Não importa o quanto seu bichinho de estimação seja bonito: o cocô dele fede. E para cada filme excelente, pelo menos cinco fedem ainda mais. É hora do Plano Aberto dividir com seus leitores aquela lista com os piores filmes de 2018, aqueles de que a gente vai se lembrar no leito de morte por nos roubar duas horas – às vezes mais – pra assistir. Cada membro da equipe teve direito a apenas um voto, o que certamente criou muitas injustiças. Se o seu pior filme do ano não está aqui, diga pra gente nos comentários!
Mas verdade seja dita: a lista de piores é a mais divertida de fazer.
Não há dúvidas de que Venom é um dos vilões mais famosos do universo Marvel. Além da sua natureza de simbionte levantar a bola para várias associações interessantes, ele já protagonizou ótimas histórias no universo do amigo da vizinhança – como a “Saga de Venom”, na série animada dos anos 90. Por isso, é inacreditável que um filme sobre uma figura tão conhecida dependa tanto de diálogos explicativos para contar a sua história. Em vez de aproveitar a condição do seu protagonista com uma trama que aborde os conflitos entre parasita e hospedeiro, “Venom” escolhe uma narrativa “científica” que não se sustenta – nem como ciência, nem como entretenimento. E esse não é o único potencial que o longa consegue desperdiçar: Tom Hardy e Michelle Wiliams são transformados em personagens unidimensionais que só servem para dar seguimento ao roteiro, e o vilão não passa de uma figura que se resume a “ser malvada”. De qualquer forma, “Venom” consegue superar as expectativas: não importa quão ruim a história esteja, ela sempre fica um pouquinho pior.
Cinebiografia autorizada (autorizadíssima!) do Bispo Edir Macedo, uma das figuras mais poderosas e controversas do Brasil contemporâneo, “Nada a Perder” é um filme cômico sem pretender sê-lo. Usa de uma dramaturgia televisiva primária (diretor e elenco são funcionários da Rede Record, propriedade de Macedo) para construir uma hagiografia de um homem que, se tratado com a devida complexidade, mereceria sim ter sua trajetória levada ao cinema.
“Nada a Perder” poderia mapear um fenômeno cultural fundamental para entender o país de hoje, que, inclusive, acabou de exercer papel fundamental na eleição do novo Presidente da República. Poderia ser uma espécie de “O Mestre” brasileiro, nas mãos de realizadores talentosos e livres das amarras de Macedo. Mas prefere o caminho da santificação de seu biografado/mecenas, alcançando, por meios duvidosos, o posto de maior bilheteria da história do cinema brasileiro.
A tentativa de desenvolver, de maneira sutil, o humor do personagem Deadpool em uma versão “A Princesa Prometida” do filme “Deadpool 2” foi um equivoco. Nem a presença de Fred Savage (da série “Anos Incríveis”) conseguiu realizar esse feito. O carisma do ator sumiu com o passar dos anos e ele acabou sendo mais um elemento desnecessário nessa versão Wade Wilson Para Baixinhos.
Para quem assistiu ao filme anterior o tédio será inevitável. Em um corte de duas horas, cenas de “Deadpool 2” são intercaladas com os diálogos entre o herói e Savage. Tentando ser engraçado e passando longe até mesmo da “Praça é Nossa” as piadas perdem a força no meio do caminho. Retirar de um filme do Deadpool o que o faz se distinguir entre os outros heróis foi uma tolice imensa.
Muitos incluirão “Roma” entre os melhores filmes do ano, mas para outros ele estará entre os piores, não pela qualidade impecável da produçã0 – afinal, quem a assina é Alfonso Cuarón, membro da genial tríade mexicana formada também por Guillermo Del Toro e Alejandro González Iñárritu (ok, este aqui já esteve em melhor fase). “Roma” está nesta lista pelo caráter machista, racista e colonizador que seu realizador lhe conferiu, na tentativa de ser fiel a seus sentimentos de infância pela empregada/babá que o criou, mesclando isso a uma suposta denúncia da desigualdade social no México.
O resultado ficou muito pior que a encomenda: a protagonista Cleo é unidimensional, uma criatura sempre inerte, passiva diante de um destino imutável, e, como se prevê para as mulheres pobres e não brancas nas sociedades desiguais, morrerá na miséria se não encontrar pela vida um benfeitor. E, para piorar a situação, a personagem acaba sendo punida pelos parcos momentos de prazer e satisfação que encontrou. Nada mais de acordo com a imaginação das classes privilegiadas nas sociedades de base colonial e patriarcal.
“Roma” mais parece uma novela de Manoel Carlos, com suas empregadas devotas aos patrões do Leblon, em co-autoria com o Fabinho de “Que horas ela volta”, que resolveu contar ao mundo suas memórias junto à empregada Val. E não é à toa que ele não passou no vestibular. Que decepção.
Um fim do mundo que não dá medo, um personagem que se torna um atirador profissional quando bem convém ao roteiro, uma edição que nos priva de explicações de extrema relevância na história e um dos piores finais de filme que já vi. O diretor opta por utilizar o desconforto nas relações pessoais dos personagens como ferramenta para aprofundar as cenas, mas falha, utilizando o recurso de formas repetidas até que se perca todo o interesse naquele tipo de narrativa.
Arruinando os próprios pequenos acertos, “Próxima Parada: Apocalipse” sabota qualquer oportunidade de explorar uma trama psicológica, buscando soluções sempre precipitadas e fáceis demais para qualquer filme que deseje ser levado a sério. Forest Whitaker, interpretando um estereótipo de sogro ciumento, rabugento e com um passado desconhecido, não consegue reparar o estrago, mas claramente se destaca sobre o protagonista Theo James.
Em março, quando escrevi a crítica para o reboot de “Tomb Raider”, disse que o filme surgia como forte candidato a figurar nas listas de piores do ano. Nove meses depois, a profecia se cumpriu. A nova aventura de Lara Croft é comparável ao folclórico “Esquadrão Suicida“: personagens mais artificiais que grama sintética de parquinho e uma história mais ofensiva que fazer café fervendo o pó junto com a água.
Por mais que filmes adaptados de jogos nunca tenham dado exatamente certo (vide “Resident Evil“, “Warcraft” e “Assassin’s Creed“), “Tomb Raider” merece arder no mármore do Inferno Cinéfilo pelo crime de desperdiçar Alicia Vikander. A ganhadora de Oscar se esforça, mas não parece mais que um avatar, pulando de um avião numa cachoeira para pegar um cipó e resolvendo quebra-cabeças para abrir portas. Um videogame jogado por outra pessoa.
A saga “Harry Potter” é um marco inquestionável. Tanto na literatura quanto no cinema, a saga definiu uma geração de fãs. Infelizmente, a saga spin-off “Animais Fantásticos” não segue com o mesmo nível de qualidade.
Se ao longo dos 8 filmes originais, pudemos contemplar uma riqueza de temas e perspectivas artísticas díspares que muito enriqueceram a série, com “Animais Fantásticos” temos a pasteurização total do universo mágico. “Os Crimes de Grindelwald” é o ápice desse feito. Um filme trapaceiro que simplesmente não acontece. É como se Newt Scamander e os demais personagens estivessem presos a um primeiro ato que jamais se encerra. Por rejeitar o cinema ao máximo que pode, “Os Crimes de Grindelwald” acaba sendo um gigantesco trailer.