A pressa é inimiga da perfeição, é o que dizem. E para os integrantes do Papangu, a máxima não poderia ter sido mais verdadeira. Com o seu nome emprestado de uma figura mascarada carnavalesca do interior de Pernambuco que se tornou sinônimo regional de um monstro medonho fantasiado, o grupo formado em João Pessoa em 2012 passou por várias mudanças de lá para cá. Ao maturar anos a fio o seu som, partindo das vertentes sujas e lentas do metal até chegar a pontes com gêneros regionais e flertes com o rock progressivo — de cenas inclusive mais nichadas, como o famigerado Zeuhl —, a banda condensou seu cadinho sonoro em um disco coeso e conceitual. Holoceno, lançado em 25 de junho deste ano, mostra em sete faixas a jornada de um cangaceiro que acaba se deparando com o iminente desastre ambiental, em meio a camadas de riffs agressivos e letras de inspiração literária.
O processo de produção não foi dos mais simples, atravessando inclusive a pandemia, mas o resultado vem rendendo frutos nacional e internacionalmente, seja com resenhas elogiosas ou com o destaque em fóruns como o RateYourMusic. E para o momento pós-pandemia, eles ainda querem muito mais. Confira na entrevista abaixo, concedida em 25 de Julho pelos quatro integrantes do grupo: Hector Ruslan (guitarra, vocais), Marco Mayer (baixo, vocais, guitarra e sintetizador) Nichollas Jaques (bateria, vocais de fundo) e Rai Accioly (guitarra e vocais).
Na biografia do grupo, consta que vocês começaram em 2012 como um trio e fazendo um som diferente do que é apresentado em Holoceno, mais puxado pro stoner. Como isso aconteceu e quem estava nessa formação inicial?
Hector: Formação inicial estávamos eu, Marco e Nichollas. A gente iniciou justamente ali, meados de 2012. A ideia na real era fazer um som mais voltado pra esse lado do stoner, rock do Deserto, doom, sludge, que é aquela parada: todo mundo meio influenciado por Black Sabbath, Black Flag… Um som mais devagar, com uma influência Sabbathiana e alguma coisa de Grunge, aqueles riffs, devagar e pesadão. As influências nessa época eram justamente Kyuss, Black Sabbath, Sleep, Red Fang. Começamos tocando covers, e sempre pensamos que os covers sempre seriam um caminho pra banda criar um tipo de sonoridade própria para começar a fazer um som autoral. E aí quando a gente começou a fazer as primeiras músicas autorais a ideia começou a migrar. Eu digo que assim, a gente tocava alguns sons voltados pro stoner rock, mas quando começou a fazer as músicas próprias, veio muito a identidade, uma coisa voltada mais pro psicodélico, uma coisa mais progressiva, mais complexa, com tempo quebrado, que Nichollas e Marco já tinham também um background prog maior. As composições foram transitando para esse lado mais progressivo e o negócio virou de ponta cabeça. Se você escuta o Holoceno hoje, é outra parada.
Nichollas: E eu queria adicionar que uma coisa que uniu a banda toda: a gente é muito fã do Mastodon, que é uma banda notória de sludge e prog, então trazia muito dessas influências. Eu falo por mim em questão de bateria, influência de groove, de virada, eu tentava trazer… E aí quando a gente começou a mudar essas vertentes, uma coisa que começou a adicionar foi a regionalidade, de música nordestina. Eu comecei a pensar “cara, tenho que tocar metal com influência regional” foi quando assisti o primeiro show do Cangaço, que é uma banda de death metal com progressivo e com música regional. Quando eu escutei aquele negócio eu fiquei muito alucinado. Aí cheguei pros caras: “a gente tem que fazer algo nessa vibe que vai dar muito certo”. Mas claro, com o estilo da gente, porque a gente não era technical death, tinha uma vertente mais doom… E aí isso foi agregando, esses vários nichos, esses vários sons, com o passar dos anos a gente foi começando a amadurecer, e acabou se tornando o que é hoje, a sonoridade que é hoje. Começou com um negócio mais simples, foi evoluindo, foi evoluindo, adicionando elementos, e resultou no disco que é o Holoceno hoje em dia.
Marco: Só adicionando, acho que a influência da gente não se resume só à música não, mas também à cultura do Nordeste, da Paraíba, de Pernambuco, Rio Grande do Norte… O engraçado é que muito da estética do metal lá fora é essa coisa do pesado, do macabro, do mal, só que o Nordeste todinho tem uma história muito forte de resistência violenta à opressão violenta. É um ciclo eterno de conflito que tem aqui. Queira ou não, mesmo com o progresso ao longo dos anos, sempre foi muito influenciado por essa coisa da resistência, da seca, da Flor de Mandacaru que resiste à seca mas segue lá forte. E isso meio que influenciou a fazer algo muito próprio. Porque tinha meio que um vácuo. Ainda acho que existe um vácuo, de música pesada brasileira em português. Até os nossos maiores expoentes, feito o Sepultura, fazem quase tudo em inglês, apesar de terem a influência muito forte do ritmo daqui. A gente pensou: se a gente ama esse tipo de música, mas falta esse tipo de música em português, o mínimo que a gente pode fazer enquanto fãs que sabem tocar um instrumento é buscar ocupar esse espaço que tá meio vazio. Tudo o que a gente compõe é um amálgama do que a gente ama na música. Não que a gente roube alguma coisa, por mais que as nossas inspirações se relevem de uma maneira forte, mas tem um quê de originalidade no fato de a gente ter feito em português e feito um blend dessas influências num pacote mais coeso e bem típico. Dá pra entender o nosso sotaque na nossa música.
Nichollas: E esses elementos de resistência… Têm vários, Lampião, Antônio Conselheiro, e a gente tenta trazer isso não só na musicalidade, mas também nas letras. Então tudo aborda esse tema de história, cultura, folclore nordestino, e pra gente é muito importante estar abordando esses temas.
E como exatamente vocês começaram a ir nessa nova direção, mais progressiva e como quarteto?
Hector: Foi quando nós tivemos as nossas primeiras oportunidades de fazer show, de mostrar a nossa música em casas independentes locais que tocavam hardcore, metal. Acho que no Brasil todo é complicado começar fazendo música autoral e progressiva e pesada, não dá pra tocar em todo canto. A gente começou tocando em lugares bem pequenos, bar e pub independente da cidade, e nesse momento quando a gente autopromovia shows próprios, chamava outras bandas amigas, muitas vezes bandas que nem tinham a ver, hardcore ou nu metal, sei lá, mas como tava todo mundo ali, naquele corre para fazer seu som autoral… E aí a gente pensou: “pô, não dá pra fazer show aqui só com cover”. E quando a gente começou a pensar e ser chamado para fazer show vimos que íamos ter que estruturar aqui. As nossas músicas nessa época surgiam muito como jam, improviso… A gente ia pro estúdio pra ensaiar, um trazia o riff, outro trazia outra seção, outro trazia a letra. Ficava brincando duas três horas, aí surgia a música. Agora precisamos sentar e estruturar: que música é essa aqui, ela vai falar de quê, qual o nome… E quando foi juntando essas ideias separadas a gente começou a ver que não ia ser um negócio de stoner normal, doom metal normal, viu que tava virando uma coisa própria.
Só para entender, nesse período inicial vocês se apresentaram mais em João Pessoa mesmo ou fizeram idas a outros locais também?
Hector: A gente tocou também em Campina Grande. Nós todos somos de João Pessoa, mas fizemos também show em Campina Grande, em uma casa de show chamada Vitrola, que nem existe mais. Foi uma noite dedicada ao prog, viajamos e dormimos lá. Mas, primordialmente, 95% dos shows foram em João Pessoa.
Compreendo… E voltando à questão da mudança para um quarteto, isso se deu quando exatamente?
Rai: Quando eu entrei na banda, em 2014, 2015… Eu acompanhava o show dos caras porque além de serem meus grandes amigos há muito tempo, adorava o som. E a primeira participação com eles foi justamente tocando cover de Mastodon, que eu nem na guitarra toquei, só fiz cantar. Era aquela Colony of Birchmen. E naquela época o set de vocês era um meio-a-meio. Seis músicas, três eram covers, três eram originais. Aí quando eu entrei que realmente houve esse fluxo grande de ideias e a gente passou a fazer um show 100% com música autoral. Acho que desde que eu entrei, a gente nunca mais tocou um cover ao vivo.
Nichollas: A entrada de Rai foi fundamental porque deu mais flexibilidade pra trabalhar nas composições, porque tinha uma guitarra extra pra fazer um tema diferente do que a guitarra lead e o baixo…
Hector: E vocal, também, acrescentou vocalmente…
Nichollas: Exato, porque o Rai tem uns vocais guturais e Hector mais os melódicos, então a adição de Rai ajudou bastante nessa transição.
Marco: E teve outro marco temporal aí que foi quando a gente começou a fazer produção, que aprendeu a mexer em DAW, primeiro o Reaper, depois o ProTools. Foi lá pra 2015 que a gente começou a organizar as demos, antes só gravava o áudio ou o vídeo de maneira amadora. Depois que a gente começou a destrinchar os detalhes faixa por faixa, ficou mais fácil de visualizar os arranjos. Porque numa sala de ensaio barata que você pega lá em João Pessoa, às vezes o volume tá muito alto, não tem um isolamento bacana pra você perceber todos os detalhes. Mas depois que você consegue fazer a “autópsia” e pendurar cada pedacinho da música na linha do tempo do Reaper, por exemplo, aí que a gente começou a viajar um pouco. E um pouco mais do que se esperava, porque eu como o maior fã de prog da banda, que sou viciado nessas coisas malucas, fui o primeiro a pegar nessas ferramentas de produção… Então queira ou não, acabei infectando, contaminando um pouco a banda (risos).
Rai: Isso que o Marco falou, que ele é o cara alucinado do prog, e isso é uma coisa fantástica dessa banda, que eu gosto muito no processo criativo. Que é o seguinte: embora todo mundo goste da mesma coisa, todo mundo gosta de Black Sabbath, todo mundo gosta de King Crimson, de sei lá, Sepultura. Mas cada um tem o seu background. Marco é esse do prog, Nichollas é o do doom, Hector o do heavy metal e do punk, eu tenho um pouco mais do thrash metal, metalcore… E esse conjunto de ideias acabou transformando muito a obra final, o Holoceno.
Marco: Eu ouvi até uma pessoa descrevendo o disco como um disco de “metal colorido”, foi como ela definiu. Foi engraçado porque, tipo, você pega uma música como “Lobisomem”, que começa com um sludge metal completamente caótico, pra passar para uma seção prog. E nessa parte do sludge caótico tem vocais que a pessoa até notou, lembram Offspring, que são vocais que Rai meteu lá. E é engraçado imaginar que num disco com faixas com compasso de 17/8 e solo de saxofone com minimoog tenha um gritinho de pop punk ali no meio. Se a gente tirasse esses elementos de cada bagagem que cada um traz aqui, o processo não teria dado certo.
Especificamente falando de progressivo, é comum associarem vocês pelo som e pelas influências declaradas do grupo a um subgênero muito específico do prog, que é o Zeuhl. Essa é uma categoria muito associada a uma cena inicialmente francesa e depois se espalhou pelo mundo, com força na Europa e no Japão especialmente. Mas no Brasil, me corrija se eu estiver errado, eu legitimamente não me recordo de bandas que abracem isso de uma forma tão clara quanto vocês. Entre vocês, vocês se denominam como uma parte mesmo desse gênero, ou isso é algo mais informal?
Marco: Rapaz, eu acho que é muito informal. Acho que tem duas músicas que com certeza se enquadrariam nesse gênero, que são “Água Branca” e “Bacia das Almas”. São as duas que eu tive a maior pegada no processo criativo, que são músicas que eu fiz em casa e trouxe pra eles e a gente arranjou junto.
Mas eu não acho que dá pra se encaixar exatamente nessa categoria porque a gente não faz parte da tradição, mas pega emprestado muito das técnicas composicionais deles, do timbre de baixo distorcidão… E acho que não exatamente a influência sonora, mas a influência da ambição. Especificamente Magma, era muito ambicioso. Magma tem seu próprio universo, sua própria língua. A gente não pretende chegar a esse ponto (risos) de criar a própria língua, mas a vontade de fazer discos conceituais e contar uma história vão ficar.
Hector: Se eu puder acrescentar, uma boa definição, que quando me perguntarem eu vou ficar dizendo, mas não fui eu nem ninguém aqui que inventou, foi o reviewer do Metal Storm, e a tag da review é tipo “Zeuhl-Sludge is now a thing”. Pra mim, agora é zeuhl-sludge, tô nem aí pra outro gênero!
Nichollas: É, porque a gente começou meio com essa vertente Sludge Prog nos últimos três quatro anos, quando Marco tomou a frente da produção e composição. E como ele tem muita influência de zeuhl e de Magma, foi se encaixando.
Marco: Eu acho que acabou sendo um processo meio orgânico, porque o zeuhl tem muita coisa que lembra um pouco o ritmo do Nordeste. Você pega o Maracatu, aquele ritmo marchado do Maracatu, é muito parecido com a marcha tradicional, que obviamente tem uma tradição mais teutônica, mais francesa, mas pega os dois você consegue fazer uma mistura coesa. “Água Branca” é tão zeuhl quanto é Maracatu. “Bacia das Almas” tem muita coisa rítmica lá que dá pra puxar das figuras rítmicas do Xote, da síncope, que é também a figura forte do zeuhl. Tem muito disso no Nordeste, no Samba, na Bossa Nova, no Maracatu, no Xote, no Baião, e também tem muito disso no Magma. E acho que isso faz com que a gente fique tanto na categoria do zeuhl quanto da música nordestina.
Sendo essa fusão toda orgânica, vocês não tiveram tanto aquela coisa tipo, “queremos soar tipo tal disco”, “tal banda” quando criaram as composições…
Hector: No começo era uma coisa mais assim, a gente tava engatinhando, ninguém tinha feito música na vida…
Marco: Mas o Nichollas era veterano da cena do metal aqui.
Hector: Era até um meme, uma brincadeira na banda, a gente era tudo moleque, basicamente Papangu foi a primeira banda séria de todo mundo aqui, e Nichollas já tinha tocado em banda com disco gravado, tudo.
Marco: A gente brincava que quando tinha que marcar ensaio tinha que ligar pra secretária de Nichollas (risos).
Hector: Ele tinha umas dez bandas, sem exagero.
Nichollas: Isso é porque baterista é uma raça em extinção, toda banda acaba emprestando o mesmo baterista.
Hector: Mas é, no início era essa coisa mais engessada, justamente porque tava pegando coisa do que a gente queria, moldando a identidade. Mas depois que começou a ter o output de todo mundo, assim, aí virou o que é hoje.
Nichollas: Acho que dá pra notar muito bem essa diferença se pegar a demo de São Francisco e Lobisomem, e comparar com a versão do disco. São músicas totalmente diferentes. Tem algumas riffagens iguais, a letra é a mesma, mas se pegar o conjunto, é totalmente diferente.
Rai: As músicas mais antigas do CD são “São Francisco”, “Terra [Arrasada]” e “Lobisomem”, e “Ave-Bala” é um pouco mais antiga mas é mais nova do que essa. Com exceção de “São Francisco”, “Lobisomem” e “Terra” já existiam antes de eu entrar na banda! E se você for comparar elas bebês com elas maiores de idade já lançadas pro mundo, maduras, você identifica a identidade delas, realmente são as mesmas músicas, mas o processo de maturação delas desde a composição em estúdio até o lançamento delas fez elas crescer de uma forma que quando a gente lembra a antiga e olha a nova, pensa “pô, não foi a gente que fez isso não, foi Hermeto Pascoal que baixou e fez essa composição”.
Marco: Terra, por exemplo, “Terra Arrasada” era uma música de 2013. Ela surgiu como um doom metal com vocal puramente gutural e o final não tinha nada a ver com a segunda parte da música, com aquela parte tribal que é tanto zeuhl quanto tribal nordestino. Mudou completamente.
Nichollas: O final era um black metalzão…
Hector: Que virou a ponte, né, que vai conectar as duas partes da música, não integralmente mas uma coisa ou outra está ali.
Antes de conversarmos mais sobre o disco em específico, é interessante comentar que vocês gravaram demos entre 2018 e 2019, mas não tive acesso a ouvir elas, porque elas não se encontram mais na página do grupo no Bandcamp. De todo modo, vi que eram gravações feitas entre 2018 e 2019, contando já com a canção “Holoceno”. Vocês já tinham a dimensão desse som e esse conceito que queriam pro disco nesse período, ou essas demos são mais um retrato um tanto inicial da gestação do trabalho?
Nichollas: Eu acho que o negócio foi se construindo nos últimos dois três anos, quando o Marco trouxe essa influência zeuhl com “Holoceno”, “Água Branca” e “Bacia das Almas”. Tanto que tinha outras outras três composições que destoavam totalmente, que eram músicas que a gente compôs quando começou a banda. A gente acabou decidindo não colocar elas, porque elas não tavam fazendo sentido com o que se tava construindo agora. Essa influência foi crescendo com o amadurecimento.
Marco: Mas tem um fato engraçado, eu acho, da produção do disco. A gente passou basicamente 7 anos fazendo essas composições, mas tudo mudou em 2019 quando eu recebi uma oferta de emprego no Espírito Santo. Aí eu fiquei “Meu Deus, eu vou morar fora, a banda vai acabar”, fiquei com essa crise e joguei a ideia pra todo mundo e disse: “se a gente for gravar um disco, a hora é agora”. Decidimos terminar todas as demos, deixar tudo pronto no aplicativo de produção musical, fazer os arranjos. A gente marcou e foi pro estúdio um mês antes de eu me mudar, pra começar a fazer tudo. Isso foi em julho de 2019.
A produção passou inclusive por meio da pandemia. Como ela afetou esse trabalho?
Marco: Basicamente o que a gente passou em estúdio foi um total de no máximo 6 dias no estúdio pra tentar terminar tudo, ficou um tempo de sobra pra fazer overdub e logo depois bateu a pandemia na hora de gravar a bateria. E por conta disso, o disco ficou morto, produção completamente parada, no limbo. Aí eu contatei um amigo meu, que é o Torstein [Lofthus], que toca bateria na banda Elephant9. Aí eu falei, “Torstein, a gente não consegue gravar bateria porque tá todo mundo morrendo aqui”…
Nichollas: A gente teve dois problemas. Um pela pandemia, que não tinha como fazer as gravações, eu também tava numa fase difícil na vida pessoal e profissional. E também porque teve problema com quem tava produzindo o disco. Juntou as duas coisas e o negócio empacou de um jeito… Acabou que Marco tomou essa frente e pediu uma ajuda externa.
Marco: Exato, a gente tomou um calote da pessoa que foi tentar produzir o disco, aí ficou bem atrasado e com desgaste financeiro considerável. Aí fomos pedir ajuda de alguns amigos. Um deles o meu ex-professor de piano, que tocou minimoog no disco; o Benjamin, da banda Seven Impale, que tenho correspondência faz anos e pedi para ele tocar o sax em “Lobisomem” e “Holoceno”; e meu primo que terminou o mestrado em engenharia elétrica lá no Canadá e tem uma pequena coleção de sintetizadores, ele que adicionou os toques na introdução de “Holoceno”. E com essa ajuda desses amigos e o conhecimento de produção caseira que a gente tinha foi preenchendo as lacunas. Conseguiu essa ajuda de Torstein que conseguiu gravar as baterias e levou para um colega dele mixar, e foi isso. Foi engraçado porque a gente passou pouco tempo no estúdio. Normalmente as bandas passam duas semanas, dois dias por música pra poder elaborar, improvisar, experimentar… E teve que pensar muito bem antes de fazer os arranjos antes de ir pra lá na hora porque o tempo era pouco. Poucos takes vocais. Teve coisa que gravamos com um take de guitarra, só um take de baixo. Os solos de minimoog foram segundo take, cada um foi dois takes pra fazer. Em pouco tempo a gente tentou colocar toda essa massa de sons de uma maneira coesa, e apesar da pandemia e desses outros obstáculos, deu pra concluir o disco.
Hector: E isso que Marco falou de dar impulso a cada um entender um pouco mais de produção musical foi crucial, porque a gente fez bastante polimento, adição e overdub em nossos estúdios caseiros. Tem até nome pra cada um, meio de brincadeira e meio sério, o de Marco é o Singaro Estúdios, o meu é o Cripta Estúdios. E é basicamente um canal, uma interface de som. A gente gravou o vocal aqui em casa dentro do meu quarto. Tomando uísque, sem camisa, dentro do meu quarto aqui, fazendo o estúdio, dando grito no microfone.
Rai: A mãe de Hector quase chamou um padre pra benzer o ambiente depois… (risos)
Hector: Eu que gravei guitarra, Marco gravou guitarra e baixo… A pandemia fez a gente se virar como pôde.
Como foi feito esse contato do Torstein?
Hector: Marco viu o show deles… Teve um material ao vivo que a banda dele [Torstein] lançou que eles gravaram ao vivo lá na Noruega e Marco tava lá, foi nesse show, eles gravaram ao vivo, aí tem CD, tem LP, tem nos streamings também.
Marco: Psychedelic Backfire… Fui pra três dos quatro shows que eles gravaram, fiz amizade com eles. Eu tinha conseguido uma bolsa pra estudar na Alemanha aí eu vi uma passagem de avião por cinco euros pra Noruega e fui ver o show. Depois eu vim a saber que ele foi gravado pro vinil.
Hector: E Marco pegou e passou o CD, inclusive eu tenho até hoje. Acho que você me passou o disco dois, da capa azul. E eu escutei e fiquei “caralho, que negócio absurdo”. Aí quando teve essa dificuldade com o Nichollas, Marco falou “olha, vou tentar entrar em contato com Torstein pra ver se ele toparia fazer isso”. Ele topou e foi foda.
E especificamente no caso do Torstein, como que isso se deu, vocês mandaram midis ou partituras de como seria a bateria para ele gravar, ou já tinham gravado tudo mas sem a bateria? Por que imagino que seja uma viagem, gravar tão à distância.
Marco: Eu passei pra ele todas as demos que a gente tinha e as gravações de Nichollas, ele tinha que fazer se inspirando nas viradas dele e nas figuras rítmicas que ele normalmente usa.
Nichollas: Tinha arquivo no Guitar Pro e tal que eu tinha escrito.
Marco: Ele fez pra se encaixar na estética…
Hector: Mas ele deixou bastante o DNA dele também. Se você escutar as bandas que ele tocou, ele pegou o som de Papangu mas soltou o dele também. Ficou bem interessante. Porque assim, e isso foi uma coisa que, quando a gente trocou mensagem com ele, falou: uma das piores coisas que você pode fazer é podar um músico. Não queria que o cara fosse um clone de outra pessoa, senão não ia tirar o melhor dele. A gente queria o melhor dele. E ele deu, por isso a gente ficou muito feliz.
Nichollas: Tanto que se surgir um show ao vivo tocando o disco Holoceno, com certeza não vou tocar 100%, porque eu vou ter as minhas influências ali dentro, e as ideias originais que eu tinha criado.
A mixagem do álbum foi feita totalmente no exterior também. Como foi esse contato com o mixador na Noruega e o masterizador nos EUA, levou muito tempo até acertarem uma mix que agradasse a vocês? Vocês tiveram reuniões para decidir os caminhos que o álbum tomaria, etc.?
Hector: Nosso porta-voz com os gringos é Marco… Claro que o ideal era mixar aqui no Brasil, mas como o Marco já mencionou, a gente tomou um prejuízo, ficou insatisfeito, não tava dando o desígnio sonoro que a gente queria. E aí ficamos maquinando, pra quem que ia mandar.
Rai: Eu acho que o desejo de todas as bandas é participar do processo de mixagem e masterização. Ficar lá na sala vendo o cara mexendo no computador, dando sugestão na hora. Mas primeiro que veio a pandemia e a gente não tinha condições de fazer isso, mesmo que escolhesse alguém de João Pessoa ou daqui perto para fazer essa visita, porque quando tava nessa fase era o pico da Pandemia, na etapa de morrer duas, três mil pessoas por dia. Não teria condições de se arriscar pra sair de casa pra fazer esse negócio. Então como a gente viu que não íamos poder participar pessoalmente, decidiu ampliar os horizontes. “Bom, já que a gente não vai poder tar lá, vamos ver se consegue encontrar alguém mais capacitado pra isso que caiba no orçamento”, e foi aí onde Marco partiu com as sugestões.
Marco: Exato… Falei com Torstein, e ele falou “se você tá tendo problema com a produção, porque a gente não chama o engenheiro de áudio que gravou minhas baterias lá do estúdio?” Aí a gente falou com o engenheiro da gravação, mandou o material que tinha terminado em casa, mandou e disse “a vontade estética é essa, as inspirações são essas”, aí mandamos uns discos que a gente ama. Ele absorveu e foi com o Torstein e mixaram de acordo. E ficamos muito satisfeitos com o resultado. Apesar de ter muita coisa amadora no processo que fomos aprendendo na hora, o resultado ficou 100% dentro do objetivo estético: algo pesado, lamacento… Nordestino, apesar de ter essa parte na gringa, mas o nordestino tá na composição, e a gente ajudou a mixagem a deixar esses elementos mais transparente.
Hector: E sonoramente falando uma coisa que a gente sempre pautou lá de trás é que não se queria o som de um heavy metal moderno. Que é algo que se você pega bandas de heavy metal moderno, tem aquela produção superlimpa, as guitarras tão rasgando o ouvido, o bumbo da bateria parece um clique, uma coisa violenta, incisiva, muito alta, pouca dinâmica… A gente quis trazer a produção pra uma inspiração mais Led Zeppelin, Black Sabbath, sabe…
Marco: Negócio mais analógico.
Hector: Exatamente. Como se fosse uma banda dos anos 60 ou 70 gravando Holoceno. Por isso tentou soar um pouco mais sujo, bateria um pouco mais aberta, mais acústica, e isso reflete no som que Holoceno acabou tendo.
Eu vou depois entrar nas colaborações que vocês fizeram no disco mais a fundo, mas queria saber já de antemão se para além da admiração para com os artistas de zeuhl e Prog, se vocês já tiveram um contato direto com artistas dessas “cenas”, seja de ir em show ou conversar com os caras mesmo? Algum desses artistas ditos mais clássicos já ouviu o som que vocês fazem?
Hector: A gente começou a entrar em contato até por causa do lançamento do disco. Tem gravadoras e selos que são liderados por artistas e bandas de que a gente gosta muito. E enviamos o material para ter contato com aquela cena, aquele pessoal… Questão de show, particularmente eu não conheci, já fui pra show de Mastodon, Black Sabbath, mas fica na base da inspiração. Agora Marco… Vai contar aí…
Marco: No meu caso eu tive contato com o Philippe Bussonnet, que foi o baixista do Magma entre 1996 e 2019, contatei ele num show que eu fui com o Nichollas junto, na Mostra Internacional de Música de Olinda. Ele foi tocar lá com a banda chamada Electric Epic, do saxofonista francês Guillaume Perret, que faz um sax com muitos efeitos, tem uma banda instrumental. Eu fiz amizade com ele, contei que era um grande fã da cena, a gente trocou endereço de email, e sempre se fala algumas vezes por ano. Ele me passou muitas dicas de técnica do Baixo, ele me ensinou a afinar o baixo em quintas, como um violoncelo uma oitava abaixo, me manda umas partituras de vez em quando… E eu conheci ele pessoalmente outras duas vezes depois, no show do Magma que eu vi em 2015 na Holanda, quando tava tocando no mesmo dia o Sunn O))) e a banda de Kamasi Washington, e a gente ficou mais amigo, tomamos uma cerveja junto… E depois nos falamos no show do Magma no Brasil, em 2018. De contato com banda foi mais com ele, com o Phillippe, que me ensinou muita coisa no baixo, é talvez minha maior influência no instrumento. E também com o pessoal do Elephant9, que eu conheci depois da série de shows que eles fizeram, conversamos bastante. Basicamente os contatos são esses. O cenário local é bastante fechado pra quem não é já inserido na cena…
Nichollas: Eu tenho duas observações sobre isso. A gente teve feedback positivo de alguns membros do Hazamat, uma banda daqui de João Pessoa, de rock alternativo com hardcore com influência regional, e até tocou um show com eles e os caras foram supersolícitos na época, disseram “caramba, a gente curtiu o som de vocês”. E também teve uma galera do Son of a Witch, que é uma banda de stoner doom de Natal, uma das referências do som no Brasil, e um dos membros disse que curtiu muito o som. Isso no âmbito regional.
Hector: Teve uma galera do Test, uma banda de grindcore e death metal de São Paulo, falou que pirou em Holoceno também.
Nichollas: É que o disco lançou há algumas semanas, hoje [25 de julho] faz um mês, e a gente tá tendo muito feedback positivo.
Rai: E mesmo os negativos, a grande maioria vem sendo construtivo. Teve um que não lembro se foi Hector ou Marco que viu, que algumas pessoas falaram que o disco tava meio cru, meio amador em algumas faixas só que isso se deve pela pandemia e pelos overdubs caseiros. A gente não conseguiu gravar 100% em um estúdio, teve que pegar a nossa interfacezinha e finalizar alguns detalhes. Algumas pessoas captaram essa diferença de som, e levantaram essa crítica.
Marco: Mas é aquela coisa: a gente também não se preocupa tanto com os erros e as imperfeições, o que tá lá no disco é uma representação do que a gente quis fazer, e mesmo cru desse jeito é a estética que se queria. A gente aprendeu muito com o processo de produção. Sabemos o que deve fazer, e sabemos que o próximo disco, ainda que vá ser meio cru, não vai ter os mesmos obstáculos que tivemos que percorrer antes.
Um comentário que eu vi na página do RateYourMusic do grupo e que eu achei curioso era de alguém que gostou do disco e comentou “espero que eles não levem nove anos até o próximo disco”. Imagino que, passado um mês do lançamento, esteja meio cedo para falar nisso, mas vocês já têm músicas na manga para a continuidade do trabalho?
Hector: Tem sim, a gente tem ideia, na verdade tem uma música que é uma das favoritas da banda, mas não foi colocado em Holoceno porque a gente sabia que não teria a infraestrutura necessária para transmitir a música da forma que se queria transmitir. E a música meio que se transformou em uma grande história que a gente pretende contar nos próximos materiais, seja em EP, single ou disco. Com certeza tem material, agora é correr e se manifestar pra ver como que se vai conseguir. Porque a produção para colocar em áudio o que a gente quer expressar não é tão simples assim.
Marco: Mas felizmente vai demorar menos tempo…
Hector: É, com certeza não vai levar sete anos.
Nichollas: Acho que agora cada um tem mais experiência de produção e mesmo a gente estando distante pode compor em casa e escrever em casa e juntar tudo, e depois levar pra alguém fazer a mixagem e esses trabalhos finos finais. E acho que assim, daqui pra frente essa é a realidade de todo mundo, especialmente na pandemia, que a produção caseira virou um must…
Rai: Essa interface que dá a facilidade de você gravar em casa é uma revolução fenomenal para o mundo da música. E como foi uma mão na roda pra Holoceno, daqui pra frente vai ser essencial para qualquer produção que viermos a fazer, não só de Papangu, mas para qualquer outro projeto que Nichollas com suas quinhentas mil bandas queira elaborar (risos).
Sobre o RateYourMusic, o disco de vocês consta no Top anual [#17 no momento de edição desta entrevista] de discos e chegou a aparecer na página principal. Como foi pra vocês isso?
Hector: Aquilo ali foi tudo orgânico. 100% orgânico. Quando vimos que tava na frontpage eu fiquei sem acreditar. Caralho, agora fudeu. A gente não teve nada a ver com aquilo ali.
Nichollas: Eu tava olhando as estatísticas, a gente tava na frente de bandas de metal famosas tipo Helloween, banda de post-black, tipo Amenra… Eu não esperava nada disso.
Rai: Quando saiu que ficou em primeiro no top de artistas brasileiros, a gente ficou alucinado, porque ali na lista tem artista brasileiro que a gente admira pra cacete.
Hector: Marisa Monte…
Nichollas: Tinha Pabllo Vittar na lista.
Rai: Tinha uma galera da porra e, nossa, que fenômeno interessante. Foi realmente uma coisa fenomenal.
E de músicos brasileiros, seja de metal, prog ou de outras vertentes artísticas, o que vocês costumam ter contato e que talvez tenham influenciado o disco, você pode citar?
Hector: Pra mim com certeza Siba e Mestre Ambrósio. Mestre Ambrósio era uma banda que trazia muito essa influência do maracatu, do regional, com elementos que eram extremamente interessantes e que às vezes alguns poderiam nem pensar que não casavam entre si, como guitarra com maracatu. Não é rock, é música regional, mas pra mim é uma das maiores influências. Siba foi guitarrista e vocalista de Mestre Ambrósio, e depois tem carreira solo, com disco pra caramba…
Nichollas: Acho que eu fui em dois, três shows dele. Eu já o encontrei em aeroporto, tirei foto com ele, é super aberto.
Hector: Eu tenho o CD assinado do “Siba e a Fuloresta”, que ele gravou com os caras do Agreste de Pernambuco, tocando pífano, tocando alfaia… Numa fazenda, velho!
Nichollas: De influência regional não pode faltar pra mim Chico Science, revolucionário do Manguebeat, gênero totalmente nordestino e totalmente inovador. E acho que a gente tentou pegar essas raízes, tentar fazer um som diferente dentro do metal e dentro da regionalidade. E outros artistas regionais… Cabruêra, que é outro exemplo de música paraibana com influência regional, o próprio Hazamat que a gente já teve feedback positivo deles…
Rai: Zeferina também…
Hector: Isso, Zeferina Bomba… O Quinteto Armorial, com o projeto de musicalização de algumas obras de Ariano Suassuna, negócio absurdo, fantástico, me mexeu muito também.
Marco: Outras influências muito brasileiras e que me influenciaram muito foram Edu Lobo e Moacir Santos. Além desses, o Itiberê Zwarg, que foi baixista do Hermeto Pascoal por muito tempo e que tem um excelente projeto chamado Itiberê Orquestra e Família, que ele gravou com os filhos e alguns alunos da escola de música, e eles tão inseridos nesse cenário da música universal de Hermeto Pascoal. Esses três foram a minha bíblia no tempo que eu tava aprendendo a fazer arranjo, porque eu tinha entrado num coral, cantei umas músicas de Edu Lobo, depois entrei numa big band lá de Vitória, a Pop Jazz, e entrei como baixista substituto, pegando aqueles arranjos e vendo na tora, dentro da mixagem da big band que eu absorvi muita coisa e tentei botar quando produzi o disco. Cheguei a morar em Vitória por um ano e oito meses, mas bateu a pandemia, voltei pra João Pessoa para ficar com a minha família e larguei o emprego. Meu tempo em Vitória foi pouco, mas consegui participar dessa big band, e foi um período muito rico pra mim de aprendizado musical, porque eu nunca tinha estado no meio de uma orquestra dissecando um arranjo em tempo real. Então na hora de escolher quem ia ficar com qual voz e como a gente ia desenhar a harmonia eu puxei um pouco disso.
Chegando no disco então, ele foi gravado entre 2019 e 2021. Uma coisa que chama bastante atenção é a influência literária, especialmente do modernismo e de uma literatura regionalista do século XX. Algumas referências são bem diretas, como a “Ave-Bala” do João Cabral que dá o título à primeira faixa, e os dois sonetos do Suassuna citados em “Lobisomem”. O que vocês costumam ler e como isso influenciou o trabalho?
Hector: Na verdade, eu particularmente gosto muito de ler Ficção Científica. Uma inspiração que a gente trouxe pra Holoceno foi justamente esse elemento de mixar a realidade à fantasia e aos elementos do Nordeste. É quase uma história de realismo mágico, pega uma história de um cangaceiro, sobrevivente, bandido pra uns e herói pra outros, pega essa pessoa e insere ela num contexto quase… de uma mistura de Divina Comédia, com alguma coisa de Literatura Gótica também. Então, uma coisa que me remete bastante é trazer elementos fantásticos, Mastodon faz isso em alguns discos conceituais deles, não são todos, mas são discos que contam histórias, cada música é como se fosse um capítulo daquela história. Aí vai contando essa mistura de fantasia com realidade no imaginário nordestino, que é algo que a gente sempre quer pautar. Então a história de Holoceno vem inspirada nestes elementos.
Marco: No meu caso acho que teve três influências diretas na hora de fazer o disco. Primeiro eu tava lendo o livro Fausto, Doutor Fausto, não o de Goethe mas a releitura de Thomas Mann, que é a história de um compositor chamado Adrian Leverkühn que faz um contrato com o diabo pra ser o maior compositor do mundo. E nisso ele faz uma referência aos compositores de música clássica moderna do século XX, mas a história é basicamente isso, um contrato com o diabo pra ser o maior compositor do mundo e ele falha e ultimamente sucumbe à morte. E tem um quê dessa tragédia aí, de você fazer um esforço descomunal e perder que eu acho que serve para ilustrar o desastre ambiental. No caso, a futura extinção do Holoceno, que pode ocorrer graças à atividade humana na terra. E o disco Holoceno meio que se refere a isso, uma espécie de alegoria para esse esforço que se tenta fazer pra salvar o país dos erros que a gente cometeu… O país, não… Tanto o país quanto o mundo dos erros que a gente cometeu ultimamente. A força da natureza é muito mais forte que algo que a gente possa impedir. E fora essa questão ambiental e o Doutor Fausto, teve também o disco The Lamb Lies Down on Broadway, do Genesis, talvez um dos discos conceituais que mais me influenciaram na minha formação musical, e tem outro quê dessa tragédia, que pras músicas que eu fiz a letra eu tentei um pouco trazer, do protagonista que é ciente de tudo que tá acontecendo e que ele sabe que vai dar merda. É todo um quê de “vai dar merda”, o disco inteiro, especialmente na música “Bacia das Almas”.
Hector: Já puxa um pouco pra um livro de que eu e Marco gostamos muito, que é Duna. Imagina, se Duna se passasse no Sertão Nordestino, poderia ser Holoceno (risos).
Nichollas: E acho que também não pode faltar Vidas Secas, de Graciliano Ramos, literatura de cordel em geral, acho que tudo isso acaba influenciando tanto na musicalidade quanto nas letras também.
Marco: Exato, sem contar também João Cabral de Melo Neto e a Morte e Vida Severina. Ele, Augusto dos Anjos e Ariano Suassuna, são os três poetas que mais influenciaram a gente, eu acho, tanto na estética da banda em geral, nos próximos trabalhos, quanto também nesse disco especificamente. Que é essa consciência social que perpassa a obra deles, especialmente a de João Cabral de Melo Neto.
Outra coisa que me parece marcar o disco é que, para além de vocês terem mudado de som de 2012 até 2021, é bem cabível dizer que o Brasil mudou também bastante, e em muitos casos para pior. E é perceptível que, ainda que não seja aquela coisa direta de palavras de ordem etc., vocês têm certamente um tipo de posicionamento político a partir do conceito deste disco, seja na questão da identidade do Sertão ou mesmo na questão ambiental, sobretudo nas políticas atuais do governo federal. Isso foi uma reação natural ao clima atual do país? Vocês sempre buscaram essa veia mais crítica ou isso foi uma necessidade do momento?
Rai: Eu acho que a veia crítica sempre existiu, a gente sempre carregou. Eu posso afirmar com certeza boa porque conheço os meninos desde antes da banda ter começado. Então esse pensamento foi algo que a gente sempre carregou e com o nosso amadurecimento ele também foi amadurecendo, e como a composição do disco acabou casando com a mudança de status quo do Brasil, as coisas acabaram confluindo com um ritmo bem legal.
Hector: Foi um reflexo, e ainda que a gente não traga aquele som eminentemente de palavras de ordem, de slogan, a mensagem tá ali. De resistência, de combate, que o nordestino é um sobrevivente… A mensagem de sobrevivência é muito forte. A mensagem ambiental tá ali, é interessante e a gente quer muito que as pessoas percebam isso. Para além da camada de riff, de bateria, de gutural, se essa mensagem de sobrevivência, de nordestinidade, de meio ambiente chegar nas pessoas, eu vou dormir igual um bebê.
Marco: Acho que a música mais transparente do disco nesse sentido de consciência política é Terra Arrasada, que tem uma citação direta de Margarida Maria Alves, uma líder camponesa aqui da Paraíba que foi assassinada a mando de uma liderança política muito conservadora e latifundiária no final dos anos 1980 ainda [na verdade, foi em 1983]. A música fala de “é melhor morrer resistindo, é melhor lutar”, e “se eu morrer de fome, eu rego a terra com meu sangue”. Ela falava que preferia morrer de fome a morrer sem lutar. E a música meio que é dedicada a ela, até na primeira parte da letra que Hector tinha feito muito tempo atrás, com aqueles guturais no começo na seção Doom da música, mas as partes se casam. Essa coisa da resistência contra a violência quase desnatural, quase sobrenatural do conservadorismo e reacionarismo político. Todo o disco é um ato de resistência. A gente tentou mostrar isso não só no fato da música do disco inteiro não se encaixar numa única caixinha, de “um disco de stoner puro”, ou então de “doom tradicional”. Não, não é isso, tanto o disco é rebelde em si, na sua estética, quanto no seu conteúdo lírico, que a gente tentou demonstrar.
Nichollas: Eu não sei se os caras concordam, mas eu acho que esse posicionamento veio de uma forma orgânica. Não foi algo de “a gente quer passar uma mensagem”, não, a gente foi trazendo nossas influências, esse tema é importante, esse tema tem que trazer, e as coisas foram surgindo de maneira totalmente natural, e tem tudo a ver com o que a gente acredita em posicionamento político.
Vocês têm divulgado o disco tanto pelos streamings quanto pelo uso do Bandcamp, que permite uma maior interação, com os fãs comprando o disco, etc. Como vocês avaliam essa distribuição, tem dado o retorno desejado para vocês?
Rai: É uma plataforma fenomenal, não só para o artista que pretende lançar uma obra lá, mas também para quem quer conhecer música nova. Porque lá você vai realmente encontrar muitas obras que às vezes estão num Spotify, num Deezer, só que não têm destaque, fica lá enterrado no fundo do algoritmo, que só vai mostrar na tela o que vende muito. E lá, por conta disso a gente acaba conseguindo um destaque maior, e as pessoas conseguem ouvir o nosso CD inteiro lá, podem adquirir se quiserem dar essa ajuda pra banda. Ainda assim, tem muita gente que não consegue comprar no Bandcamp, mas vai pras outras plataformas porque sabe que os artistas conseguem monetizar. Mesmo sendo pouco, porque no Spotify o repasse é mínimo, mas de toda forma acaba tendo um destaque. Os números que a gente vem tendo no Bandcamp tão se traduzindo também no Spotify e isso é bem interessante.
Hector: Rai é o nosso Analytics (risos), cara que tem todos os dados de reprodução. Mas brincadeiras à parte, a gente está bem satisfeito. Sabemos que é cruel esse mundo do streaming com o artista, o rastro da grana, que vai pra selo, vai pra própria plataforma, e quando chega no artista já é só a lamazinha. Mas o Bandcamp consegue dar um empurrão nisso, e claro, eles têm a fatia deles, isso é inerente ao business, mas é uma plataforma em que se consegue ter uma amplitude e isso tem sido bastante positivo. No que diz respeito além da música também, porque a gente tá vendendo a versão digital de Holoceno lá, mas vai também vender merch, sabe, tá fazendo uma leva de camisetas da banda que vai anunciar pelo Bandcamp e pelas redes sociais. Então além de ter essa plataforma de música ele consegue conectar o fã e o músico de forma bem mais direta e segura.
Nichollas: E a gente usa o Bandcamp desde a nossa primeira demo, e não pretende parar de usar porque é uma ferramenta muito útil.
Hector: E não tem porque parar de usar, hoje você tem bandas grandes que tem disco rolando no Bandcamp, não é só independente, pequena como a gente. Tem gravadora grande, tem selo grande… Tem tipo, sei lá, a Sub Pop, Epitaph Records, e os caras tão lá vendendo no Bandcamp. É uma plataforma que você consegue botar o pequeno e o grande ali, casados. É bem massa isso.
Para além do disco comum, as pessoas que comprarem o disco no Bandcamp têm uma faixa bônus que não está em nenhum local, que é um remix feito pelo Toby Driver do Kayo Dot e maudlin of the Well, duas bandas bem marcantes de um metal progressivo mais fora da curva. Como esse encontro se deu?
Hector: Marco foi um cara que trouxe também essa influência do Kayo Dot e do Maudlin of the Well, ele pelo menos me apresentou os discos e referências pro som de Papangu. No caso do Kayo Dot com o lado mais pesado, e no lado do Maudlin tem o prog e aquelas melodias lindas, e também tem um quê de rock e heavy metal por ali. E o Marco como fã mesmo sempre entrou em contato com o Toby Driver, através de internet mesmo, é uma ferramenta que pode dar muita merda, mas quando bem utilizada conecta muito bem as pessoas. E aí Marco conseguiu esse link com o Toby Driver, conseguiu o email do cara e sempre foi falando sobre envio de material, Marco comprou vinil diretamente dele, assinado, comprou camiseta, e aí meio que o que era uma relação de fã e músico, de admirador e músico, se tornou uma troca de emails ali, tranquila. Marco mandou uma das músicas, “Bacia das Almas”, pra que ele fizesse um remix pra sair como faixa bônus, exclusiva do Bandcamp.
Há o interesse também em fabricação de mídia física?
Hector: Antes da entrevista, a gente tava justamente analisando um contrato. A gente tá pra fechar o lançamento do disco por um selo gringo, um selo da Inglaterra, na verdade, que descobriu a banda.
Rai: Eles acharam a banda no RateYourMusic, aí mandaram mensagem no Instagram, perguntando se alguém já tinha se aproximado da gente pra… Na verdade, eles começaram discutindo a questão do vinil. Foi Marco que começou a negociar, conversar, e Marco na caradura deu a cara a tapa e disse: “já que não pode sair vinil agora, que tal um lançamento físico” e o cara falou “é uma boa ideia”. Aí o Marco tava nessa conversa, e hoje chegou o contrato, Marco passou o contrato. Eu e Hector nós somos advogados, aí Marco mandou esse contrato pra ver se tava tudo nos conformes e aí a partir de amanhã é que a gente vai começar a conversar pra entender como vai ser essa distribuição física.
Hector: E aí a ideia é essa, que a gente consiga lançar também em CD e em vinil futuramente, quem sabe, assim esperamos, se der tudo certo o pessoal vai poder adquirir as cópias físicas de Holoceno aí. Até porque, só chamando atenção especialmente pra capa, que tirando a camisa de músico eu acho aquela capa um espetáculo, tô louco pra ter aquela capa e segurar ela. Arte de Ars Moriendee, um artista que a gente comissionou essa arte a ele, você pode dar uma checada no Instagram, o cara é um gênio.
Nichollas: E ele já trabalhou com muitas bandas gringas, por exemplo o Pale Chalice, que é uma banda de black metal famosa no exterior, o cara tem uma bagagem grande. E como a gente sabe que ele era brasileiro, trabalhava com recortado, com colagem, com um estilo massa, acabou entrando em contato com ele e resultou na capa. Inclusive essa capa tem uns seis, sete anos, tem muito tempo. Ficou engavetado, e quando saiu o disco, falamos “a gente vai usar”.
Rai: Por pouco não foi a capa de um EP, que a gente fez antes de sair o Holoceno, bem caseiro mesmo, de duas músicas, que foram “São Francisco” e “Lobisomem”, e o debate é “usa pra lançar com isso ou não usa”. Eu não lembro porque a gente não usou, usou aquela da carranca.
Hector: Não usou por isso, porque a gente falou “vamos deixar pra usar quando tiver um material que a gente tenha plena segurança que vai transmitir, vai ser apto a levar essa capa”. Seguramos por bastante tempo e ficamos supersatisfeitos, a arte é muito foda.
Uma coisa que eu acho curiosa — e que acho que faz todo sentido perguntar a partir do que ouvi — é a questão de que vocês fazem um som que tem fortes raízes em problemáticas e histórias brasileiras, já a partir do nome do grupo e do fato de ser tudo cantado em português inclusive. Mas ao mesmo tempo, boa parte do som produzido tem não só um diálogo com cenas normalmente consideradas mais distantes do que se pratica aqui, como também o processo de produção passou por mãos de pessoas de fora. Como vocês lidam com essa dualidade? Vocês notam que pode haver alguma incompreensão ou incompatibilidade entre esses dois universos?
Rai: Musicalmente falando, a questão da incompreensão acho que não haveria tanta, porque como Marco falou o zeuhl tem esse sincopado que é parecido com o Maracatu então as coisas acabam se mesclando com certa naturalidade.
Hector: Música é música, né…
Rai: É… Agora quanto à questão da distribuição, pelo fato de ser em português, a gente passou por um caso, antes mesmo do disco lançar, quando tava vendo se encontrava algum selo pra financiar a produção, e algumas das respostas que recebemos negativas foram justamente por ser em português. “Não, por ser em português a cena não aceita, o negócio não vende bem, infelizmente vou ter que deixar passar”. Foi uma resposta que recebemos umas duas ou três vezes.
Hector: Exato. O fato de ter letras em português foi motivo de a gente receber emails negativos. Porque justamente pro mercado europeu e norte americano, que são amplamente os maiores consumidores de metal hoje, talvez não fosse algo interessante para os selos e gravadoras, e aí sim, a letra em português foi algo que se tornou um motivo de resposta desse pessoal gringo. Mas não foi motivo pra mudar, a gente queria fazer isso, a gente acha que o nosso sotaque musical e falado precisava se transmitir em Holoceno, e penso que foi a decisão certa. Eu acho que a nossa música não seria tão marcada sem a nossa fala marcada.
Rai: E foi outra decisão estética que a gente tomou de cantar com o nosso sotaque, não tentar emular um sotaque mais do sul e do sudeste. Isso é recorrente na música e não é que seja errado, é questão de estilo, escolha estética, e a gente preferiu fazer dessa forma pra trazer essa raiz pra dentro do CD. Tanto que um dos comentários em review falou que é engraçado como se consegue identificar o sotaque do Nordeste mesmo com esse pessoal fazendo essa gritaria todinha.
Nichollas: O que eu acho interessante dessa dualidade, quando a gente vê num âmbito nacional, o pessoal fala “caramba, vocês conseguiram fazer um metal pesado, progressivo com influência regional”, porque conhecem os elementos. E quando a gente tem uma receptividade da gringa, o pessoal fala “isso é muito massa, nunca tinha ouvido nada parecido antes”, porque a gente tem esses elementos e eles não tão muito acostumados com isso. Então essa originalidade é o que tá dando essa repercussão positiva, é uma coisa nova pra eles.
Hector: Acaba sendo um diferencial. Porra, tem gente no Brasil que não escuta música do Nordeste, que não conhece. Se tem gente no Brasil que não conhece gênios da música nordestina, imagina gringo, véi. Eles vão escutar isso e vão falar “meu deus do céu, que coisa maravilhosa”.
Rai: E essa questão de casar o peso com a música nordestina, tem gente que acha que casar o peso com a música nordestina, “ah, não é possivel, você não consegue fazer um heavy metal com forró”. Mas é possível. Inclusive tem uma banda de jazz que eu gosto muito daqui do Nordeste, Silibrina, que é uma banda que mistura jazz com as batidas regionais. Os caras têm uma música que se chama Frevo Maligno, que é um som fantástico, e se fosse uma música de black metal ia destruir quarteirão, de tão pesado que é. Os caras conseguiram fazer um frevo, jazz e pesado. É realmente espetacular, e que você consegue casar essas identidades musicais independente do gênero.
Eu sinto que tem uma natureza também um tanto teatral em torno do disco e da história que conta, do cangaceiro que faz um pacto, da libertação meio-Pandora de elementos destruidores do mundo. Vocês pretendem explorar esse lado da interpretação para além do estúdio, quando voltarem às apresentações ao vivo?
Hector: No caso, a gente quando tocava, antes da pandemia, sempre se pautou em uma performance enxuta. Não havia elementos, pensando aqui, tipo uma banda tipo Ghost, que os caras se encapuzam, tem toda uma mitologia por trás, o padre, papa, sei lá o que o danado é, e a música é como se fosse uma representação disso. No Papangu nunca teve disso. A mensagem é na música, sobe no palco, manda ver. Os elementos teatrais tão mais na música do que na roupa ou na forma de se portar ou qualquer coisa.
Nichollas: A gente até tinha uns gimmicks, mas era mais uma piada interna da gente, não gosto nem de entrar em detalhes (risos)
Rai: Era coisa regional mesmo, a gente gosta de valorizar. Aqui tem por exemplo um vendedor ambulante que fica gritando nas ruas da cidade, todo mundo conhece ele. Aí perto de um show eu esbarrei com ele na rua e pedi pra gravar o grito dele, dizendo “olha o Papangu”. A gente passou a abrir o show, uns três ou quatro shows assim. E quando toca o pessoal sabe que é daqui, todo mundo valoriza.
Hector: Nesse sentido, é, foi bom resgatar. E tem essa música que a gente escolheu não colocar em Holoceno pra se tornar um projeto próprio, e quando executava ela eu tocava triângulo. Como numa banda de forró, de coco, de baião… Esse tipo de elemento, que eu não digo que é teatral mas é da música nordestina, pra quem tá vendo de fora pode parecer, mas é um elemento que casa na música. Quem sabe no futuro a gente não vê pra além da formação clássica do rock, bateria, baixo, guitarra, talvez um sintetizador, mas ter também uma alfaia, um triângulo, quem sabe até um acordeon, uma sanfona no palco.
Nichollas: A gente tinha até ideia de trazer um grupo de maracatu pra agregar na música. Claro que seria um negócio que demandaria uma logística maior que a pandemia acabou não realizando, mas a gente ainda tem vontade de fazer.
Sobre isso, para finalizar a entrevista e também para as pessoas que se interessarem pelo grupo, quais são os planos futuros de vocês, e especialmente pro período pós-Pandemia?
Hector: A gente pretende tocar no Brasil todo, tocar fora, se for possível. Seria sensacional. Agora não tem muito como contatar ou ter perspectiva sobre isso porque o momento ainda é muito ruim, é complicado pra viajar, pra sair com liberdade, a vacinação vem se acelerando mas ainda tá longe do ideal, o problema persiste. A gente tá louco pra tocar, fala disso o tempo todo, quer ouvir Holoceno ao vivo, quer ver a reação ao vivo do público, ver como que vai transportar aquilo pra um cenário de live. Mas com certeza é uma ideia e oportunidades surgirão e a gente vai agarrar.
Nichollas: E a pandemia matou a cena underground daqui de João Pessoa. Desde o começo, não tem show underground aqui, nem sabe como vai ser depois. A gente sabe que o underground no Brasil é difícil, aqui é mais difícil ainda, e a gente não sabe se a galera que estruturava as casas tão aí ainda na ativa, porque a questão financeira veio atrapalhando. É uma incógnita, tem que esperar os próximos capítulos.
Rai: Pra ter ideia, Giovanni, aqui a cena funciona no centro de João Pessoa, a gente quando tocava sempre tocava nos bares por aquela região. Desde quando eu entrei na banda, em 2014, 2015, a gente tocou em bares que mudaram a administração pelo menos três ou quatro vezes. E isso nos tempos bons, nos tempos que tinha rotatividade lá. Agora tá quase dois anos parado o pessoal, e realmente a gente não faz ideia o que vai acontecer com a cena local.
Nichollas: Uma das grandes casas que a gente tinha aqui pegou fogo antes da Pandemia, então isso tudo acabou influenciando pra cena underground de João Pessoa passar por dificuldade.
Hector: Definhou bastante, o que é muito triste, porque a gente vivia lá. A gente, dos três aqui [Marco acabou deixando a entrevista um pouco antes] a gente sempre tava lá por essa região mais boêmia da cidade que é justamente onde rolava as casas indie, de show de metal, hardcore, música alternativa. Mas com a pandemia o negócio bateu muito pesado. Esperamos que tudo se resolva para que poder mostrar Holoceno pro maior número de pessoas possível.
Foto: Malu de Castro