Plano Aberto

Narcos 3×01 – Jogada de Mestre

Narcos Jogada de Mestre Gilberto Rodríguez Orejuela

Texto exclusivo sobre “Jogada de Mestre”, primeiro episódio da terceira temporada de Narcos. Clique aqui para ler a crítica completa da terceira temporada.

O primeiro pensamento que vem à cabeça sobre uma terceira temporada de Narcos é “mas o Pablo já morreu”. E faz sentido questionar o porquê de uma série que se vendeu como uma cinebiografia do narcotraficante mais famoso do mundo seguir sem ele. Até começar “Jogada de Mestre”, primeiro episódio deste novo arco, que se mostra ambicioso desde o começo.

Peña: peixe fora d’água

Co-protagonista nas duas temporadas anteriores, o Javier Peña de Pedro Pascal ganha espaço após a morte de Pablo Escobar. Sua primeira aparição é em Laredo, Texas, aproveitando as “férias acumuladas” em casa. Fica claro o quanto ele se sente desconfortável em seu “lar, doce lar”. Constantemente isolado dentro dos quadros, ou com seus interlocutores fora de foco, ele está sempre deslocado naquele ambiente. É uma questão de tempo (uma cena) para que ele saia de lá e volte a Medelim para enfrentar o narcotráfico.

A frase dita por seu pai logo antes da partida é um belo exemplo de foreshadowing (técnica que consiste em dar um indício da conclusão de uma história durante o seu desenrolar, “escondida” do espectador). Merece nota porque começa a se provar já neste episódio. A revelação sobre como a Drug Enforcement Administration – DEA – vai combater os “Cavalheiros de Cali” é o maior desafio para Peña.

A execução sumária de Escobar parece uma lembrança mais acolhedora para Peña do que a ideia de permanecer em casa

A ambiguidade moral, os tons de cinza entre o bem e o mal, grande diferencial de Narcos, está de volta em “Jogada de Mestre”. As cenas com maioria de personagens estadunidenses (embaixada na Colômbia, a festa de Peña e uma rápida tomada em Nova York) usam cores frias. O oposto acontece quando vemos os chefões do Cartel de Cali. Numa série policial, a tendência é que fiquemos do lado dos “mocinhos”. Mas há um trabalho conjunto de fotografia (não só nas cores, mas principalmente na forma como os personagens são contornados pela luz), trilha sonora e mixagem de som. É difícil não ver certa malemolência nos traficantes (que também são descritos como o simétrico oposto do finado Escobar), pintados de cores vivas e muito mais interessantes do que os engravatados ianques enfurnados em salas impessoais e, principalmente, sem o acompanhamento do cancioneiro latino.

É um pagamento de propina, mas parece agradável. Principalmente, feito à luz do dia.

“Jogada de Mestre” faz com maestria o trabalho de estabelecer personagens novos e aprofundar outros já conhecidos, mas com relevância até então secundária. Uma trama menor que apresenta potencial é a de Jorge, homem de confiança dos “Cavalheiros” que tenta construir uma vida dentro da legalidade, mas subitamente se vê incapaz de impor a sua vontade diante dos patrões. Eis o grande mérito da construção visual de Narcos: ela dá ênfase à brutalidade daqueles que até dois minutos antes eram vistos como “homens cordiais que vendem drogas”.

Quando praticam algum ato de violência, os “Cavalheiros de Cali”, até então bem iluminados, ficam ocultos por sombras, endurecendo suas feições e se tornando menos aprazíveis

O argumento da temporada, praticamente todo contido neste episódio, corre o risco de seguir um rumo previsível de acontecimentos. Mas é inegável que a série se mostra capaz de despertar o interesse por um universo que parecia resolvido, sem perder o que a tornou marcante em seus primeiros 20 episódios.

Não existem mocinhos em Narcos. Assista a todos os episódios da série clicando aqui.

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