Plano Aberto

GLOW 1×01 – Piloto

Este texto se refere ao primeiro episódio de GLOW. Para ler a crítica completa da primeira temporada da nova série original da Netflix, clique aqui. Os dois textos são sem spoilers.

GLOW, “Glorious Ladies of Wrestling” ou, numa tradução muito grosseira, “Luta Livre das Gostosas”, aparenta em “Piloto” ser uma daquelas comédias para se – odeio esse termo – “desligar o cérebro”. Você pode assistir à nova série da Netflix sem pensar em muita coisa e não a achará cansativa, principalmente porque os episódios são curtos, com cerca de 30 minutos cada um. Mas é pensando na (re)criação desta Los Angelos da década de 1980 que o espectador poderá se chocar com os absurdos normatizados, que têm a dupla função de gag e de crítica social. O clássico caso de “é errado rir disso?”, combinado a um belo design de produção, que traz os anos 80 em sua melhor forma estética.

Uma conversa tão impessoal que não é feita olho no olho, mas intermediada por um espelho

Um exemplo dessa construção se dá quando Ruth (Alison Brie) confronta a coordenadora de um teste de elenco no banheiro, após ter perdido o papel mais uma vez. A cena é cômica, até que o duro choque de realidade: “os diretores me pedem atrizes reais, que eles não conheçam: aí eu chamo você, pra mostrar que eles não querem nada disso”. Ou quando sua amiga Debbie (Bettie Gilpin) lhe aconselha a seguir seus passos, abandonar a carreira e casar com alguém rico (“a melhor coisa que já aconteceu à minha vida”). São quebras de expectativa que, ao mesmo tempo aliviam a carga dramática e dão ao piloto de GLOW um tom de humor negro, satirizando o machismo entranhado na sociedade daquela época e ainda perdura, diga-se de passagem.

O uso de cores neutras é recorrente no episódio piloto de Glow, dando ao entorno de Ruth a receptividade de um aeroporto. Ou de um hospital.

Em uma verdadeira petição de miséria, a proposta completamente aquém das suas habilidades profissionais de elencar um programa de luta livre com mulheres (uma óbvia forma de entretenimento baseada em sexualizar o corpo feminino para uma audiência composta por homens) vira a tábua de salvação para Ruth, que aceita todas as formas de assédio moral do diretor Sam Sylvia (Marc Maron) para conseguir o emprego. Deixa de ser pela carreira e passa a ser por amor próprio: ela precisa obter êxito em qualquer coisa.

O único espaço acolhedor na vida de Ruth é dentro da própria casa, mas não há cores quentes que amenizem a degradação do espaço, mesmo para olhares pouco atentos

Mantendo-se o padrão do piloto, GLOW poderá concorrer a prêmios nas categorias de Maquiagem, Figurino e Direção de Arte: cabelos armados com laquê, sombras espalhafatosas e maiôs que exibem a virilha e achatam os glúteos, tudo está lá. Há até o capricho de granular um pouco a fotografia em determinados momentos, passando a sensação de que estamos vendo clássicos como Top Gun ou Dirty Dancing, com direito às famosas “cenas-clipes”, quando uma ação é dramatizada por um rock efusivo que pouco acrescenta à história, mas é legal. Ah, os anos 80…

GLOW é uma aposta de baixo risco, com um potencial considerável de diversão instigante. Para assistir a todos os episódios, clique aqui.

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