quando li que o diretor, antes do lançamento, estava pedindo desculpas pelo resultado final, pensei ser estratégia de marketing. Não, ele apenas dizia a verdade. Devia ter acreditado nele e me poupado, Nem o Fassy mozão salvou a sessão.
Após o ótimo Mulher Maravilha, o presidente da DC Comics levou uma pedrada na cabeça e resolveu fazer de Liga da Justiça uma imitação barata das produções da Marvel. Confiar no picolé de chuchu Ben Affleck e no indigente Jason Momoa para realizar o que Robert Downey Jr., um dos atores mais versáteis das franquias de super-herói, e Chris Hemsworth, um comediante natural, fazem com o pé nas costas, só poderia dar nisso.
2017 deveria ser o ano para a DC encontrar seus próprios caminhos com produções de qualidade. Mas a permanência de Zack Snyder destruiu qualquer esperança. Trama que não convence; personagens rasos e sem química; Gal Gadot reduzida a coadjuvante de luxo; e um vilão que é uma piada involuntária. O único a se dar bem é o excelente Ezra Muller, com seu divertido e jovial Flash. Mas, num filme tão equivocado… Pobre Ezra.
Quando tenta ser comédia, é terror. Quando tenta ser terror, é comédia. Nas mãos da Netflix, Death Note tinha tudo para ser um marco das adaptações de anime/mangá, mas acabou sendo um dos maiores fracassos do ano. Os frames do filme que foram capturados e transformados em meme na internet são uma evidência do legado negativo deixado pela obra.
O grande problema é a incapacidade dos responsáveis por essa atrocidade de compreender o conteúdo do manga original. Death Note (o filme) se resume a um jogo de gato e rato onde o detetive tira as soluções dos mistérios da cartola e o vilão faz de tudo a todo momento para ser capturado – inclusive confiar o maior segredo de sua vida a uma garota com quem nunca trocou mais do que duas palavras. Death Note não é só um fracasso absoluto em termos técnicos e narrativos, como também uma obra auto-indulgente, apressada, vazia e infiel às próprias ideias.
Como seria melhor assistir ao filme que é prometido no 1º ato de Annabelle 2: sólido, psicológico e técnico. Tudo jogado fora quando o longa atinge seu ato seguinte, fazendo uso de todos os clichês atuais e nos fazendo até lembrar de outros. Algumas cenas são ótimas e carregam com si um carismático elenco mirim, que constrói um humor leve diante de situações patéticas que buscam causar medo ou algo do tipo. A quebra de expectativa de buscar risadas em tal momento específico “salva” muitos pontos do filme, mas não o impede de ser um “terror”, com o perdão pelo trocadilho.
O filme acaba sendo apenas mais uma ferragem no universo Invocação do Mal, que se expande cada vez mais e explora suas criaturas e suas devidas origens – de forma aparentemente mercenária, é bom que se diga.
mãe! prova o que já sabíamos há tempos: Aronofsky precisa urgentemente de ir à terapia curar os conflitos com sua mãe. Neste filme, ele resolveu emular a Bíblia, os discursos sobre maus tratos ao meio ambiente, a Trilogia do Apartamento de Roman Polanski, a Literatura Vitoriana e tudo o que se possa imaginar.
Apresentando essa vitamina de assuntos, conquistou o amor e o ódio de espectadores que ora entenderam tudo, ora não entenderam nada. É possível que depois de certo tempo nem o próprio Aronofsky estava mais entendendo o que fazia. O filme é pretensioso, pedante e desnecessariamente didático. Seu arco/terço/parte final é tão confuso quanto as cenas de ação de Transformes 5.
No frigir dos ovos, mãe! é o filme no qual o diretor critica o Criador e se porta da mesma maneira que Ele.
Incensado pelo sucesso obtido em O Sexto Sentido, M. N. Shyamalan se encontra há muitos anos numa perigosa zona de conforto. Seus filmes posteriores, mesmo não fracassando nas bilheterias, são suspenses que se perdem no meio do caminho, são interpretados por atores sem carisma e invariavelmente acabam num plot twist que tenta aliviar as gorduras do decorrer da trama.
No caso de Fragmentado, é ótima a caracterização de James McAvoy, interpretando seis das 24 personalidades distintas anunciadas pelo filme. Mas suas virtudes param por aí: personagens-chave são pessimamente construídos, o clímax não tem a intensidade necessária para impactar o espectador, e a sensação que se tem no geral é que Shyamalan padece de uma crise de criatividade crônica, com ideias grandiosas mas sem pernas que caminhem para filmes de qualidade. Para resolver esse problema, talvez abrir mão da pretensão possa lhe fazer bem: menos, Shy, menos…
Ir ao cinema assistir a um filme que represente o seu país não tem preço. Ir ao cinema assistir a um filme protagonizado pela “nata” dos YouTubers do seu país, tem: a paciência e a capacidade de sentir vergonha alheia.
Cheio de “ilustres desconhecidos”, repetindo piadas estereotipadas patéticas que seria consideradas datadas para A Praça é Nossa, com plots baseados em “bom mocismo” e pedido de desculpas: Palmirinha não merecia fazer parte do engano de uma hora e meia que é Internet: O Filme.
A pobreza cinematográfica é tanta que dá a impressão de que os envolvidos mal sabem diferenciar roteiro e narrativa. Tecnicamente pífio e narrativamente confuso, o filme se resume a uma montagem atroz de esquetes sem sentido e forçadas, puxando os maiores estereótipos possíveis dos “influenciadores digitais” da atualidade.
Prometheus decepciona, mas Alien: Covenant irrita. Nesta lista de filmes decepcionantes, este merece o título absoluto de desperdício de tempo, pois, além de ignorar todo o debate que o filme de 2012 tentou propor, substituiu a ficção científica pobre por uma réplica capenga do clássico absoluto do terror espacial dirigido pelo mesmo Ridley Scott, diretor que parece estar perdido no tempo, na profissão e na vida.
A vontade de abandonar a sessão no meio do filme entra em conflito com a lembrança de que tivemos de pagar para assistir a tamanha atrocidade. Essa síntese do “dinheiro no lixo” é tão mal realizada que nem Michael Fassbender em dose dupla é capaz de iludir: Alien: Covenant é o pior filme do ano pela má vontade criativa e o tamanho mau gosto em cenas inclassificáveis como a do casal no chuveiro. Torçamos para que a Disney tenha comprado a Fox para garantir que o Xenomorfo nunca mais veja as luzes fluorescentes de uma nave espacial.
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