O ano de 2016 foi curioso para o cinema. Apesar de um fraco Oscar, o que veio a seguir em Cannes e nos demais festivais e premiações foi uma onda de filmes trazendo importantes questionamentos sociais, como o brasileiro Aquarius e o argentino Paulina. Além destes, marcou-se também pelo renascimento do terror com os ótimos A Bruxa, Boa Noite, Mamãe e O Homem Nas Trevas. Houve ainda uma enxurrada de remakes e continuações como Star Trek, Rogue One: Uma História Star Wars, Sete Homens e Um Destino e todos os filmes de super-heróis da Warner e da Marvel-Disney.
Na lista abaixo, traremos os que acreditamos que sejam os dez melhores filmes lançados em 2016. Com destaque para o forte viés social do cinema latino e para o excelente ano do cinema sul-coreano. Vale lembrar que filmes de altíssimo nível como A Qualquer Custo, Eu, Daniel Blake e Manchester à Beira-Mar terão seus lançamentos apenas em 2017, e outros como Ex-Machina e Mad Max: Estrada da Fúria, estrearam em 2015, por isso não constam na lista.
10) Desajustados
Direção: Dagur Kári
País: Islandia
Contando a historia de um homem de 40 anos com transtornos mentais que o fazem pensar, agir e sentir como uma criaça, Desajustados traz uma direção sensível, um roteiro intimista e atuações assertivas para compor um melancólico estudo de personagem sobre um individuo incapaz de encaixar na sociedade. Sua crítica pode ser lida aqui.
9) Aquarius
Direção: Kleber Mendonça Filho
País: Brasil
O longa de Kléber Mendonça Filho foi injustamente ignorando na escolha para representar o Brasil no Oscar de 2017. Uma pena, pois além da dominante direção de Kléber, o filme conta com uma atuação digna de todos os prêmios possíveis para a lendária Sonia Braga. Trazendo diversas alegorias à atual situação política e social do país, é um filme sem medo de defender sua ideologia e o faz sem soar panfletário. Também possui crítica no site, que pode ser lida aqui.
8) A Bruxa
Direção: Robert Eggers
País: Estados Unidos
Sendo o principal representante do renascimento do gênero “terror” em 2016, A Bruxa se destaca pela fantástica e inteligente criação de um clima ameaçador. Sem abusar dos “jump scares”, intimida seu espectador pelo peso de seus planos e pelo que é sugerido estar no extra-campo. A crítica de A Bruxa para o Plano Aberto foi a primeira escrita no site, e pode ser lida aqui.
7) Juventude
Direção: Paolo Sorrentino
País: Itália
Tendo como trunfo a fantástica fotografia, que usa perspectiva para gerar simetria e equilíbrio no cenário, reproduzindo as características presentes no conjunto de personagens, Juventude, filme de Paolo Sorrentino é uma linda mensagem de aceitação da inexorabilidade do tempo que traz inesquecíveis atuações dos lendários Michael Caine e Harvey Keitel, além dos sempre ótimos Paul Dano e Rachel Weisz.
6) Elle
Direção: Paul Verhoeven
País: França
Do mesmo diretor de Robocop, (também conhecido como American Jesus) o longa francês conta a história de Michèle, uma mulher que busca descobrir a identidade de seu estuprador. Utilizando uma roupagem de suspense policial para calcar duras críticas à forma que Hollywood utiliza o estupro como ferramenta narrativa, Elle é um dos filmes mais viscerais e sarcásticos dos últimos anos. Sua crítica pode ser lida aqui.
5) O Abraço da Serpente
Direção: Ciro Guerra
País: Colombia
O longa colombiano chegou a concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas perdeu para O Filho de Saúl. A ousadia e genialidade de fotografar um filme que se passa na floresta amazônica em preto e branco já diferencia O Abraço da Serpente dos filmes comuns. As ricas alegorias que trazem questionamentos filosóficos e existencialistas acerca do ser humano e sua fé enriquecem muito uma narrativa naturalista e graciosa. Sua crítica também está disponível no site e pode ser lida aqui.
4) Capitão Fantástico
Direção: Matt Ross
País: Estados Unidos
Uma emocionante aventura com questionamentos acerca do papel do pai na criação dos filhos e os limites de seu controle sobre as crianças. Conseguindo trazer importantes críticas à sociedade contemporânea, o filme acerta ao ser extravagante sem nunca se tornar uma caricatura de si mesmo. Foi visto por nós na cobertura do Festival do Rio, sua crítica pode ser lida aqui.
3) Certo Agora, Errado Antes
Direção: Hong Sang-Soo
País: Coréia do Sul
Uma obra que brinca com as aleatoriedades da vida e o rumo que podemos tomar com ínfimas atitudes, Certo Agora, Errado Antes ensaia sobre o que um relacionamento é e o que poderia ser. A maior qualidade da narrativa é a sutileza no desenvolvimento do relacionamento dos personagens, construído a partir de uma mise-en-scene impecável e de atuações humanas e cheias de candura. Um filme denso por sua duração e monotonia, mas profundo por seu alto valor humano. Clique aqui para ler sua crítica.
2) Paulina
Direção: Santiago Mitre
País: Argentina
Poucas palavras poderiam descrever Paulina melhor que “aula de direção”. Trazendo uma forte e importante mensagem humanitária sobre respeito e igualdade de gênero, o longa do promissor diretor Santiago Mitre utiliza enquadramentos e movimentos de câmera para construir um tenso e ameaçador clima sexista que acorrenta a protagonista. É uma importante obra que cutuca a relativização do estupro, a objetificação da mulher e a importância da discussão desses temas na sociedade atual. Clique aqui para ler sua crítica.
1) A Chegada
Direção: Denis Villeneuve
País: Estados Unidos
Dos filmes lançados no circuito nacional em 2016, é difícil achar um à altura de A Chegada. O longa de Denis Villeneuve usa uma roupagem sci-fi com forte influencia de Contato para contar uma história sobre amor e nos fazer refletir sobre a humanidade, suas formas comunicação e sua relação com o tempo. Riquíssimo em linguagem e técnica, tem tudo para sair com muitos prêmios no Oscar 2017 e merece ser lembrado como um dos melhores filmes da década. Sua crítica pode ser lida aqui.
Menções honrosas: Desajustados, Invasão Zumbi, Snowden: Herói ou Traidor e Steve Jobs.