Estreando o seu quinto álbum de estúdio (que leva o seu nome artístico), Stefani Joanne Angelina Germanotta, mais conhecida como Lady Gaga, dificilmente precisa de apresentações no mundo da música. A cantora, que teve sua estreia nas rádios com grandes sucessos pop, como “Just Dance” e “Poker Face” (ambas indicadas a prêmios Grammy), teve sua carreira elevada de forma que, atualmente, ela pode se dar ao luxo de correr riscos e transitar por diferentes gêneros musicais; e é exatamente o que vemos em seu novo disco, Joanne.
Já com uma promessa de um projeto diferente, o primeiro single lançado para o álbum foi “Perfect Illusion”, que também ganhou um vídeo clipe. Sendo o clipe o primeiro contato do público com o novo material, Gaga estava insegura, com medo de decepcionar os fãs por “não estar em uma fantasia” (algo que vemos com transparência em seu documentário “Gaga: Five Foot Two”), e, de fato, houve um certo estranhamento e os fãs da cantora ficaram divididos em relação à nova versão da mesma. Alguns fãs adoraram o novo som, enquanto outros acharam que ela estava se distanciando bastante do pop que eles já conheciam e gostavam.
Em Joanne somos apresentados a uma Lady Gaga menos comercial, mais acessível e autêntica; o que influenciou diretamente suas músicas, agora com um som mais orgânico, uma masterização, arranjos e tratamento mais suaves. Outra diferença são as influências musicais, como Country, Rock e Jazz – apesar de não ser uma surpresa, tendo em mente que durante os dois anos que Lady Gaga ficou “afastada”, ela lançou um disco de jazz em conjunto com Tony Bennett.
O álbum conta com 11 faixas, e sua versão Deluxe traz mais 2 originais e uma versão acústica da última canção do disco. Grande parte do álbum contou com a produção do famoso Mark Ronson (que já trabalhou com Paul McCartney, Adele, Amy Winehouse, entre outros grandes nomes) e trouxe alguns músicos proeminentes como Father John Misty e Beck Hansen.
As melhores faixas, na minha opinião, são as que carregam mais emoção. Em destaque está “Million Reasons”, que apesar de reproduzir uma “fórmula de balada” um pouco batida, possui uma letra bonita e fácil de se identificar, “Joanne” – a música título do álbum, dedicada à sua tia paterna que faleceu aos 19 anos de idade por complicações com Lúpus. Pelo próprio background já era de se esperar uma letra bem emotiva, e a vibe acústica (com uma mistura de country com folk) que consiste apenas em guitarra e voz, consegue emocionar. E não posso deixar de mencionar “Angel Down”, música inspirada na morte do adolescente Trayvon Martin, que foi morto pela polícia nos EUA e começou o movimento “Black Lives Matter”. A faixa carrega um arranjo dramático com piano e voz, e uma letra forte, apontando muitas falhas nas ações e prioridades humanas, dando um sentimento de encerramento ao álbum.
Outras músicas que se destacaram foram “Diamond Heart”, que traz uma mistura de rock com um gostinho do seu álbum anterior, “ARTPOP”, contando com Josh Homme do Queens of the Stone Age na guitarra e uma letra muito pessoal e vulnerável, contando como era sua vida antes da fama, e “Hey Girl”, um dueto muito bem-vindo ao álbum com Florence Welch, trazendo como temática sororidade e empatia entre mulheres. Achei quase impossível escutar essa música sem lembrar de “Benny and the Jets” do Elton John – e acredito ter sido proposital. Gosto muito do contraste das vozes delas e da construção do dueto, mantendo ambas sempre presentes na canção.
Infelizmente, nem todas as faixas me agradaram. “John Wayne”, que chegou a ganhar um vídeo clipe, é carregado pelas batidas enquanto a letra deixa a desejar. Há uma presença forte de distorção que se destoa um pouco do resto do álbum; mas gosto de como ela usa o nome John Wayne para fazer uma alusão ao título do álbum. Outra que deixou a desejar foi “Come to Mama” que passa uma forte sensação de música festiva, tem um refrão que fica na cabeça e tenta passar uma mensagem de paz e amor, mas no fim fica uma mistura de argumentos vagos e ingênuos que não preenchem bem a música. Por último, não consegui gostar de “Dancin’ in Circles”, uma faixa influenciada pelo Dance Hall, dando um inesperado ar mais “raggae”, fazendo uma óbvia alusão à masturbação, enquanto tenta usar um simbolismo desnecessário e um pouco cansativo.
O resto do disco segue com músicas legais, como “Sinner’s Prayer” (que consigo ver facilmente se encaixando um filme do Tarantino), “Grigio Girls” – uma homenagem à uma amiga próxima de Gaga que está com câncer, “Just Another Day” que não se destaca, mas também é uma música agradável de ouvir, e “Ay-O” que, sem dúvidas, é a música mais dançante do álbum (aquela que da vontade de bater as mãos e os pés no ritmo da música).
No fim das contas temos mais do que um novo álbum, mas um ponto de partida para uma nova era de uma das cantoras mais aclamadas da atualidade. Lady Gaga, que tem como um de seus ídolos David Bowie, o famoso “camaleão do rock”, mostrou que também consegue transitar por gêneros diferente sem muita dificuldade. E mesmo se reinventando a cada nova fase, a sensação que temos é de Gaga voltando às suas origens, não só quando analisamos as letras de suas músicas, mas quando ouvimos o produto final. Estou muito ansiosa para ouvir o que vem pela frente.